Oi, meu nome é Daniele, tenho 41 anos e cabulo a educação física desde criança. A primeira vez que me lembro de ter dado um migué pra fugir das aulas foi na segunda série – o que hoje seria o 3º ano do Ensino Fundamental. Eu estudava num colégio chamado “Crie”. De lá a minha única boa lembrança é do pé de pitanga em que subia e lá ficava até minha mãe chegar – quase sempre depois que todas as outras crianças já tinham ido embora. Considerando que pulei a primeira série, passando do antigo ‘pré’ direto para o 2º ano, isso significa que corro das atividades físicas (tentando não correr) desde praticamente… sempre.
Até hoje sonho que estou no limite do número de faltas permitidas, correndo o risco de repetir de ano em educação física! Algo que de fato me assombrava. Não aconteceu, mas o medo do vexame monumental em meu histórico escolar foi constante. Nos sonhos, estou sempre aflita, perdendo mais uma aula, por desejo, preguiça ou atraso. Ou ainda por falta de uniforme. Na escola em que passei a estudar, entre os 9 e os 17 anos, o uniforme não era obrigatório, e era usado apenas nas aulas de educação física. Nos trocávamos no vestiário antes das aulas: shorts vermelho de helanca e camiseta branca, ambos com o emblema da escola bordado, meias e tênis brancos – não, não podia ter nem sequer um mísero desenho.
O combo era perfeito para dar errado para mim. Partia da minha falta de motivação ao esporte, originada por um tipo de preguiça misturada a ausência de competitividade, e consequentemente, baixa (quase zero) habilidade ou desenvoltura técnica. Ah! Tinha também a vergonha, lógico! Eu detestava me trocar na frente das outras meninas. Sentia vergonha do corpo, e da falta de corpo. E também havia algo, que até então eu desconhecia, mas que hoje faz todo o sentido: Marte em Touro. Autoconhecimento astrológico é tudo.
O fato é que de uma leve torção no tornozelo, ao cair do trepa-trepa do play, aos 8 anos, passei a estratégias mais ousadas, como “dores no joelho”, que só não me restringiam à prática do sapateado, que eu amava! Tive também, um providencial diagnóstico de patelas convergentes e um atestado médico, bastante generoso, por assim dizer, dado pelo pai de um amigo, que me livrou das atividades esportivas no Ensino Médio.
Se me chamassem para jogar taco, eu ia. Ainda que com a sensação de que afundaria minha dupla, e até conseguia me divertir. Mas se me convidassem para peladas, partidas de vôlei ou raquetinha (que há quem chame de frescobol), eu só ía se fosse obrigada. Meu maior pesadelo eram as aulas de basquete, disparado. Gostava mesmo de jogar truco, assistir futebol na arquibancada e torcer para seleção de vôlei nas Olimpíadas pela TV. Curti as vitórias do Guga, os jogos épicos do Meligeni, e as Copas do Mundo de Futebol, invariavelmente, do melhor lugar: o sofá, que era pra poder comentar, ver replay e xingar o Galvão.
Aos 41, embora faça graça, não me orgulho dessa rebeldia. E ainda que tenha muitos argumentos para justificar minha predileção pelas artes (ou basicamente qualquer outra atividade) em detrimento aos esportes, vivo hoje uma espécie de revolução interior, por causa da recente descoberta da endorfina na minha vida. Pasmem, incrédulas como eu, ela – a endorfina – existe. E não é que tem me feito companhia e proporcionado picos de bem estar, regados a serotoninas e dopaminas?
Diante de tal feito, dou o nome do Santo. Ou melhor, da Santa. E já engato proposta ao Papa Francisco para a imediata canonização de tal alma boa, que passará, então, a responder oficialmente por: Nossa Senhora ‘Carol Brasil’ da Gávea – mulher, mãe, carioca e amiga, que de quebra é excelente profissional de educação física. Sigo sua “novena”, conhecida por Balance Class, há cerca de um ano e meio – com infinitas desistências e retomadas (de minha parte, obviamente), sem que ela jamais tenha largado a minha mão.
Entrei para o universo dos exercícios funcionais, alongamentos, pesos e minibands, educativos para corrida e mobilidade – uma mistura altamente criativa de ginástica, balé, pilates, as melhores playlists, e oráculos. Fala sério!? Transpiração e inspiração, combinadas com arte e suor, e uma comunidade de mulheres! Do jeitinho que eu gosto! Finalmente reconheço, ou melhor sinto, o valor inestimável das pequenas vitórias cotidianas que o movimento trouxe para a minha vida. E dou testemunho: milagres acontecem.