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TEDx Amazônia: a urgência para mudar nossos rumos no planeta

Entre as múltiplas vozes em defesa da floresta, ativistas, cientistas e rezadores compartilham uma certeza: somos natureza

Por Helena Galante
16 jan 2024, 10h36
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  • Um útero. Representação do nascimento, repleto de raízes, frutos, animais, flores. Foi com essa obra de arte potente e feminina, criada pela ativista Moara Tupinambá e adicionada abaixo que a segunda edição do TEDx Amazônia recebeu cada palestrante no palco montado às margens do Rio Negro, em Manaus, no início do último mês de novembro.

    Arte de Moara Tupinambá
    Arte de Moara Tupinambá. (Moara Tupinambá/Divulgação)

    Com o tema “Onde as vozes se encontram”, o evento foi permeado de um senso de urgência que gritava alto. A fumaça das queimadas tomava o céu da cidade e os pulmões dos presentes, lembrando a cada inspiração que regenerar a floresta não é uma questão teórica, mas de sobrevivência humana.

    A ameaça à vida, na Amazônia, está longe de ser metafórica. Em 2010, no primeiro TEDx na região, o castanheiro e ambientalista Zé Claudio Ribeiro palestrou: “Eu posso estar aqui conversando com vocês e daqui a um mês vocês podem receber a notícia de que eu desapareci”.  Seis meses depois, ele e sua esposa Maria do Espírito Santo foram assassinados, em função de sua defesa da terra.

    Dona Nice do Babaçu
    “Quem não luta não serve pra viver! Sempre lutei. Aquilo que eu falo é bom pra você, é bom pra mim e é bom pra nós!”, Dona Nice do Babaçu, quebradora de coco babaçu. (TEDx Amazônia/Divulgação)
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    Passados treze anos, a irmã de Zé Claudio, Claudelice Silva dos Santos, foi quem abriu a programação, causando forte comoção no público. “Nós mulheres, que estamos na frente de muitos territórios, precisamos ser vistas e ouvidas”, afirmou a ativista ambiental e de direitos humanos que lidera uma campanha contra a extração ilegal de madeira para produção de carvão e pecuária em assentamentos na região de Praia-Alta Piranheira. 

    Filha do líder seringueiro Chico Mendes, morto por fazendeiros no interior do Acre em 1988, Angela Mendes fez uma convocatória  pelos povos e localidades ameaçados que não podem esperar mais. “A floresta só tem valor em pé”, relembrou ela.

    tedx amazonia angela mendes
    Angela Mendes, filha de Chico Mendes. (TEDx Amazônia/Divulgação)
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    Poderia ser uma colocação óbvia, não fosse a nossa ganância que vira combustível para o aquecimento global e outras consequências extremas, como o El Niño, que tem impulsionado megaincêndios na Amazônia.

    Entrevistada ao vivo por Rodrigo Cunha, organizador-licenciado do TEDx Amazônia, a Ministra do Meio Ambiente e da Mudança de Clima Marina Silva foi ainda mais enfática: “Precisamos entender que o que está acontecendo com a mudança de clima é uma guerra e às vezes parece imperceptível. É como se estivéssemos lançando mísseis o tempo todo na atmosfera. Estamos mudando grandes regularidades cósmicas e nós precisamos fazer um corredor humanitário para que as crianças possam ter um futuro”. 

    TEDx Amazônia 2024
    Defumação e grafismo feitos no palco: ações da artista Thaís Kokama e da pajé e curandeira Ayá Kukamíria (TEDx Amazônia 2024/Divulgação)
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    TEDx Amazônia 2024
    Defumação e grafismo feitos no palco: ações da artista Thaís Kokama e da pajé e curandeira Ayá Kukamíria (Divulgação/Divulgação)

    A inquietação “Mas como agir?” é inevitável e não tem resposta simples. Para o cientista e empreendedor Luis Fernando Laranja, ela passa por soluções práticas, como o plantio de árvores no meio das pastagens, para implantar uma pecuária regenerativa e de baixo carbono, mas não exclui uma perspectiva metafísica. “Está na hora de rezar também”, afirmou ele.

    Foi como uma forma de reza que a pajé Ayá Kukamíria realizou uma defumação sob olhares da plateia, afirmando: “A fumaça que a Amazônia precisa é ancestral. É a que mostra o caminho, a nossa espiritualidade. É a que nos conecta e nos traz vida”.

    Ao lado das filhas, a líder indígena Vanda Witoto fez outra prece: “Esse é um chamado para o caminho de volta, para nos reconhecermos como natureza”. A Mãe Terra está chamando e precisamos escutar. 

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