Imagine a seguinte situação: você passou meses planejando seu casamento, cuidando de cada detalhe, certificando-se de que tudo não fosse menos que perfeito. Chega o grande dia e — ufa! — tudo nos conformes. A festa inteira saiu como planejado e a lua de mel foi ainda melhor. Mas, apesar de tudo, algo lhe incomoda e você não consegue se sentir completamente feliz.
Mais que uma corriqueira insatisfação, esse sentimento de infelicidade em um momento que tinha tudo para ser dos mais memoráveis é frequente em mulheres recém-casadas e tem até nome: depressão pós-casamento.
“Esse termo foi cunhado inicialmente na mídia para retratar sentimentos como tristeza, solidão, desapontamento e falta de propósito, ocorridos logo após o casamento”, explica a psicóloga e terapeuta de casais Angélica Paula Neumann.
A depressão pós-casamento atinge principalmente mulheres e é um campo com carência de estudos. Ainda não há certeza sobre o que a causa, mas um trabalho realizado em 2016 pelas pesquisadoras Laura Stafford e Allison Scott, da Universidade de Bowling Green State, identificou três fatores relacionados ao que chamaram de “blue brides“ (noivas melancólicas, em livre tradução). São eles:
- Falta de clareza em relação às expectativas a respeito do casamento e certa insegurança se a própria decisão de casar foi correta;
- Grande investimento no planejamento do dia da cerimônia, colocando o “dia da noiva” acima do “dia do casal”, ou seja, priorizando os próprios desejos em detrimento da relação como um todo;
- Nostalgia e tristeza ao pensar no casamento, acompanhada de lamento pelo fim daquele dia.
Para Neumann, todos esses fatores apontam para a “importância de investir no fortalecimento do relacionamento conjugal em si antes de mais nada”. É preciso cuidado para que a preparação da cerimônia não ofusque o propósito dela, de celebrar a união entre duas pessoas que se amam.
Vida a dois
A terapeuta explica que existem dois aspectos fundamentais para a formação de um casal: o desenvolvimento do compromisso com a relação conjugal e a acomodação dos cônjuges entre si. Desse modo, “quando o planejamento (da cerimônia) é tido pelos casais como um objetivo em comum, no qual ambos têm as suas vontades preservadas, pode se constituir como um fator de aproximação do casal”.
Também é preciso cuidado com a romantização do matrimônio. O casamento não é um momento mágico, mas “de ajustes”. Nutrir expectativas irreais pode, assim, alimentar a frustração.
“O parceiro ou a parceira não será a metade perfeita um do outro, pelo contrário, viver com outra pessoa é lidar o tempo inteiro com a imperfeição de ambos. Saber desde cedo que um não irá completar o outro e suprir todas as suas necessidades é importante, pois esse(a) parceiro(a) também tem necessidades próprias.”, explica a especialista.
Comunicação é a chave
Junto aos sintomas de insatisfação, vêm a culpa por senti-los e a autocobrança por uma felicidade que, supostamente, deveria ser garantida. Tudo isso pode intensificar o quadro de desencanto e até mesmo abalar o casamento.
“O cônjuge que se sente dessa forma muitas vezes se distancia do outro. Até mesmo por medo de contar como está se sentindo, em função dessa culpa. O parceiro geralmente percebe que há algo acontecendo, mas se isso não for falado entre ambos, ele pode não entender”, diz Neumann.
O diálogo, porém, não é uma solução de fácil alcance. Segundo a terapeuta, é preciso grande maturidade de ambos os lados para que a conversa seja frutífera. Ela aponta que saber “diferenciar e entender que estar desapontada com o casamento não significa que não existe amor na relação é um fator que auxilia os cônjuges a conversarem sobre a maneira como ambos estão se sentindo”.
E se a conversa pode ser o primeiro passo para a reaproximação do casal, o seguinte é investir na relação em si. Para Neumann, qualquer atividade que aproxime e conecte o casal, reforçando seus laços, é de suma importância.
E não adianta tentar escapar do problema recriando a rotina pré-casamento. “É mais importante se conectar com esses sentimentos e entender o que eles querem dizer do que fugir deles por meio do envolvimento com outras atividades. Quando esse é o caso, uma psicoterapia pode ajudar.”
A especialista também chama atenção para, a princípio, evitar tratar o problema como algo maior do que ele realmente é. “Um certo grau de tristeza é um processo natural do ser humano, e não há nada de errado com ele. […] Muitas vezes (os sintomas) passam sozinhos, com o tempo. Conforme o casal vai se ajustando um ao outro, eles tendem a amenizar e a desaparecer. Porém, se eles se mantém por meses, pode ser o momento de buscar ajuda psicológica, por meio de uma psicoterapia individual ou uma terapia de casal.”
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