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Renata Lustosa: “Ele falava que se eu denunciasse, ia me matar”

A ex-miss Piauí fala sobre ter denunciado as agressões que sofreu durante 8 anos, protagonizadas pelo ex-marido, o empresário Leonardo Ramos Henriques.

Por Débora Stevaux Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 dez 2016, 14h34 - Publicado em 2 dez 2016, 18h45
 (Divulgação/Divulgação)
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No dia 24 de novembro, a ex-miss Piauí, Renata Lustosa, de 27 anos, postou um vídeo em sua conta no Instagram, apagado doze horas após a postagem, para denunciar as agressões protagonizadas pelo ex-marido, o empresário Leonardo Ramos Henriques. Nele, a modelo, que aparece em prantos com o rosto sangrando, confessa: “Mais uma vez, foi agressão física. Por causa de uma coisa banal, uma briga, mentiras. E por mais que eu e ele estejamos errados, nada justifica um homem bater em uma mulher.”

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Por oito anos, Renata era agredida fisicamente pelo companheiro, geralmente, na frente do filho Thor, de apenas dois anos. Mas pelas ameaças de morte, se via coagida a não procurar a lei. O primeiro Boletim de Ocorrência foi feito no ano passado, mas a violência não cessou. Muito pelo contrário, durante os últimos três anos, período em que moraram juntos, as agressões passaram a ficar mais sérias e recorrentes. Após a repercussão e as mensagens de apoio, decidiu não se calar: oficializou a denúncia na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), de Teixeira de Freitas, cidade que morava, no dia 25 de novembro.

Em entrevista a CLAUDIA, a ex-miss Piauí conta desde sobre o comportamento violento do ex-marido, até como tem recebido todo o apoio necessário para recomeçar e ajudar outras mulheres a denunciarem seus agressores:

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Quando ele começou a te agredir? A violência era recorrente?

Venho sofrendo agressões desde o namoro, há 8 anos. A violência aumentou quando passamos a morar juntos, há 3 anos. Quando ele me bateu pela última vez, tive a ideia de fazer um vídeo, que para mim, foi um desabafo de tudo que já passei. Geralmente, as brigas aconteciam dentro de casa, às vezes na rua, perto de muita gente. O tanto que apanhei foi o que me motivou a deixá-lo. As piores agressões aconteceram, após o nascimento do meu filho. Eu tinha muita vergonha de falar sobre isso para as outras pessoas, de contar tudo o que eu passava. Tinha medo. Ele me ameaçava muito, dizia que se eu prestasse queixa, ia me matar. Já cheguei a prestar uma queixa contra ele, mas não na Delegacia da Mulher, em 2015, mas não adiantou nada, mesmo com o Exame de Corpo de Delito ou com o laudo médico das agressões. Sempre fiquei indignada por apanhar, porque nada justifica um homem dar um soco, um tapa em uma mulher, ou agredi-la verbalmente.

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O seu filho presenciava as agressões?

O Thor sempre viu as agressões e ficava muito alterado. Gritava, chorava muito. Acho que sentia muito medo na hora, mas logo depois voltava para o colo do pai. Era uma tortura muito grande ver tudo aquilo, ver que aquela violência não atingia somente a mim. Acho que ele ficou mesmo traumatizado. E mesmo após o término, as agressões continuaram. Ele visitava o filho com frequência, mas eu sempre tive medo de deixá-lo sozinho com ele. Porque apesar de não ter sido um pai ruim, também não foi bom, além de ser muito temperamental. Porque se comigo já era uma situação muito humilhante, dolorida, imagina para ele? O que será que passava pela cabecinha dele quando via aquilo? Principalmente por ser uma criança e não entender direito o que se passava. Depois que começou a presenciar as agressões com maior frequência, meu filho mudou bastante o seu comportamento. No começo, era uma criança muito calma, tranquila. Agora, passou a ser muito agitado, toda hora está mordendo ou batendo em algo. Por isso, eu e ele vamos fazer acompanhamento psicológico a partir de agora, porque também é um trauma para ele.

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Ele sempre teve esse comportamento agressivo?

Já ouvi falar que ele já havia agredido outras namoradas, mas não sei se foi um caso ou mais. Não tenho certeza, porque ele morava em outra cidade, então não tenho como comprovar. Mas acredito que essa violência seja um traço da personalidade dele. Sempre foi muito possessivo, ciumento, mas nunca falava quando se incomodava com alguma coisa, já partia pra cima, fazia ‘valer’ o que ele achava dessa outra forma. Apanhar não me afetou só emocionalmente, perdi muitos trabalhos por causa disso. Porque têm cicatrizes que a maquiagem não esconde. Parecia mesmo proposital, quando eu contava que tinha fechado um contrato com uma empresa e que seria fotografada na quinta-feira, por exemplo. Ele me batia no dia anterior, aí não tinha como ir, até porque sempre ficava muito abalada. Foi muito difícil para mim, precisei passar um período longo sem trabalhar.

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Como surgiu a ideia de gravar um vídeo?

Sempre tive muito medo de ir à delegacia denunciar, então, resolvi divulgar uma prova do que eu sofri por muitos anos e voltei a sofrer neste dia. Uma prova do que ele fazia comigo. Doze horas depois de fazer a postagem, resolvi apagar, porque fiquei assustada com a repercussão e me senti exposta. Foi aí que eu tive consciência da proporção que aquilo tinha tomado, me fazia mal ver aquele vídeo de novo, porque eu nunca mais quero reviver este trauma na minha vida.

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O que te deu forças para denunciar?

Como o engajamento gerado pela postagem do vídeo foi tão grande, recebi milhares de mensagens de mulheres, que já passaram ou não por isso, me encorajando à denunciar. Pessoas que eu nunca vi na minha vida, mas que me deram o maior apoio. Foi então que decidi conversar com a delegada, pedir a Medida Protetiva para que ele não chegue mais perto de mim e do meu filho. Mas logo depois que prestei a queixa, me senti desprotegida demais. Passei a dormir, todo dia, em um lugar diferente. Porque ele sempre repetia que se eu prestasse queixa contra ele, ia me matar. E eu tinha medo dele realmente fazer alguma coisa comigo. Então sai da cidade como uma medida de segurança. Eu me sinto mais segura aqui, por ter uma estrutura familiar melhor, eu me senti mais acolhida. Recebi muito apoio das minhas amigas, da minha família inteira. Meus pais ficaram com muito medo de toda a situação, porque eles já sabiam há um tempo, eles me viam toda roxa, com hematomas, mas respeitavam minha decisão de não denunciar porque, assim como eu, acreditavam que ia passar.

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Você acredita que ter tornado o que você passou público é importante para incentivar outras mulheres a denunciarem a violência que sofrem?

Depois que fiz a denúncia, muitas mulheres me chamaram de corajosa. Mas para mim, guardei por muito tempo tudo o que eu passei, demorei muito para denunciar. Por isso não posso dizer que sou corajosa, porque poderia ter acontecido uma tragédia. Mas o que mais me entristeceu nisso tudo foi pensar que a gente deixa a casa dos nossos pais, onde somos protegidas e tratadas como princesas, para morar com um cara que só nos faz mal, que nos bate, que vira um monstro. A Luiza Brunet me procurou e está me dando o maior apoio, me sinto muito bem de conversar com ela, porque ela passou pela mesma situação que eu. Ela me aconselha, sempre diz que está do meu lado, porque é muito difícil, às vezes, para quem nunca passou por isso entender. Se eu pudesse falar com todas as mulheres que são agredidas como eu fui, eu diria que recomeçar é difícil, mas é melhor recomeçar com dignidade, apesar da dificuldade, do que apanhar ou ser agredida de tantas outras formas diariamente. Denunciem, vocês não merecem sofrer assim, peçam a Medida Protetiva. Eu pequei muito por ter levado tanto tempo para denunciar. Sofri por anos. Mas Deus colocou a mão em nós [eu e meu filho] e não deixou que nada de mais grave acontecesse. Agora, eu quero que a Justiça seja feita. Quero vê-lo preso pela Lei Maria da Penha e continuar a minha vida em segurança com o meu filho. Daqui para frente, quero viver em paz.

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