Uma amiga convida para uma viagem de última hora, de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro. São cerca de 450 quilômetros de distância, seis horas na estrada. E não vamos sós. O pai e uma amiga dele, dos tempos da universidade, também. Aceito.
Com mais idade, mas mais jovem do que eu, a dupla quer curtir praia, samba e restaurantes. Sem sinal de internet no telefone, nos rendemos ao que as pessoas faziam antes da era digital: conversamos. Me contagiaram, dei gargalhadas olhando para o lado de fora da janela, me surpreendi com o que enxerguei no reflexo do vidro.
Poucos meses depois, inusitadamente, aceito outra carona — desta vez de Belo Horizonte para Santa Rita do Sapucaí, uma cidade do Sul de Minas com cerca de 45 mil habitantes que nos próximos dias receberia outros 30 mil em razão do Hacktown, um dos principais festivais de inovação e criatividade do país.
Mais 400 e poucos quilômetros e seis horas de escuta. Também tive dúvida em aceitar, mas de novo gostei do que vivi. No banco de trás, junto comigo, conheci aquele que foi o único passageiro sobrevivente do acidente aéreo da Varig, perto de Paris, em 1973.
No meio do caminho de ambos trajetos, além de um único estilo musical, uma mesma reflexão de vida. Falamos sobre pecados, incluindo os considerados capitais, incrustados em nosso inconsciente para o bem e para o mal. Você se lembra deles? Posso te ajudar: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba.
E adianto que o problema não é tê-los, mas sim a forma que lidamos com cada um deles. Além de serem ferramentas para entender quem somos, é importante refletir sobre como podem afetar a nossa vida, até mesmo a financeira, hoje e amanhã.
Resumidamente, a gula seria um desejo insaciável, seja por comida ou bebida, ou apenas querer consumir sempre mais e mais. A ganância, ou avareza, se resumiria ao apego excessivo e descontrolado ao se ter tudo o que se quer. A luxúria se traduz como o desejo passional e egoísta por todo prazer sensual e material, um apego aos prazeres carnais e terrenos.
A ira é considerada o sentimento humano de externar a raiva e o ódio por alguma coisa ou alguém, o forte desejo de causar mal ao outro. A inveja seria o desejo exagerado por posses, status, habilidades e tudo o mais que outra pessoa tem e consegue. Já a preguiça é vista como uma falta de empenho. O orgulho está associado à arrogância, soberba, presunção e futilidade, tem a ver com o ego.
A lista final dos sete pecados capitais, datada do século IV, sofreu releituras, de teólogos ao Papa Bento XVI, passando por Dante Alighieri, que teria popularizado o conceito na obra-prima A Divina Comédia.
Fato é que todos eles nos habitam — seja na vida pessoal, na profissional ou na forma como lidamos com o dinheiro. Ou será que ninguém nunca comprou algo de que não precisava? Esbanjou o que não tinha? Se recusou a emprestar um valor que não faria diferença? Somos todos humanos, afinal.
Depois de duas viagens, ida e volta, somando mais de 1,6 mil quilômetros e 24 horas de ouvidos abertos na estrada, sem distrações, faço a minha própria releitura dessa lista de “pecados”. Diante da exaustão de corpos provocada pela sociedade da produtividade, esse tempo, digamos, ocioso, nos leva para dentro de nós mesmos.
É quando as releituras do passado acontecem, quando instintos básicos e vícios emocionais são identificados. Muitos dos nossos impulsos podem nos levar a decisões equivocadas, sejam elas relacionadas a dinheiro ou não.
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