Ela foi diagnostica com câncer de mama metastático, sua irmã também
Depois de descobrir um câncer que havia se espalhado para outros órgãos, Monize viu sua irmã Maira receber o mesmo diagnóstico
Maira sorri para a vida, fala com calma e prefere o sereno. Monize é quem conta piada, gosta mais da conversa e tem pressa do que não viveu. Maira é isso, Monize é aquilo. São dois universos distintos unidos por um laço comum: nasceram dos mesmos pais.
Apesar das diferenças, desde cedo viviam grudadas. Dividiram brincadeiras, segredos, roupas, penteados, sonhos e conquistas. Foi essa união, aliás, que deu apoio a Monize quando ela descobriu um câncer de mama e, tempos mais tarde, amparou Maira após a descoberta da mesma doença.
Era agosto de 2021 e Monize Carla Rodrigues decidiu procurar ajuda médica para entender a causa das fortes dores nas costas que a acompanhavam desde março. Os exames revelaram um câncer de mama em estágio grave e metastático, quando o tumor já se espalhou para outros órgãos. Dois meses depois, iniciou os tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Mais cinco passaram e ela entrou em remissão.
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“A médica dela alertou: ‘você tem irmã? Peça para fazer o exame porque pode ser genético’. Para nossa surpresa, eu também tinha um câncer de mama”, diz Maira Fernanda Rodrigues. Ela não sentia dores nem identificava nódulos nos exames de toque, mas a biópsia detectou um carcinoma em sua mama esquerda. “Entender que minha irmã passaria por tudo aquilo foi pior do que viver as sequelas do meu tratamento”, lembra Monize.
Com a descoberta, Maira passou por uma cirurgia de mama. Pouco tempo depois, começou a sentir febre e sintomas de gripe. Achou que não fosse nada grave. Os exames, porém, revelaram que o câncer havia metastatizado, atingindo fígado, ossos e pâncreas. “Perguntava por que eu estava passando por isso. Depois, entendi: por que não eu? Não sou melhor que ninguém”, recorda Maira.
A doença atacou os dois organismos de forma semelhante, deixando tumores em locais parecidos. Elas passaram por tratamentos, viram o cabelo cair, testemunharam a autoestima solapar, encontraram apoio na fé e nos familiares, enfrentaram dias tristes, outros felizes, perderam amigos no caminho, mas, sobretudo, permaneceram otimistas.
Quando o câncer entrou em remissão, Monize começou o tratamento com o bloqueador hormonal. Aos 33 anos, enfrenta a menopausa induzida e não pode ter filhos. “Nunca tive o sonho de ser mãe, mas é diferente não querer de não poder.”
Maira precisou lidar com o problema oposto: seu filho tinha seis anos na época em que recebeu o diagnóstico. “Pensava ‘sou mãe e preciso criar meu filho’.” Até hoje, Maira já fez 39 radioterapias e segue com a quimioterapia. “É exaustivo, mas não podemos deixar a doença controlar nossa vida. Se nos entregarmos ao desespero, a angústia nos destrói.”
Foi com essa crença firme que as duas irmãs decidiram levar sua experiência para as redes sociais. Criaram o perfil @oncologiacomamor e lá compartilham suas jornadas. “Não queremos romantizar o câncer, mas mostrar que é possível ter uma vida normal dentro das nossas limitações”, diz Monize.
A missão não é restrita às pessoas que recebem o diagnóstico. Em tempos nos quais o que se contempla envelhece em um scroll, mostrar o valor do agora faz a diferença.
“Quando enfrentamos uma doença, reorganizamos as nossas prioridades. Colocamos a família, o amor e os momentos juntos em primeiro lugar. Acordar e conseguir caminhar sem dor é uma vitória; tomar café com a família, estando bem, é outra. A doença nos mostra o verdadeiro valor das coisas”, completa Maira.
Isso não significa viver sempre feliz. São altos e baixos. “Você vê muitas pessoas conhecidas do meio oncológico morrendo e se pergunta se será a próxima. É preciso manter os pés no chão e viver um dia de cada vez”, afirma ela. Apesar dos desafios, elas seguem transformando a vida de outras pessoas. Não por acaso, dizem sempre que possível: “O câncer não é uma sentença de morte, existe muita vida depois dele”.
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