Sabe aquela eterna briga que você travava com a sua mãe todas as manhãs? “Para que arrumar a cama se eu vou desarrumar ela outra vez?” Pois então, parece que fazia sentido no final das contas! Ao menos é o que diz Eric Abrahamson, autor de “Uma Bagunça Perfeita” (Rocco), livro que busca desmistificar a ideia de que organização é a chave do sucesso.
Abrahamson é professor de administração na Columbia Business School e sua teoria se baseia numa premissa muito simples: organização e limpeza são coisas que demandam muito tempo e dinheiro, por isso não deveriam ser tão valorizadas. “Geralmente há uma economia de custos significativa quando passamos a tolerar um certo grau de bagunça”, diz ele. Neste caso, os custos citados estão relacionados à produtividade no trabalho e Abrahamson emenda: “Se você passar 20 horas organizando sua mesa vai conseguir ter 20 horas a mais de produtividade?” De acordo com o professor, a resposta é não, pois a cultura da organização é exacerbada e acaba por consumir mais tempo do que realmente se faz necessário na nossa rotina.
Além disso, também existem implicações psicológicas envolvidas. Segundo afirma o professor, dois terços da população contemporânea experimenta um sentimento de culpa por conta de sua bagunça. Isso soa bem realista, não é mesmo? Tente se lembrar quantas vezes você já repetiu a frase “não repara na bagunça” ao receber uma visita. O fato é que existe uma linha tênue entre a organização funcional e a mera estética, e é esse o ponto conflitante apontado por Abrahamson.
E ele não para por aí! O professor também diz que a bagunça pode contribuir na sua criatividade, o que, na verdade, é uma teoria que já foi defendida por ninguém menos do que Albert Einstein. “Se uma mesa desordenada é sinal de uma mente desordenada, de que então é uma mesa vazia?”, filosofou o físico alemão certa vez. Para o autor de “Uma Bagunça Perfeita”, a desorganização ajuda o nosso cérebro a trabalhar de forma não linear, o que estimula a criatividade. São os velhos clichês do “sair da zona de conforto” e “pensar fora da caixa” vistos sob uma outra perspectiva, basicamente.
Quem concorda com essa premissa é a professora de marketing Kathleen Vohs, da University of Minnesota. Ela realizou um estudo com 48 voluntários onde as pessoas deveriam sugerir usos alternativos para bolas de pingue-pongue (simulando uma situação em que o cliente era um fabricante desse produto). Num esquema de brainstorm, metade dos voluntários foi dirigido a um ambiente de trabalho perfeitamente organizado, enquanto a outra metade teve que bolar suas ideias em meio à uma sala bagunçada. Depois disso, um terceiro grupo de pessoas foi chamado para avaliar as ideias apresentadas e estabelecer quais eram as mais criativas. Ao final, as conclusões do experimento seguiram a mesma linha da teoria de Eric Abrahamson.
“Em ambos os grupos o volume de ideias foi semelhante, o que indica que os voluntários se esforçaram da mesma maneira. No entanto, as ideias que saíram da sala bagunçada foram mais criativas, como já esperávamos. Essas ideias foram avaliadas como 28% mais criativas e, quando os juízes tiveram que identificar quais delas poderiam ser categorizadas como ‘extremamente criativas’, as ideias da sala bagunçada tiveram cinco vezes mais incidência nessa classificação”, disse a professora Kathleen Vohs.
Como tudo na vida, equilíbrio é palavra de ordem quando se trata de organização. Ninguém está dizendo que viver em meio ao caos total é uma ideia mirabolante, mas pode ser pertinente repensar quanto esforço estamos direcionando ao exercício da organização cotidiana. Uma baguncinha aqui e ali não faz mal algum e, inclusive, pode fazer bem.