Em mais um Setembro Amarelo, discutir sobre a sustentabilidade e a sensibilidade humana nunca foi tão importante e necessário no combate e na prevenção ao suícidio. A cada ano que passa, excepcionalmente após a pandemia de COVID-19, visualizamos a necessidade de compreender o nosso desenvolvimento mental e o nosso sentimento de pertencimento em um mundo tão complexo, que nos consome o tempo todo e nos faz criar perspectivas inalcançáveis de satisfação, principalmente relacionadas ao nosso profissional.
Questionar e começar a entender o papel da resiliência quando o assunto é saúde mental é uma das missões que o Instituto Feliciência vem desenvolvendo há exatos 8 anos, mudando perspectivas através da educação corporativa, desmistificando e democratizando a neurociência dentro do âmbito profissional. “As empresas brasileiras (pequenas, médias e grandes) estão buscando cada vez mais por informação e aprendizagem, a fim de habilitar mais profissionais nisso que chamo de primeira curva do conhecimento sobre a questão da centralidade humana em relação à saúde do trabalhador, principalmente a saúde mental, que é o nosso maior desafio”, conta a Docente e Pesquisadora em Psicologia, Carla Furtado, que também está à frente da direção do Instituto Feliciência.
Ela também explica que para este panorama, divulgado neste mês de setembro sobre o último ano, a informação e o conhecimento seguem sendo armas poderosíssimas na prevenção e conscientização sobre questões de vulnerabilidade mental. “É muito importante entendermos que começamos a mudar esse comportamento de acharmos saúde mental um tabu. E foi através da cognição e da informação que conseguimos visualizar as consequências do quiet quitting (que em uma tradução literal significa “desistindo silenciosamente”) no Brasil, que facilita a renúncia silenciosa do trabalho, o desengajamento do trabalhador e também o sofrimento de suas lideranças”, exemplifica a docente.
Este cenário fica ainda mais assustador quando aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros se encontram em uma grande situação de exaustão no trabalho devido aos ciclos intensos de estresse não interrompidos, como revelam os estudos feitos pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho. É o famoso burnout.
Carla exemplifica que a construção de um ambiente mais acolhedor é o que poderá mudar a perspectiva desgastada do profissional afetado, principalmente sobre o que diz respeito ao acolhimento que o empregador deve oferecer para transformar os ambientes em lugares seguros. “É preciso agir de uma maneira mais aprofundada, não só realizando palestras ou workshops, porque nada disso fará a diferença nessas organizações. É preciso um trabalho de longo prazo e em comunidade. Assim como formam estratégias de vendas mais desacerbadas, precisamos criar estratégias que não desgastem ou comprometam o psicológico das pessoas. Precisamos comprometer e responsabilizar esta alta gestão pela cultura que causa muito sofrimento e sobrecarga na população trabalhadora”, declara.
E como criar medidas e ambientes menos tóxicos atrelados a uma gestão consciente de sua equipe, oferecendo confiança e autoestima inclusive para seus líderes? Carla explica que devemos tomar cuidado ao tentarmos explicar fenômenos tão complexos como este em frases curtas, ou relacioná-los aos mitos geracionais. “Vamos pensar que pessoas passaram por mais de dois anos e meio completamente isoladas ou distantes socialmente. Passaram por transformações que ocorreram dentro de casa e em um momento de evolução e crescimento social. Isso nos mostra que as crianças e adolescentes estão sofrendo bastante e alguns estudos vão relacionar esse sofrimento psíquico ao consumo de telas. Quanto maior o consumo de telas, maior os riscos mentais e comportamentais, especialmente de transtornos de ansiedades”, acrescenta Carla, que conclui o pensamento não relacionando esse alto índice de estresse ao choque geracional.
“Esta geração está nascendo e crescendo em um momento de transição muito profunda, a transição está em várias esferas da sociedade. Precisamos enfatizar que estes mesmos jovens serão 60% da força de trabalho em 2030. Esta é uma área bastante complexa, mas eu não acredito que a gente possa explicar todos esses comportamentos por um choque geracional. Pode existir sim, mas, às vezes, podemos estar exaltando apenas um ponto de vista isolado”, conclui.
A mensagem que deixamos para este próximo ano é de muito autoconhecimento. Seja no trabalho ou fora dele, precisamos refletir mais sobre os limites, que não precisamos forçá-los, e sobre a necessidade de exaltarmos a coletividade humana, pois em nossa principal essência nenhum tipo de interação social deve ser enfrentada sozinha.
Para entender um pouco mais sobre os estudos e leituras de grupos e perspectivas da psicanálise sobre o panorama da saúde mental brasileira neste último ano, acesse o site do Instituto Feliciência, www.feliciencia.com.br. Por lá você encontra o conteúdo completo para debruçar-se sobre uma rica pesquisa das perspectivas de interação e saúde psíquica mental no Brasil.
Caso precise de ajuda, entre em contato pelo número 188 e converse com um dos voluntários do Centro de Valorização da Vida. Sinta-se à vontade neste canal seguro para discutir sobre qualquer assunto. Para mais informações sobre o Setembro Amarelo, acesse também o site do Ministério da Saúde, www.gov.br/saude/pt-br. Lembre-se, você não está sozinho.