Contos eróticos para ajudar a explorar a sexualidade feminina
Esse tipo de leitura ajuda na autodescoberta sexual e no prazer ao alimentar a criatividade e as fantasias, dizem especialistas
Já sabemos que os brinquedos eróticos são grandes aliados não apenas do prazer, mas do autoconhecimento e da autoestima corporal. No entanto, as palavras também pode carregar uma forte dose de erotismo e, há séculos, os bons e velhos contos eróticos mexem e remexem com a imaginação humana. Mesmo os textos mais clássicos, que sequer são categorizados como literatura erótica, contam com trechos claramente sexuais.
Exemplos disso são alguns fragmentos de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, Ulisses, de James Joyce, ou o épico Os Lusíadas, do português Luís Vaz de Camões. Desde as coleções de romances eróticos com nome de mulher (Bianca, Sabrina, Julia etc) vendidos em bancas de jornal até publicações mais recentes, como os 50 Tons de Cinza, essa literatura sempre foi uma aliada das mulheres na hora de quebrar tabus sobre o sexo. “A leituras desses conto ajuda no prazer feminino ao alimentar as fantasias sexuais, trazer novas possibilidades de vivências e experiências sexuais, explorando a criatividade. É uma forma de ampliar o leque de possibilidades acolhe as diferenças de corpos, prazeres e vivências”, diz Carolina Freitas, psicóloga e especialista em sexualidade.
Segundo ela, as narrativas nas quais as mulheres são, além de protagonistas, participativas na troca sexual, facilitam a conexão entre personagem e leitora e ajudam a trazer à tona os desejos e fantasias mais profundos. Para Bruna Lima, psicóloga e pós-graduada em sexualidade humana, os contos eróticos ajudam a naturalizar para o público feminino o contexto sexual que, histórica e culturalmente, é restrito aos homens. “Diferente do que acontece na pornografia, esses textos trazem situações e enredos próprios do desejo das mulheres, permitindo que, através da fantasia, elas se conectem com infinitas possibilidades e descubram o que as excita e provoca, ainda que sem efetivamente se expor às vivências narradas”, explica.
A masturbação, outro tabu que vem sendo cada vez mais desmitificado (felizmente), é uma prática de prazer que se beneficia desse tipo de leitura, como conta Bella Slanka, autora desse tipo de contos. “O estímulo da criatividade faz a gente se soltar mais, o que possibilita a descoberta de áreas erógenas e o entendimento de como cada uma gosta de ser tocada”, comenta. Quando escreve seus livros, Bella tenta causar uma provocação na leitura, colocando-a no lugar da personagem e incentivando-a a se enxergar como uma pessoa capaz de realizar as próprias fantasias. “Isso acontece comigo mesma. A cada conto que escrevo, percebo que as narrativas ajudam a me entender cada vez mais, entender o que me dá prazer e o que me deixa mais à vontade comigo mesma. É uma experiência que me conecta com o meu corpo, faz com que eu respeite meus limites”, diz.
A exploração da própria intimidade é outro trunfo possibilitado pela literatura erótica: a mulher explora sua sensualidade corporal e depois pode levar esse aprendizado para suas relações sexuais com mais autonomia. “A autoestima sexual é isso, a mulher se conhecer, sentir-se segura com seu corpo (independentemente de padrões sociais) e ir para o sexo em busca de ter e proporcionar prazer, sem neuras nem preocupações com performance”, explica Carolina Freitas.
“Os contos exploram a conexão entre as partes e suas descrições físicas, falando muito sobre diversidade, inclusive. Isso possibilita que algumas pessoas se reconheçam ali. Assim, através do personagem, se reflete sobre a própria vida e se buscam alternativas para potencializar não só o prazer, mas a autoestima”, acrescenta Bruna Lima.
A dois (ou mais) ou a sós?
As psicólogas coincidem em que os contos eróticos são ótimos para momentos de autodescoberta sexual e prazer a sós, proporcionando autonomia e autoestima para a leitora. “Uma mulher bem resolvida sexualmente tem autoestima elevada, pois sabe como gosta de transar e verbaliza isso para sua parceria, se sente segura e livre para fazer o que gosta na hora do sexo”, diz Bella. No entanto, quando lidos com outra ou outras pessoas, eles podem estimular as fantasias no aqui e agora, provocando novos tipos de excitação e prazer.
“O conto pode servir desde uma forma de autodescoberta como também um almanaque de experiências para o casal, oferecendo oportunidades para se inovar, seja se inspirando nas ações ou fazendo um roleplay com os personagens”, diz Bruna.
Para ajudar nesse exercício de autodescoberta e criatividade, listamos abaixo algumas leituras gostosas e picantes:
Delta de Vênus– Anaïs Nin
Prostitutas que satisfazem os mais estranhos desejos de seus clientes. Mulheres que se aventuram com desconhecidos para descobrir sua própria sexualidade. Triângulos amorosos e orgias. Modelos e artistas que se envolvem num misto de culto ao sexo e à beleza. Aristocratas excêntricos e homens que enlouquecem as mulheres. Esses são só alguns dos personagens dos contos eróticos de Delta de Vênus, escritos por Anaïs Nin nos anos 1940 sob encomenda de um misterioso cliente. A partir de R$ 44,90 na Amazon.
A Casa dos Budas Ditosos– João Ubaldo Ribeiro
Um clássico da literatura erótica brasileira, A Casa dos Budas Ditosos foi lançado originalmente em 1999 como parte da coleção Plenos Pecados. O romance é, na verdade, uma espécie de depoimento de CLB, uma mulher (não sabemos se real ou fictícia) de 68 anos, nascida na Bahia e residente no Rio de Janeiro, que jamais se furtou a viver (com todo o prazer e sem respingos de culpa) as infinitas possibilidades do sexo. As memórias de orgias, voyeurismo e sadismo dessa libertina são, nas palavras do próprio autor, um delicioso “olhar pela fechadura”. R$ 38,31 na Amazon.
Trópico de Câncer – Henry Miller
O relato autobiográfico e, ao mesmo tempo, ficcional de Henry Miller foi publicado em 1934, em Paris, e imediatamente proibido em todos os países de língua inglesa. Nele, o autor conta suas aventuras entre prostitutas, cafetões e artistas pobres quando ele chega a Paris depois de abandonar um casamento e uma carreira arruinados nos Estados Unidos. Na França, o momento é de libertação: a vida boêmia da capital convida a muitos prazeres, com dias e noites de erotismo e alegria. R$ 43,92 na Amazon.
A Vida Sexual de Catherine M. – Catherine Millet
História do Olho– Georges Bataille
Considerado a “expressão máxima do erotismo na literatura universal”, o texto de estreia de Georges Bataille conta as peripécias sexuais do jovem narrador e de sua amiga Simone: ambos vivem uma jornada de extravagâncias que envolvem sadismo, orgias e até loucura, culminando em um ato de transgressão. R$ 46,29 na Amazon.
Peça-me o Que Quiser – Megan Maxwell
CLIC – Milo Manara
Esse clássico do quadrinho europeu conta as aventuras de Claudia Christiani, uma fina e recatada dama da alta sociedade. Sexualmente reprimida, ela é vítima das artimanhas do doutor Fez, seu admirador secreto e criador de um aparelho capaz de encher de luxúria até mesmo a mais fria das criaturas. O simples clicar de um botão desperta em Claudia uma insaciável libido, para o assombro de todos à sua volta. Refém dessa invenção insólita, Claudia precisa enfrentar seus desejos mais íntimos toda vez que o aparelho é acionado. A coleção completa, com quatro volumes, está disponível por R$ 200 na Amazon.
A Filosofia na Alcova – Marquês de Sade
Outro clássico da literatura erótica, A Filosofia na Alcova é uma obra em forma de diálogos que trata da educação sexual de uma jovem, apresentando, além do erotismo, posições ideológicas que discutem ideias conservadores e as submissões de uma maneira geral. O romance se passa no quarto, onde a jovem Eugénie aprende as artes da libertinagem através do experiente Dolmancé e da senhora de Saint-Ange. R$ 51,06 na Amazon.
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