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Saber voar (e levar junto): um papo com Fernanda Ribeiro

CEO da Conta Black, ela transforma o mercado financeiro com a sua fintech que oferece produtos e serviços focados na população preta brasileira

Por Paola Carvalho
14 nov 2023, 08h17
CEO da Conta Black, Fernanda Ribeiro
CEO da Conta Black, Fernanda Ribeiro transforma o mercado financeiro com a sua fintech. (Colagens: Jessica Hradec/CLAUDIA)
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Ser caçula em uma casa de sete mulheres é ser criada em berço feminino. Fernanda Ribeiro, 38 anos, conta que foi empoderador e, ao mesmo tempo, desafiador. “Todas davam pitacos e eu queria ser dona das minhas próprias decisões”, afirmou.

Talvez por isso tenha acumulado experiências que a fizeram buscar sempre o novo e a se destacar no mercado de trabalho. Filha e irmã de funcionários públicos, ela pediu demissão de uma grande companhia para empreender e abriu mão da estabilidade financeira.

Cofundou e se tornou CEO da Conta Black, é presidente da Associação AfroBusiness, mentora na Black Rocks Startups e conselheira administrativa do Instituto C&A. Considerada uma liderança corporativa comprometida e inovadora, foi convidada para integrar um grupo de trabalho do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).

A história de Fernanda passa por aeroportos e reviravoltas. “Minha mãe me teve aos 47 anos. Como nasci com meus pais mais velhos, tive mais acesso à educação se comparado com as minhas irmãs, eles apostaram nisso e investiram muito em mim”, conta.

Seu pai, funcionário da Empresa brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), transformou a ida a aeroportos em passeios de família. Uma das paixões da sua infância era assistir pousos e decolagens de aeronaves.

“Minha família usava a criatividade para momentos lúdicos”, afirma. E foi ali que a menina desenhou o seu sonho: trabalhar com viagens e, mais do que isso, conhecer lugares e pessoas, e ouvir histórias. 

CEO da Conta Black, Fernanda Ribeiro
“As famílias pretas não foram ensinadas a poupar e formar patrimônio. E a perspectiva branca está desconectada da nossa realidade” (Colagens: Jessica Hradec/CLAUDIA)
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Fernanda formou-se em turismo e fez especialização em comunicação corporativa. Mas começou a trabalhar bem antes disso. Paulista e vivendo em São Paulo, buscou um emprego aos 15 anos para conquistar, de certa forma, a independência financeira.

“Embora meus pais provessem educação, eu queria dinheiro para comprar as minhas coisas e poder gerir as minhas escolhas”, diz. Assim, virou recepcionista em um salão de beleza. “Já era uma demonstração de rebeldia, que ainda se faz presente em minha personalidade”, analisa. 

A primeira assinatura na Carteira de Trabalho, anos depois, foi em uma empresa terceirizada de uma companhia aérea. “Eu, hackeadora do sistema imposto, planejei os passos para ser contratada pela própria empresa de aviação. E consegui”, recorda empolgada.

Assim, entrou para o quadro de funcionários da então Varig, uma das maiores do setor no Brasil, que fez o seu último voo em 2009, depois de um processo de recuperação judicial.

Antes da falência, contudo, Fernanda seguiu para outra grande companhia área brasileira, onde começou como analista júnior comercial e saiu como coordenadora sênior do setor de comunicação interna.    

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A maturidade conquistada a fez enxergar obstáculos a partir de outros pontos de vista. 

O cargo de coordenadora significava mais trabalho e não mais dinheiro, minhas promoções não foram formalizadas”, critica. Em um determinado dia, antes de uma viagem a trabalho, conta que teve uma sensação de infarto: falta de ar, dor no peito.

Como resultado, vieram exames, uma internação e o diagnóstico, na época, de estresse — o que hoje poderia ser burnout. “Eu tinha uma rotina de 14 a 18 horas de trabalho no dia. Mesmo internada, não parava de receber ligações do meu gestor. Eu achava que tinha que trabalhar mais e entregar mais para provar o que hoje sei que não precisava.” 

Ela não queria mais conviver com uma pressão tóxica que não contribuía em nada com o seu crescimento. Ali no hospital, Fernanda tomou a decisão de se programar financeiramente para um sabático, um tempo para cuidar de si mesma, viajar, estudar e redesenhar a carreira.

Aguentou por mais um ano, enquanto desembolava esse plano. “Foi a primeira vez que tive contato com educação financeira. Nesse período, cortei gastos, poupei, investi, fiz tudo”, diz. E, assim, em 2012, se sentiu confiante para pedir demissão. 

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CEO da Conta Black, Fernanda Ribeiro
“O que mais me dá orgulho é ver que consigo bancar as decisões e olhar para o futuro com confiança” (Colagens: Jessica Hradec/CLAUDIA)

Fez o que havia planejado, conheceu lugares e pessoas, ouviu histórias. Assim como na infância, entre pousos e decolagens, construiu novos sonhos. Fundou a ONG Afrobusiness com o objetivo de gerar emprego e renda para pessoas pretas.

“Quando comecei a conectá-las, me deparei com seus gaps, como falta de conhecimento e de experiências em diferentes áreas. Então, focamos em capacitar para potencializar os negócios”, conta.

A partir disso, ela e o publicitário Sérgio All cofundam, em 2017, a Conta Black. “Não oferecemos uma conta digital apenas, nos posicionamos como um hub de serviços financeiros e de consumo, focado em bancarizar e colaborar com outras demandas da população preta”, afirma.

“O empreendedor preto tem quatro vezes mais o crédito negado do que um branco nas mesmas condições nas instituições bancárias tradicionais. Por essa e outras limitações, a nossa visão está focada no black money, ou seja, fazer circular o dinheiro dentro da comunidade negra”, completa Fernanda. 

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Embora o seu contexto familiar fosse o da estabilidade proporcionada por concursos e carreiras no serviço público, ela não teve educação financeira. “As famílias pretas não foram ensinadas a poupar e formar patrimônio. E a perspectiva branca de entender a situação, a forma como enxergam o mundo, estão desconectadas da nossa realidade”, diz. 

Fernanda chama a atenção para uma pesquisa realizada pelo Data Favela: 5,8 milhões de domicílios em favelas com 17,9 milhões de moradores movimentam mais de R$ 200 bilhões ao ano. Desse total, 5,2 milhões de moradores já empreendem, mas apenas 37% possuem o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ).

Outros 6 milhões sonham ter um negócio próprio, e sete em cada dez pretendem abrir o empreendimento dentro da comunidade em que vivem. O levantamento também mostra que 6,5 milhões de pessoas pretendem comprar um imóvel e o principal sonho de quem mora em favela é ter uma casa própria (34%).

“Não podemos ignorar esses sonhos, precisamos achar mecanismos e estratégias para que sejam realizados de forma sustentável financeiramente”, destaca. 

Fernanda tenta realizar o seu sonho — e o de muitos outros — por meio da Conta Black, que tem hoje 49 mil clientes. Ela projeta duplicar esse número em 2024. A empresa pretende se tornar referência em serviços financeiros, oferecendo plataforma de educação financeira, serviços e produtos customizados para pessoas físicas e jurídicas de maneira ampla (considerando as especificidades de ONGs, motoboys, templos religiosos, entre outros), programas de fidelidade e telemedicina, marketplace, delivery, cartões de débito e crédito, carteira de investimentos, maquininha Black Pay, seguros, recarga de celular, além de ações via WhatsApp para abrir conta e realizar transferências. 

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Considerada uma fintech (startup da área financeira) e com o desejo de se tornar um banco futuramente, conta com três parcerias estratégicas: Amazon, Quintet e Mastercard.

Entre as especificidades da Conta Black, Fernanda traz alguns exemplos: quem cumpre os cursos consegue redução na taxa dos juros do microcrédito, o seguro residencial olha para a vulnerabilidade social, como o risco de incêndio e enchente, é possível investir a partir de R$ 10,00. 

O que mais me dá orgulho em minha jornada é ver que hoje eu consigo bancar as minhas próprias decisões e olhar para o futuro com confiança. Tenho sim uma rotina insana, não romantizo. Mas planejo me aposentar aos 45 anos, quando passarei a me dedicar à academia: entre o que eu aprendi na universidade e o que apliquei há uma disparidade”, afirma.

Ela está na linha de frente na transformação do sistema bancário brasileiro. E não vai parar por aí, o seu voo carrega muitos outros passageiros. 

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