O Brasil está nas quartas-de-final da Copa do Mundo, eba! A vitória por 2 x 0 sobre o México garantiu nossa vaga entre as oito melhores seleções do mundo!
Hoje não foi dia de gol de Gabriel Jesus, mas você já deve ter notado que, sempre que marca um gol, o atacante comemora fazendo um sinal de telefone (polegar na orelha, dedo mínimo perto da boca). É o “Alô, mãe!”, homenagem a Vera Lúcia, a mãe que o criou sozinha, sem sinal do pai dele e dos três irmãos. Nosso camisa 9 nunca se cansa de repetir que só chegou onde chegou por causa de dona Vera.
“Ela foi ao mesmo tempo pai e mãe para mim quando eu estava crescendo. Me lembro que, quando estava jogando pelo Pequeninos [clube de futebol na periferia de SP, onde Gabriel Jesus começou], eu via algumas crianças depois dos jogos com os seus pais, e eu estava sozinho. Aquilo foi pesado para mim. Me marcou. Mas agora, quando alguém pergunta do meu pai, eu digo que minha mãe é meu pai. Ela fez tudo por mim e pelos meus irmãos”, declarou em um emocionante depoimento ao “The Players’ Tribune”.
A mãe do zagueiro Miranda também criou os filhos – 12 filhos – sozinha. Mas, neste caso, o motivo foi a viuvez: o pai das crianças morreu quando o jogador tinha 11 anos de idade.
Além de Gabriel Jesus e Miranda, outros quatro titulares da seleção brasileira de futebol que estão na Copa do Mundo 2018 foram criados por mães solo, sem o pai biológico por perto: Paulinho, Thiago Silva, Marcelo e Casemiro.
Reflexo da realidade brasileira
Embora o recorte da seleção de futebol apresente uma proporção um pouco maior que a do Brasil, não deixa de ser sintomático começarem a aparecer figuras públicas que tenham crescido sem a presença o pai biológico.
De acordo com os dados mais recentes do IBGE (2015), 11,6 milhões de lares brasileiros são compostos por mãe e filhos apenas, o que equivale a 16,3% de todos os arranjos familiares –aqui são consideradas também as situações em que não há filhos. Na análise detalhada das famílias em que há filhos envolvidos – casais sem filhos e pessoas morando sozinhas são desconsiderados –, a proporção de mães solo é 26,8%.
O pai? Sumiu, ninguém sabe, ninguém viu.
Quando outras pessoas assumem o papel do pai
Vamos voltar aos casos dos nossos jogadores da seleção, então.
Descendente de índios xukurus de Pesqueira, no interior de Pernambuco, Paulinho mal teve tempo de conhecer o pai depois que nasceu, em São Paulo: José Paulo separou-se de Erica, mãe do jogador, pouco depois do parto. Até os 13 anos de Paulinho, o pai ainda morava na capital paulista, mas eles nunca se viam, só se falavam por telefone. Depois que o pai voltou à cidade natal, o contato escasseou de vez. A mãe, apaixonada por futebol, fez força para que ele virasse jogador. No meio do caminho entrou o padrasto de Paulinho, que serviu como modelo para o rapaz.
Quem também teve um padrasto como referência masculina foi o zagueiro Thiago Silva. Seu pai sumiu no mundo quando o filho tinha 5 anos de idade – de verdade, o jogador nunca teve notícias dele. Angela, sua mãe, casou-se depois de um tempo com Valdomiro, que assumiu responsabilidades no crescimento dos filhos dela.
O lateral Marcelo teve como modelo masculino o avô, com quem passou a morar aos quatro anos de idade, já que seus pais se separaram pouco depois de ele nascer. Pedro levava o neto aos treinos no Fluminense e estava na arquibancada em todos os jogos. Morreu em 2014, durante a Copa do Mundo no Brasil.
Já para Casemiro, a referência foi um treinador de futebol. Seu pai saiu de casa quando ele tinha 3 anos e a mãe, Magda, criou os três filhos sozinha em São José dos Campos (SP). Quando Casemiro começou a treinar em uma escolinha da cidade, o técnico Nilton Moreira tomou para si a responsabilidade de ajudar o menino a ir adiante no futebol e na vida.
Do outro lado, os pais presentes
Mas há pais bons e presentes, claro que há!
Neymar é o caso recente mais notório de jogador de futebol que chegou onde chegou por causa do pai. Desde os tempos de categorias de base no Santos, Neymar-pai gerenciou a carreira e as finanças do filho. Reginaldo Fino, um dos primeiros treinadores do nosso camisa 10, já declarou que Neymar só conseguiu ser o jogador bem-sucedido que é porque sabia que, fora do campo, o pai cuidava de tudo para ele.
E a família de Fagner se enquadra em uma estatística brasileira bem rara: por ter sido criado apenas pelo pai – a mãe é que foi embora, cortando o contato com o filho –, o lateral-direito faz parte dos 3,6% de lares brasileiros em que os pais criam os filhos sozinhos. A raridade da raridade.