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Sheron Menezzes: “Falar de autoestima torna o amor próprio natural”

Consciente da potência que ter uma boa autoestima, Sheron Menezzes criou com a mãe um projeto que promove o empoderamento de meninas

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 Maio 2020, 14h22 - Publicado em 30 nov 2018, 13h34
 (Rodrigo Marques/CLAUDIA)
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Quando alguém fala que eu me acho, respondo: ‘Não, eu sou’.” Sem nariz empinado, Sheron Menezzes engata um bate-papo sobre amor-próprio e autoestima. Dá para notar que é difícil abalar essa mulher, que chegou à sessão de fotos para a capa de CLAUDIA maquiada e com saltos altíssimos. Mas não é desses artifícios que vem a confiança da gaúcha de 34 anos. É de casa mesmo, da criação que recebeu da escritora Vera Lúcia Mancilha. “Minha mãe dizia que eu era a mais bonita do mundo e eu acreditava”, conta, rindo. “Ela me ensinou a olhar no espelho e gostar de mim mesma.”

Fortalecida e confiante, Sheron superou o racismo sofrido no colégio e, há alguns anos, nas redes sociais. Não se importou com comentários destrutivos. E exibe a farta cabeleira com orgulho de nunca ter alisado os cachos. Todos esses sinais de poder a transformaram em uma ativista pela autoestima de meninas. Criou com a mãe um projeto em que coloca as crianças como protagonistas de histórias e fábulas. Para isso, usam, inclusive, o livro Princesa Violeta (editora Príncipes Negros), escrito em 2016 por Vera Lúcia em homenagem à filha, cuja personagem principal é negra.

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(Rodrigo Marques/CLAUDIA)

“Fui privilegiada de ter essa visão em casa, mas quero contribuir com a sociedade”, afirma a atriz, que ficou um ano afastada do trabalho, de licença-maternidade. Mãe de Benjamin, que completou 1 ano em outubro, e casada com o lutador e empresário Saulo Bernard, ela deve voltar à televisão em 2019.

CLAUDIA: Qual o diferencial da sua criação para você ter a autoestima lá em cima?
Falamos muito de empoderamento feminino hoje, o que eu acho fantástico. As mulheres precisam mesmo se conhecer, se amar. E, quanto mais cedo começamos esse processo, melhor. A autoestima reforçada desde menina torna o amor-próprio natural, forte quando se é adulta. Eu tive essa referência em casa desde pequena, mas muitas pessoas não recebem esse tipo de informação ou não se veem representadas por programas de televisão, bonecas, pessoas públicas.

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CLAUDIA: Como essa formação empoderada inspira você hoje?
Eu e minha mãe temos um projeto social, Contando e Cantando Princesa Violeta, que incentiva a leitura e a construção da autoestima da criança. Vamos às escolas e contamos para as crianças histórias em que elas são as princesas, as protagonistas. As personagens têm os mesmos cabelos cacheados e a cor de pele delas. As meninas saem dali transformadas, entendem a importância de se amar. Essa construção tem que começar cedo, porque vira um processo de dentro para fora. É bonito de ver e necessário.

CLAUDIA: A adolescência é uma fase difícil de ganhar confiança. Você não se abalou nem nesse período?
Nunca me importei muito com a opinião alheia. Quando eu tinha 13 anos, minha mãe me colocou em um curso para virar modelo. Sempre fui mais de praticar esporte, jogar bola no campinho, usar roupas largas, mas comecei a gostar daquilo. Eu me maquiava, vestia uns looks diferentes, desfilava. Participei de muitos concursos de beleza no Rio Grande do Sul. Fui coroada princesa no Garota Verão regional. Todo mundo aplaudia. Então eu não tinha problemas de aparência, as pessoas estavam me aprovando.

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(Rodrigo Marques/CLAUDIA)
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CLAUDIA: Você não sofreu com bullying ou preconceito nessa fase?
Dizer que nunca sofri preconceito seria mentira. Falavam que meu cabelo era de medusa, mas eu não me deixava abalar. Depois, que eu parecia a Tina Turner. Isso pra mim era um elogio. Essa mulher é o máximo.

CLAUDIA: Nunca pensou em alisar o cabelo?
Nunca fiz progressiva. Usei o cabelo liso quando interpretei a Solange em Duas Caras, em 2007. Fazia escova todos os dias.

CLAUDIA: Na carreira, enfrentou entraves por preconceito?
Não, sempre fui respeitada pelos profissionais. A única vez que passei por algo do tipo foi uma coisa mais velada. Estava fazendo Babilônia (novela das 9, na Rede Globo, de 2015) e sentimos que o público tinha reservas com nosso núcleo. Era uma favela, mas havia uma advogada negra. E as pessoas desqualificavam dizendo que isso não existia. Claro que existe, assim como médicos, engenheiros e qualquer outra profissão.

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CLAUDIA: Em 2015, você foi alvo de ataques racistas nas redes sociais. Qual foi o desfecho?
Outras pessoas foram agredidas também. Era uma quadrilha de adolescentes, e as medidas cabíveis judicialmente foram tomadas.

CLAUDIA: O que pensa desse período de intolerância que vivemos?
Sou positiva. As pessoas vão aprender e, quando possível, nós devemos nos dispor a ensinar. Acredito, porém, que é bom saber quem defende o mal e onde estamos pisando. Sei que o racismo existe. Ele se apresenta em pensamentos, discursos. Faço o que está ao meu alcance. Ensino meu filho a respeitar e exigir que o respeitem; digo aos meus amigos que eles não devem reproduzir falas que diminuem o outro; peço que eles repassem isso aos filhos deles. Assim a nossa bolha boa vai crescendo. Nenhuma criança nasce preconceituosa ou racista. Isso vem de casa. Então, foco em esclarecer as questões para os pais. Dessa forma, a situação mudará.

CLAUDIA: O que você procura repassar ao Benjamin, seu filho?
Ele tem só 1 ano. Não entramos nessa parte cabeça. Meu receio é que a educação não vem só de mim. Ele vai ouvir outras coisas na escolinha, na rua, na internet. Não posso blindá-lo. Entretanto, essa geração jovem tem a cabeça mais aberta.

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(Rodrigo Marques/CLAUDIA)

CLAUDIA: Você sempre teve vontade de ser mãe?
Quando eu era pequena e as pessoas me perguntavam o que queria ser quando crescesse, eu respondia: “Mãe”. Era uma profissão para mim. Só que, na prática, é bem diferente do que a gente imagina. Gosto de desmitificar a maternidade, falar que é um processo solitário. Mesmo que contrate alguém para ajudar, o que não foi meu caso, ou tenha mãe e marido superparticipativos, o bebê precisa de você, do seu peito. O Benja acordava cinco vezes por noite. Cansada, eu pensava: “Poxa, por que não estou me sentindo realizada?” O apoio é muito importante nessas horas; senão essa solidão pode levar à depressão.

CLAUDIA: Por que você não quis contratar ajuda?
Eu não quis ninguém. Nem mãe nem babá. Sou uma pessoa controladora, tudo tem que ser do meu jeito. Sabia que era melhor evitar confusões. Por outro lado, a conexão que tenho com meu filho é surreal, nos entendemos até pelo olhar. Só agora estou conseguindo fazer as coisas sem ele. Antes eu estava dependente, levava para tudo que era canto.

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