O que não faltam são dúvidas acerca do estimulante feminino: será que realmente funciona? Quais são os tipos disponíveis no mercado? É possível usá-lo durante a menopausa? Pensando em respondê-las de uma vez por todas, entrevistamos três especialistas: Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, Dani Fontinele, terapeuta sexual e membro da ABRASEX (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual), e Bárbara Bastos, sexóloga clínica. Confira:
Para que serve o estimulante feminino
De acordo com Carlos Moraes, os estimulantes femininos são produtos, muitas vezes fitoterápicos e em formato de cápsulas, que prometem potencializar a libido e a vontade de ter relações sexuais.
Estimulante feminino funciona?
Agora, a questão de milhões: o tratamento através dos estimulantes é realmente eficaz? Para os três especialistas entrevistados, a resposta é claramente negativa. “Até hoje, não inventaram uma droga capaz de melhorar ou criar o desejo feminino. Existem dois tratamentos mais conhecidos nos Estados Unidos, que foram liberados pelo FDA [U.S. Food and Drug Administration], mas possuem, além de baixa eficácia, inúmeros efeitos colaterais”, clarifica Dani Fontinele.
Todavia, isso não significa que os estimulantes comercializados em território nacional não funcionem para absolutamente nada. “Não existem quaisquer estudos científicos que comprovem o sucesso destes produtos na hora de potencializar o desejo. Contudo, os medicamentos disponíveis atualmente [‘Ginseng’, ‘Ginkgo Biloba’ e ‘Maca Peruana’], possuem propriedades que acentuam a energia e a disposição das pessoas. Estes, sem sombra de dúvidas, são componentes importantes para o sexo”, esclarece a terapeuta sexual.
Sendo assim, se o indivíduo estiver em uma época muito cansativa e estressante, o estimulante pode fornecer uma dose extra de ânimo. Todavia, Fontinele reitera que essa disposição contempla a vida de forma geral, não apenas a área sexual. “Se o seu problema for apenas o cansaço, pode ser benéfico. Mas isso definitivamente não significa que o remédio plantou o desejo em você”, afirma.
Ela também levanta o poder do efeito placebo, que pode fazer muitos acreditarem que estão com uma maior libido apenas por estarem tomando a substância.
Tipos de estimulante sexual
Existem inúmeros estimulantes disponíveis no mercado, contudo, o ‘Ginseng’, o ‘Ginkgo Biloba’ e a ‘Maca Peruana’ são os mais famosos. Dani Fontinele revela o que sabemos (até o momento) sobre cada um deles:
Ginseng
Segundo a terapeuta, o ‘Ginseng’ é o estimulante que possui mais dados de pesquisa. Entretanto, a maior parte das análises são voltadas à questões masculinas, especialmente a disfunção erétil. ”Ele é mais limitado para as mulheres. Temos conhecimento de alguns benefícios para o período da menopausa, pois ele ajuda a melhorar a excitação [que reitero, é diferente do desejo]. Neste caso, a paciente já sentiu a vontade, e o estimulante entra para potencializar a circulação sanguínea na região pélvica, trazendo mais lubrificação, por exemplo.”
Também há estudos sugerindo que o Ginseng reduz o estresse, o que, de forma indireta, facilita o surgimento da libido.
Ginkgo Biloba
A especialista pontua que há estudos promissores associando o consumo de ‘Ginkgo Biloba’ com uma diminuição nos efeitos colaterais provocados por antidepressivos e ansiolíticos. “Essas medicações costumam retardar o orgasmo, diminuindo o prazer das relações sexuais. Sendo assim, algumas pesquisas da área deduzem que o ‘Ginkgo’ seja promissor na melhoria desse efeito nocivo específico. Além disso, ele também é vasodilatador, aumentando o fluxo sanguíneo da região pélvica.”
Maca Peruana
A maior parte dos estudos leva a crer, de acordo com Fontinele, que a ‘Maca Peruana’ ajuda a otimizar a fertilidade e reduz a osteoporose em mulheres na menopausa. “Agora, claro: todos os estudos que citei ainda precisam ser amplamente reforçados”, clarifica.
Estimulante feminino natural
De acordo com a terapeuta sexual, não existem métodos naturais ou caseiros capazes de criar ou potencializar a libido. Porém, existem ações que, sem dúvidas, melhoram a intensidade do desejo. São elas:
- Cuidar do sono
- Ter uma boa alimentação
- Praticar exercícios físicos
- Diminuir o estresse (na medida do possível)
“Existe comprovação científica de que não dormir bem, se alimentar mal, não se exercitar e viver uma vida de estresse são fatores que anulam o desejo sexual. Não há mulher que queira transar ao final do dia sem uma rotina saudável”, brinca.
Alimentos que agem como estimulantes femininos
Além dos remédios e tratamentos alternativos, alguns especialistas (e até mesmo influencers) vendem alguns alimentos como verdadeiros estimulantes femininos. Novamente, não há quaisquer pesquisas evidenciando tal afirmação. “O que pode trazer essa sensação é a própria consistência, temperatura do alimento ou você ter ouvido falar que tal alimento é afrodisíaco. Como sexóloga, recomendo que o melhor caminho é construir um bom relacionamento com a sua parceria, com um diálogo saudável e sincero, além de, claro, investir em seu autoconhecimento sexual”, acrescenta Bárbara Bastos.
Estimulante feminino na menopausa
A menopausa é um período delicado na vida das mulheres, pois traz a diminuição nos níveis de diversos hormônios — o que consequentemente acaba prejudicando a libido. “É nessa época que muitas sofrem com a síndrome geniturinária [que antigamente chamávamos de ‘atrofia genital], trazendo dor durante a relação. Portanto, antes de recorrer ao estimulante, o ideal é sempre procurar um médico, buscando um tratamento assertivo que pode ser tanto tópico quanto oral”, diz Carlos Moraes.
Há contraindicações ou efeitos colaterais?
O ginecologista declara que os efeitos colaterais dependerão da sensibilidade de cada paciente, realizando uma importante ressalva: “Continuamos nutrindo uma crença perigosa de que produtos naturais não fazem mal. Isso simplesmente não é verdade. Já presenciei situações com desfechos terríveis por conta de reações alérgicas a determinados produtos”, alerta.
Bárbara complementa: “É sempre válido fazer uma investigação nos exames com a ginecologista antes de começar o uso de qualquer medicação, até para poder ajustar outros aspectos que colaboram com a área do prazer sexual.”
A sexóloga também enumera os efeitos colaterais mais comuns aos estimulantes femininos: diminuição de sono, aumento da frequência cardíaca, diarreia, reações alérgicas, entre outras.
Estimulante feminino com efeito imediato: entenda por que é uma falácia
Dani levanta um ponto essencial: os fatores que influenciam o desejo feminino. “Se uma mulher sente dor na relação, dificilmente terá vontade de transar. Aliás, os fatores fisiológicos, que englobam a parte hormonal, são a menor parte do problema. Questões sociais, culturais, o contexto em que aquela mulher está inserida, o momento da relação e o relacionamento em si é o que realmente ditará se ela terá desejo ou não”, declara.
Ela finaliza lançando uma provocação: “Imagine um remédio que nos tire toda a culpa de uma educação sexual repressora, que nos faça parar de pensar que o sexo é sujo, feio ou uma obrigação matrimonial. Como faz para virar essa chavinha do desejo na mulher? No dia que alguém conseguir possibilitar isso com uma pílula, será a pessoa mais rica do planeta”, dispara.