Projeto a dois: histórias de casais que se uniram em torno de interesse comum
Compartilhar experiências fortalece a ligação entre parceiros. Inspire-se em casais que se uniram em torno de um interesse comum e ficaram ainda mais próximos
Um sonho mirabolante. Uma meta de curto prazo. Uma paixão em comum. Na velocidade da vida, muitos parceiros esquecem que é essencial manter um território só deles, como uma hashtag que junte os interesses dos dois. “Um casal se forma com base em um projeto. Se um quer dar a volta ao mundo e o outro quer construir uma casa, a chance de dar certo é mínima”, diz a terapeuta de casais Lidia Aratangy.
O plano pode ser grandioso, como comprar um imóvel ou criar um filho, mas também deve contemplar algo simples, como praticar um esporte. O importante é abrir um espaço para o casal em meio aos afazeres mais comezinhos. “A preocupação com a carreira e a evolução individual tem seu lugar, mas não pode ocupar todo o tempo. Ou sobram apenas rotina, compras e contas.” Seja aprender um novo idioma, seja construir uma cabana na praia, o importante é transformar seu marido (ou namorado) em um parceiro de verdade.
“Quando as pessoas estão vinculadas, surge a vontade de fazer as coisas juntas”, diz Ivan Martins, autor de Um Amor Depois do Outro (Agir). Para ele, os projetos são parte de um entendimento mais amplo. “O curso de vinhos vem em um pacote que envolve valores parecidos. Se falta esse pacotão, o resto fica ralo.” A recusa de um em investir em uma atividade a dois pode dar pistas de que algo não vai bem. “Quando a relação termina é porque o projeto conjunto acabou”, afirma ele. A seguir, conheça casais que usam o projeto em comum para fortalecer o amor de um pelo outro.
Fogão para dividir
Projeto: cozinhar juntos e descobrir sabores.
“A paixão pela culinária nos dá uma identidade como casal. A cozinha é nosso território de experimentação. A gente abre um vinho, conversa, ri, inventa. E um tenta não colocar a colher na receita do outro. Ele, talvez por ser matemático, gosta de pesar os ingredientes, lê três vezes a receita. Já eu leio uma vez e saio picando tudo. Então, sempre elegemos um dos dois como o chef, e o outro fica de assistente. É um aprendizado intenso, pois temos de nos conhecer e desenvolver uma comunicação clara para executar um prato inédito. Nós nos divertimos procurando ingredientes raros. Assistimos juntos a programas de culinária. Nas viagens, compramos livros de receitas típicas. Há um ano, fomos para Itália e Portugal. Salivamos preparando o roteiro, imaginando os bolinhos de bacalhau, os pastéis de nata. Fomos conhecer o processo de produção do vinho do Porto em uma quinta, com direito a um jantar harmonizado romântico. Na Itália, nos esbaldamos com a comida da Toscana. Sem falar nos restaurantes que adoramos descobrir a dois. Isso tudo alimenta nossa relação.”
Thais Bueno Veiga, 33 anos, gerente de banco, casada com Bernardo Maia, 35, matemático, há cinco anos.
Casal na correria
Projeto: treinar e participar de maratonas.
“Em meio ao corre-corre da vida, por que não correr juntos? Eu e o Augusto nos conhecemos correndo – usávamos a mesma assessoria esportiva (professores que auxiliam no treino e na dieta). Quando começamos a namorar, passamos a treinar juntos. Até criamos a hashtag #casalquecorre e imprimimos em nossas camisetas – sim, vestimos a camisa mesmo. No fim do ano passado, participamos da São Silvestre. Foi um momento marcante: nós dois ali, unidos, no meio da multidão. Atualmente, temos feito provas de 5 a 15 quilômetros, mas a ideia é aumentar o ritmo e chegar às maratonas (42 quilômetros). Antes, vamos tentar a meia maratona (21 quilômetros) de Buenos Aires, em setembro. São metas que envolvem superação de limites e visão de futuro, o que também estimula e dá fôlego ao namoro. Foi com a corrida que encontramos pontos em comum e ganhamos, nos treinos e provas, um tempo extra para estar juntos, unindo o útil ao agradável. No final das provas, é sempre uma festa. Nós nos abraçamos, colocamos a medalha um no pescoço do outro. E, claro, rola aquele beijo de comemoração!”
Juliana Miranda, 35 anos, enfermeira, namora com Augusto Verrengia, 44 anos, empresário, há um ano.
Destino comum
Projeto: conhecer as Américas de carona.
“Nossa viagem começou há três meses. Trabalhávamos no mesmo banco quando percebi que minhas atividades não manifestavam minha essência. Rafa sentiu o mesmo e embarcamos juntos na ideia de viajar. Até o estilo bateu: América do Sul, de carona, nos hospedando na casa das pessoas, trabalhando e compartilhando experiências. Para colocar a mochila pesada nas costas e pegar a estrada, tivemos de encerrar ciclos: sair do trabalho, dar uma pausa nos estudos, voltar com os pertences para a casa dos pais. Depois de percorrer o sul do Brasil e o Uruguai, agora estamos na Argentina. Temos encontrado muita generosidade pelo caminho, mas, às vezes, esperamos horas na estrada, com a placa ‘Casal buena onda’, até um caminhoneiro parar. A convivência 24 horas tem sido um desafio. Com isso, nosso relacionamento vem amadurecendo. Em uma noite dessas, estávamos na Praia La Paloma, no Uruguai, deitados na areia, ao lado de uma fogueira, olhando o céu. Eu vi uma estrela cadente, ele viu duas. Ficamos abraçados, dançando ao som de uma banda porto-riquenha. Foi um dos momentos românticos da viagem. Nem todo casal precisa ter um projeto como o nosso. O importante é seguir na mesma direção.”
Victoria Godoy do Prado, 25 anos, administradora de empresas, namora com Rafael Audi Goulart, 29 anos, engenheiro, há dois anos e meio,
No mesmo ritmo
Projeto: dominar a dança flamenco.
“Na primeira vez em que saímos juntos, assistimos a um show de flamenco. Eu nunca tinha visto a dança tão de perto. Aquilo me emocionou e provocou uma grande transformação interna em mim. Entrei em um curso, e ele começou a se envolver com o tema, baixando vídeos, pesquisando onde comprar o melhor sapato. Depois, entrei em uma escola de dança cigana. Nelson estava sempre lá, assistindo aos ensaios, cuidando de mim. Até que fomos convidados a apresentar um número de dança cigana como casal em um aniversário de casamento temático. Ele, que nunca tinha dançado, topou o desafio. Foi mágico! Nunca fomos aquela dupla que sai pra dançar. Há dois anos, passei por um momento emocional complicado e me afastei da dança. Nelson não se conformou. Sabendo que eu era fã de uma bailarina, a Vera Alejandra, me presenteou com um curso na escola dela. De tanto me acompanhar, decidiu experimentar uma aula. Foi emocionante vê-lo com o figurino de flamenco. Hoje, fazemos aulas aos sábados e participamos de oficinas. Se tenho dificuldade com um passo, ele treina comigo. Somos tímidos e tivemos de vencer o medo para encarar o palco nas apresentações. Ele é o único aluno homem! Mais do que uma dança, o flamenco é uma maneira de ver a vida. Eu não poderia ter um par mais perfeito.”
Vânia Lemos, 37 anos, produtora de conteúdo, casada com Nelson lemos, 32 anos, assistente de criação, há sete anos.