Carnaval seguro: 8 dicas para aproveitar a folia sem riscos
Ter uma rede de apoio, conhecer os canais de denúncia e escolher locais estratégicos torna a diversão dos bloquinhos ainda mais intensa
Carnaval é época de mergulhar em fantasias, sair procurando os melhores bloquinhos, flertar e se divertir bastante. Mas claro que, para fazer tudo isso, precisamos colocar a nossa segurança em primeiro lugar (especialmente quando consideramos que o período traz uma forte incidência de assédio e importunação sexual contra as mulheres). Por mais absurdo que seja, ainda vivemos tempos em que simples ações como ir para a folia desacompanhada, ou em determinados ambientes, continua sendo um fator de risco.
Por isso, CLAUDIA bateu um papo com Izabella Borges, advogada e escritora, e Amanda Kamanchek, diretora do filme Chega de Fiu Fiu, que trazem dicas de como se divertir de maneira segura, e sem dores de cabeça, durante o feriado. Veja as dicas a seguir:
1. Tenha uma rede de apoio
Amanda Kamanchek afirma que a principal dica é contar com uma rede de apoio. Portanto, priorize ir aos bloquinhos com amigos de confiança, evitando ir sozinha. “Isso é o que realmente faz a diferença, sobretudo em lugares que aumentam a nossa vulnerabilidade. E aí, se alguém te abordar de forma invasiva, você pode levantar a mão e já acionar aquelas pessoas que te conhecem, que estão ali de olho.”
“Vale também combinar uma senha entre amigas que sinalize um pedido de ajuda de forma discreta para situações de perigo”, indica Izabella Borges.
2. Escolha lugares estratégicos
Izabella explica que, ao chegarmos nas festas ou bloquinhos, é interessante mapear pontos de apoio. Ou seja, dê preferência para locais que estejam próximos à viaturas ou policiais, caso seja necessário ter esse suporte.
3. Esteja atenta aos sinais que seu corpo dá
Amanda clarifica que a importunação sexual se configura como aquele desejo do outro que, ao ser verbalizado, nos gera um desconforto. “É uma questão subjetiva, pois apenas nós podemos determinar o que está sendo bom ou ruim, se queremos corresponder ao flerte ou não. Fomos muito ensinadas a sempre concordar com tudo, não decepcionar os homens e apenas sorrir. Portanto, entendo que essa seja uma dificuldade maior para as mulheres, pois ninguém nos ensinou a dizer não”, pontua.
A diretora afirma que a consequência direta disso é nos enxergarmos em situações humilhantes e constrangedoras, que não queríamos estar vivendo. “É essencial que olhemos para o nosso desconforto. Se estamos tentando nos esquivar, por medo de uma violência ou que a pessoa nos obrigue a fazer algo, o cenário já está completamente alarmante”, esclarece.
Além de tudo isso, o corpo também sente profundamente os impactos de uma importunação sexual: “Ficamos encolhidas devido ao desgosto. O corpo e a mente rejeitam profundamente aquela insistência do outro. Novamente, não ignore isso”, reitera Kamanchek.
4. Canais de apoio
Há dois canais de apoio essenciais para mulheres que possam vir a experimentar ou presenciar situações de abuso. Um deles, segundo Izabella Borges, é o 180, central de atendimento à mulher: “É possível acioná-la para o registro e encaminhamento de denúncias. Além disso, a central também é útil para a obtenção de informações sobre os direitos da mulher em situação de violência, em funcionamento 24h por dia.”
No entanto, a advogada afirma que, em parte dos casos, o 190 é mais eficiente por ser um canal para a comunicação de crimes e pedidos de ajuda da Polícia Militar. “Lembre-se: se o crime está acontecendo ou acabou de acontecer, é necessária a intervenção imediata da polícia. Por isso falo que o 190 pode ser mais recomendável.”
Amanda Kamanchek complementa revelando que é possível utilizar fotos do suspeito para comprovar o crime. “Não é muito seguro tentar fazer registros no momento em que acontece, mas este é um direito das vítimas previsto por lei. Então, se você conseguir coletar provas, ótimo. Caso contrário, o melhor é buscar um agente e informá-lo sobre a vivência do assédio. Intensifico que nomear a situação como ‘importunação sexual’ é muito importante para termos um encaminhamento apropriado para uma delegacia ou órgão de saúde pública.”
5. Cuidado com bebidas e copos de estranhos
Essa é clássica: jamais beba em copos de outras pessoas (nem mesmo de amigas), pois estes podem representar um risco. “O ‘Boa Noite Cinderela’ é uma droga muito manejada nesta época do ano, que apenas potencializa a situação de vulnerabilidade de quem a ingere através da perda dos sentidos, baixa censura e comportamentos incontroláveis”, diz Izabella Borges.
A especialista aconselha estar sempre atenta a quem prepara as nossas bebidas, evitando ao máximo pedir para alguém retirar o drinque para você. “Se notar qualquer sensação estranha, converse com suas amigas e busque ajuda imediata”, informa a advogada.
6. Volta dos bloquinhos
Após uma tarde cansativa de diversão e bebedeira, é necessário ser precavida com os aplicativos de transporte. Borges nos aconselha a evitar utilizar sozinha e, caso não exista outra opção, compartilhe a sua localização com amigas ou pessoas de confiança.
“Acho interessante criar um grupo de amigas para que todas possam compartilhar informações sobre deslocamentos e avisar quando chegam e saem de locais. Além disso, simular estar em uma ligação dentro do carro, durante o trajeto, também é uma boa saída”, avisa Izabella.
Priorizar aplicativos equipados com câmeras de segurança, que registrem as viagens e possuam canal de ajuda, também é extremamente aconselhável.
7. Projeto “Justiceiras”
Para além dos canais governamentais de apoio, Amanda indica recorrer ao projeto “Justiceiras” (@justiceirasoficial) em casos de assédio sexual. A ONG oferece atendimento multidisciplinar para o combate da violência contra à mulher, seja ele jurídico, médico, psicológico ou socioassistencial. “Essa dica é para aqueles casos em que a situação aconteceu. Tenha mente o que é preventivo e o que é para o momento da importunação.”
8. Tente não desistir de seus planos
Por mais ameaçador que pareça, Amanda Kamanchek nos aconselha a não desistir de ir aos bloquinhos diante das ameaças. “Alguns blocos de Carnaval já estão adotando essa consciência e começando a se responsabilizar em situações de assédio. Há muitas campanhas rolando, e quanto mais pessoas se conscientizam, mais fácil e agradável a situação se torna”, declara.
A diretora de cinema reafirma: “Não é porque usamos roupa x ou y, ou nos comportamos de determinadas maneiras, que podemos sofrer violências. Todos têm o direito de curtir o momento. E eu acho que, lentamente, a cultura vem mudando para que quem se sente vulnerável esteja mais confiante e seguro para ocupar esse espaço.”
Por fim, Kamanchek afirma que o Carnaval não deixa de ser um movimento político: “Os músicos, os organizadores, os participantes, todos são partes de uma comunidade naquele momento. Portanto, o que aceitamos ou não nesta festa faz parte de como queremos ser vistos neste mundo. Carnaval demanda política de existência, e as regras ali vão mudando conforme a cultura se transforma. E para que isso seja possível, precisamos ocupar esse espaço, tanto em tom de enfrentamento quanto de divertimento”, conclui.