Os prós e os contras do home office
A presidente do Yahoo!, Marissa Mayer, retirou de seus funcionários o direito que tinham até então de cumprir o expediente em home office. Experts discutem a medida - que jogou um balde de água fria no sonho de muitas mulheres
A CEO do Yahoo!, Marissa Mayer, provocou polêmica ao proibir o home office na empresa
Foto: Getty Images
Uma loira de olhos azuis, nariz arrebitado e rosto angelical virou uma espécie de inimigo número 1 das mulheres. Em fevereiro, Marissa Mayer, a executiva americana de 37 anos que ocupa o cargo de CEO do Yahoo!, uma das empresas de tecnologia mais importantes do mundo, tomou uma medida pra lá de impopular – e que atinge em cheio as profissionais que tentam equilibrar melhor carreira e família. Contrariando as últimas tendências em gestão de pessoas, ela proibiu que funcionários do Yahoo! em qualquer parte do mundo produzam de casa, como até então acontecia. Em nota, a empresa afirmou que, no sistema de home office, “a velocidade e a qualidade são muitas vezes sacrificadas”. Não é a primeira vez que Marissa causa polêmica e desagrada às mulheres. No ano passado, assumiu o cargo de CEO do Yahoo! grávida e dizendo que abriria mão da licença-maternidade. De fato, voltou para o escritório quando seu bebê tinha só duas semanas. Agora, com a proibição, deixou colaboradores, blogueiros e consultores da área de recursos humanos em polvorosa. Para desespero geral, outras empresas, como a rede varejista Best Buy, já seguiram o exemplo. Na mídia especializada e nas redes sociais, explodiu um intenso debate sobre os limites da flexibilização do trabalho. Aqui, experts apontam os prós e os contras da opção home office – e discutem se esse é ou não um sonho possível para a maioria.
É um desafio para as empresas
William Bull, especialista em gestão de talentos do Instituto Pieron, consultoria de recursos humanos, em São Paulo
“As companhias ainda não sabem como garantir que equipes virtuais produzam tanto quanto na sede. Os líderes precisam olhar nos olhos dos subordinados. Além disso, existem funções que só podem ser desempenhadas no escritório e permitir que apenas uma parte dos funcionários trabalhe em casa gera insatisfação. Assim, o home office é um desafio para as empresas. Para o profissional, pode atrapalhar o desenvolvimento da carreira, pois ele deixa de ser visto pelos chefes, de cruzar com colegas nos elevadores, de fazer networking. Não raro, executivos recusam tal proposta para ficar perto da presidência.”
Proibir o trabalho à distância é um retrocesso
Maria Cândida Baumer de Azevedo, sócia da People and Results, consultoria em mudanças da cultura organizacional, em São Paulo
“No passado, as empresas só podiam medir a produtividade dos funcionários pela quantidade de horas que passavam no escritório. É o que chamamos de gestão do esforço. Como hoje é possível medir a eficiência pelas tarefas que eles entregam, ganhou força a gestão de resultados. Aí não importa o lugar onde os funcionários trabalham – nem o horário -, com exceção daqueles que dependem do maquinário da empresa. As companhias mais competitivas adotam o segundo modelo. Afinal, o diferencial delas é a inovação e, como se sabe, criatividade não tem hora ou local marcados. Com a piora do trânsito nas grandes cidades, acho que o trabalho em casa virou uma necessidade, além de ser uma forma de atrair e reter talentos. Proibir é um retrocesso.”
Em casa, pode ser até mais desgastante
Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), que pesquisa e trata o stress
“Antes de tudo, é preciso dizer que a falta de liberdade para escolher o modo mais apropriado para executar suas obrigações é o maior fator de stress entre as mulheres. Mas trabalhar em casa não é necessariamente menos desgastante. Pode ser até mais. A maioria tem dificuldade em controlar o próprio tempo e precisa estender a jornada. Pior: nem sempre obtém a mesma qualidade no sistema home office porque a atenção fica dividida entre as tarefas profissionais e a família. As mulheres se cobram mais cuidados com os filhos e o marido, o que, em geral, não é possível. Mas, se focam só no trabalho, sentem-se culpadas. Acabam frustradas em todos os aspectos. E isso tem impacto na saúde: aumentam os casos de taquicardia, dor de cabeça, desordens do sono e distúrbios alimentares. Sobretudo, cresce o uso de remédios para ansiedade.”
Cada caso é um caso. Nem sempre dá
Jan Bruce, proprietária da Mequelibrium.com, empresa americana que mede os níveis de stress em trabalhadores e companhias
“Vejo muitas virtudes no trabalho flexível e sou a favor dele, mas cada caso é um caso. Nem sempre dá para atuar à distância. Isso não pode atrapalhar o desempenho. Marissa Mayer é CEO de uma empresa cujo time tem baixa performance, e seus concorrentes estão lhe dando um banho de inovação. Ao assumir, comprometeu-se a melhorar os produtos e fazer a companhia crescer logo. O sucesso nesse tipo de missão depende do engajamento da equipe, e o home office é inimigo do senso de colaboração. Às vezes, o líder precisa tomar decisões impopulares. Por outro lado, em casa, o profissional não tem o apoio e a camaradagem que ajudam a aliviar o stress. E conta com menos contribuições de ideias dos colegas, o que melhora a qualidade do nosso trabalho.”