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Pular sete ondas? Conheça as origens dos rituais de Ano-Novo

Especialistas explicam por que usamos branco no Réveillon, comemos lentilhas ou pulamos sete ondas

Por Joana Oliveira
30 dez 2022, 08h12
Queima de fogos na praia de Copacabana, Réveillon Rio 2019.
Queima de fogos na praia de Copacabana, Réveillon Rio 2019. (Gabriel Monteiro/Agência Brasil)
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Você já usou calcinha vermelha para atrair o amor na noite de Réveillon? Vestiu branco? Pulou sete ondas? Na hora de atrair prosperidade e boas energias para o ano que se inicia, vale tudo, e cada pessoa tem sua simpatia preferida. Há, no entanto, aquelas tradições que são mais difundidas e das quais, mesmo para os mais céticos, é difícil escapar. Antes mesmo do dia 31 de dezembro, todo o período de fim de ano traz um forte simbolismo que remonta a séculos, como explica a psicóloga Juliana Bley. “Desde a antiguidade, antes do Papai Noel no Natal e da roupa branca no Réveillon, as festas de fim de ano marcam uma mudança de ciclo, a renovação da esperança, celebração da união da família e da comunidade de forma fraterna para enfrentar o frio e a aridez do inverno, especialmente no Hemisfério Norte. Para os cristãos, também há o simbolismo do nascimento da esperança de um novo tempo”, ensina.

CLAUDIA ouviu Juliana e outras especialistas para explicar as origens dos principais rituais de Ano-Novo no Brasil.

Vestir branco

Como muitos rituais da cultura popular no Brasil, a tradição de usar branco na noite de Réveillon vem das religiões de matriz africana, principalmente do candomblé. A cor, sagrada, é usada para render culto à Iemanjá, rainha dos mares e considerada a mãe de todos os orixás, como explica Amanda Celli, que é bruxa, bióloga e escritora. “A partir da década de 1950, se consolidando na década de 1970, o povo de terreiro passou a fazer oferendas para Iemanjá na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Outras pessoas passaram a assistir essas cerimônias, se interessaram e adotaram o branco no Ano-Novo, uma cor que também representa a paz, um sentimento universal”, diz ela.

Amanda acrescenta que o imaginário sobre a orixá também foi facilmente sincretizado no Brasil com a ideia de Virgem Maria. “Ambas vestem azul e branco, por exemplo, cores relacionadas à paz e à harmonia.”

Pular sete ondas

A tradição de pular sete ondas no mar após a virada de ano também vem do culto à Rainha do Mar. Ao fazer suas oferendas a Iemanjá, os praticantes do candomblé pulavam as sete ondas, fazendo um pedido cada vez que saltavam uma delas. Os observadores curiosos aprenderam e resolveram imitar. “Inicialmente, esse rito era realizado apenas no dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá. Depois, se popularizou também na noite de 31 de dezembro”, conta Amanda.  Ela acrescenta que o número 7 também é importante na umbanda, considerado um número cabalístico, que representa Exú e as sete linhas da religião.

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Comer lentilhas e uvas

Amanda explica que muitos dos alimentos servidos nas ceias de Natal e Réveillon têm significados supersticiosos, mas, no Brasil, as lentilhas costumam ser as estrelas das simpatias de Ano-Novo. “Elas simbolizam sorte, abundância e prosperidade. Para diferentes povos da Antiguidade, os grãos, de modo geral, representavam a nutrição da terra e o ouro que sai dessa própria terra. Em muitas culturas, as lentilhas chegaram a ser usadas como moedas”, conta. A bruxa e bióloga diz que, em muitas culturas ciganas, até hoje se associa a lentilha aos bens materiais, precisamente por sua forma de moeda. Mas, atenção: Amanda ressalta que, para atrair boa sorte, as lentilhas devem ser o primeiro alimento a ser consumido na ceia de Réveillon.

E tem quem coma 12 uvas ou romãs à meia-noite de 31 de dezembro, mais um símbolo de prosperidade. Essa tradição, explica Amanda, vem das culturas greco-romanas. “A simpatia é comer as frutas e guardar as sementes num papel branco, dobrado, dentro da carteira, para carregar a boa sorte consigo durante o ano todo”, ensina.

É dessa boa fama das uvas que também vem o ritual de brindar com espumante no Réveillon: gregos e romanos ofereciam bebidas alcoólicas, como o vinho, em tributo às suas divindades. Como muitos espumantes são feitos de uva, a moda pegou por aqui. “As bebidas feitas com uvas escuras, como o vinho tinto, são regidas pelo sol e simbolizam alegria e prosperidade na passagem do ano. Já as uvas claras representam beleza e intuição”, explica a especialista. Então, nada melhor do que brindar com champanhe, mentalizando desejos e intenções, para atrair energias positivas.

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Fazer banhos energéticos

Quem quer uma limpeza profunda para o Ano-Novo, aposta em banhos energéticos com ervas e folhas na noite de 31 de dezembro ou no dia 1º de janeiro. A espiritualista Kélida Marques explica que essa tradição vem desde a época de Cleópatra no Egito. “Ela utilizava ervas, folhas, rosas e outras flores para se embelezar, atrair energias positivas e retirar as energias negativas do corpo”, conta. Kélida lembra, é claro, que, no Brasil, esses banhos são herança da cultura dos povos iorubá, que fazem banhos não apenas para limpeza energética, mas para restauração da saúde. “Aqui, os saberes dos povos africanos se mesclaram com os conhecimentos ancestrais dos cultos indígenas”, diz.

“O candomblé, religião de matriz africana mais antiga no Brasil, foi que primeiro trouxe os banhos de folhas para cá. Depois, a umbanda, já com o sincretismo com os santos católicos, também perpetuou essa tradição”, acrescenta Amanda Celli.  Ela recomenda tomar um banho de purificação no dia 31 de dezembro, para se purificar e banir quaisquer pensamentos ou sentimentos negativos e, após a virada, tomar outro banho para se reenergizar, mentalizando os desejos e toda a prosperidade que se deseja para o ano que começa.

E aí, já decidiu o que vai fazer para proteger corpo, mente e coração e atrair tudo o que for bom?

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