Um útero. Representação do nascimento, repleto de raízes, frutos, animais, flores. Foi com essa obra de arte potente e feminina, criada pela ativista Moara Tupinambá e adicionada abaixo que a segunda edição do TEDx Amazônia recebeu cada palestrante no palco montado às margens do Rio Negro, em Manaus, no início do último mês de novembro.
Com o tema “Onde as vozes se encontram”, o evento foi permeado de um senso de urgência que gritava alto. A fumaça das queimadas tomava o céu da cidade e os pulmões dos presentes, lembrando a cada inspiração que regenerar a floresta não é uma questão teórica, mas de sobrevivência humana.
A ameaça à vida, na Amazônia, está longe de ser metafórica. Em 2010, no primeiro TEDx na região, o castanheiro e ambientalista Zé Claudio Ribeiro palestrou: “Eu posso estar aqui conversando com vocês e daqui a um mês vocês podem receber a notícia de que eu desapareci”. Seis meses depois, ele e sua esposa Maria do Espírito Santo foram assassinados, em função de sua defesa da terra.
Passados treze anos, a irmã de Zé Claudio, Claudelice Silva dos Santos, foi quem abriu a programação, causando forte comoção no público. “Nós mulheres, que estamos na frente de muitos territórios, precisamos ser vistas e ouvidas”, afirmou a ativista ambiental e de direitos humanos que lidera uma campanha contra a extração ilegal de madeira para produção de carvão e pecuária em assentamentos na região de Praia-Alta Piranheira.
Filha do líder seringueiro Chico Mendes, morto por fazendeiros no interior do Acre em 1988, Angela Mendes fez uma convocatória pelos povos e localidades ameaçados que não podem esperar mais. “A floresta só tem valor em pé”, relembrou ela.
Poderia ser uma colocação óbvia, não fosse a nossa ganância que vira combustível para o aquecimento global e outras consequências extremas, como o El Niño, que tem impulsionado megaincêndios na Amazônia.
Entrevistada ao vivo por Rodrigo Cunha, organizador-licenciado do TEDx Amazônia, a Ministra do Meio Ambiente e da Mudança de Clima Marina Silva foi ainda mais enfática: “Precisamos entender que o que está acontecendo com a mudança de clima é uma guerra e às vezes parece imperceptível. É como se estivéssemos lançando mísseis o tempo todo na atmosfera. Estamos mudando grandes regularidades cósmicas e nós precisamos fazer um corredor humanitário para que as crianças possam ter um futuro”.
A inquietação “Mas como agir?” é inevitável e não tem resposta simples. Para o cientista e empreendedor Luis Fernando Laranja, ela passa por soluções práticas, como o plantio de árvores no meio das pastagens, para implantar uma pecuária regenerativa e de baixo carbono, mas não exclui uma perspectiva metafísica. “Está na hora de rezar também”, afirmou ele.
Foi como uma forma de reza que a pajé Ayá Kukamíria realizou uma defumação sob olhares da plateia, afirmando: “A fumaça que a Amazônia precisa é ancestral. É a que mostra o caminho, a nossa espiritualidade. É a que nos conecta e nos traz vida”.
Ao lado das filhas, a líder indígena Vanda Witoto fez outra prece: “Esse é um chamado para o caminho de volta, para nos reconhecermos como natureza”. A Mãe Terra está chamando e precisamos escutar.