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O exercício da empatia

Como praticar essa capacidade e nos colocar no lugar dos outros, segundo o filósofo Roman Krznaric

Por Pamela Malva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 abr 2024, 09h10 - Publicado em 27 out 2018, 13h05
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  • Com a impressão que os dias passam cada vez mais rápido e que as pessoas estão cada vez mais individualistas, uma das dificuldades que encontramos na atualidade é o exercício da empatia. Colocar-se no lugar do próximo se tornou uma atividade que pode ser deixada para depois.

    Conversamos com o australiano Roman Krznaric, um dos fundadores da The School of Life de Londres e autor do best seller O poder da empatia, para entender melhor essa relação entre a sociedade e o exercício da empatia, principalmente no atual contexto brasileiro.

    Para Roman, por definição, ser uma pessoa empática é ter a habilidade de andar com os sapatos dos outros e olhar o mundo pelos olhos deles. É uma capacidade que desenvolvemos naturalmente, quando temos entre dois e três anos. Mas, ainda que seja uma característica adquirida, na opinião do filósofo, é necessário treiná-la diariamente.

    De forma geral, podemos dizer que a empatia é o ingrediente que une toda e qualquer relação interpessoal. Mesmo que não seja a principal, é um fator que faz com que um lado entenda o outro e a relação funcione de forma orgânica, deixando de ser unilateral.

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    Nomeado pelo The Observer como um dos principais filósofos populares da Grã-Bretanha, Roman acredita que “é a empatia o fator que nos faz passar por cima de todas as barreiras do pré-julgamento”.

    Mas se essa característica é adquirida com o tempo, ela pode ser ensinada? Segundo o especialista, sim. “A melhor forma de aprender a empatia é exercitando-a. Tenha uma conversa com um estranho uma vez por semana. Alguém que você não conversaria normalmente, um entregador de jornal, um cobrador de caixa. Fale sobre coisas que importam: amor, amizade, morte. E torne isso em um hábito. Com a curiosidade, você pode entende melhor as pessoas”, afirma Roman.

    Esse exercício diário, para o filósofo, também é o responsável pelo desenvolvimento de outra prática: a escuta empática. “O antídoto para a falta de empatia é virar uma pessoa boa em ouvir.”

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    E não é só para conversar de qualquer jeito, não. Você precisa deixar o celular de lado, olhar a pessoa nos olhos, tentar entender os sentimentos, os desejos e as necessidades dessa pessoa. Para o autor, no final, todos nós apenas queremos nos sentir entendidos.

    Exercitar a empatia, em sua essência, é uma forma de entender não só aos outros, mas como a si mesmo. “Pra entender sobre você mesmo, não basta se perguntar, de forma introspectiva. Você precisa ir ao mundo e perguntar aos outros quem são eles”, esclarece Roman.

    Historicamente, esse exercício é uma maneira de sair de nós mesmos e do nosso próprio contexto. “Isso pode ser observado no início do teatro. Nas peças, somos empáticos sem perceber, experienciamos a vida de outra pessoa como forma de entretenimento. A empatia, na verdade, é uma grande aventura.”

    Ainda mais, essa capacidade de nos colocar no lugar dos outros não existe apenas na história do teatro, existe na construção do conceito de direitos humanos. Existe na ideia de que precisamos escutar o discurso das minorias para que possamos dar voz para quem não tem.

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    A proposta inicial da empatia é tratar os outros como serem humanos. “Sempre digo que a empatia abre a porta das preocupações morais e os direitos humanos mantêm a porta aberta”, comenta Roman.

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    O filósofo explica que temos que pensar que todos pensam em como podem ter sua voz ouvida, em como podem externar suas ambições, sua religião, seus medo. Temos de ter em mente que todos querem ser ouvidos como pessoa. Todos querem sua individualidade valorizada.

    “Humanos são animais sociais. E, infelizmente, a sociedade está destruindo essa nossa natureza social. E hoje, mais que nunca, precisamos encontrar formas de trazer nossas características sociais para fora”, diz o autor.

    Para Roman, é esse hoje, esse agora, que precisa ser explorado pelas pessoas. Em sua concepção, pensamos em um conceito de “agora” muito imediatista. “Precisamos pensar que o nosso agora é mais longo do que parece. É um agora de dezenas, milhares de anos. É um agora que abrange as próximas gerações. E pensar nisso é mais um exercício de empatia”.

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    E como a empatia se relaciona com o nosso contexto, aqui no Brasil?

    Atualmente, o país se encontra dividido, e essa polarização nada mais é que, em alguns níveis, causada pela falta de empatia.

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    “Politicamente, por exemplo, quaisquer que sejam os resultados, o Brasil irá continuar polarizado. Não acho que a sociedade vá funcionar com tantas divisões. Por isso é importante praticar empatia. Principalmente com seus inimigos, é importante tentar dialogar até mesmo com aqueles que você não concorda”, explica.

    Para provar que a prática de empatia mesmo com aqueles que você menos concorda, Roman participou de um projeto muito diferenciado. A ideia era unir pessoas com passados muito distantes em uma única refeição. Colocar todos em uma sala e lhes entregar o meno. Mas, no lugar dos pratos e bebidas, eram sugeridos tópicos e perguntas para uma conversa.

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    “O objetivo disso tudo era que essas pessoas completamente diferentes, com backcgrounds distintos, encontrassem um ponto em comum’, explica o filósofo.

    Para Roman, em um mundo cheio de ódio, perceber que você pode estar errado é uma coisa muito positiva, um exercício de empatia. “É só unir dois grupos que se odeiam e pedir que ambos façam algo juntos, desde um pão, até uma casa, até uma partida de futebol. Isso vai criar empatia e tolerância. Os fará confiar uns nos outros e os influenciará a quebrar as barreiras.”

    E por que as pessoas têm tamanha dificuldade de se colocar no lugar dos outros e exercer a empatia? Bom, estamos em uma era cercada por redes sociais que moldam nossos comportamentos. Estamos pouco suscetíveis a ouvir o ponto de vista dos outros.

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    Nas redes sociais o problema é um pouco mais profundo. Seu algorítimo é baseado na exposição de uma vida perfeita, apenas do lado bom. Mas é essa cortina que impede que recebamos notícias e pontos de vista de pessoas fora da nossa bolha.

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    “Em teoria, a internet pode unir muito mais as pessoas, pessoas diferentes de nós. Mas ainda assim, por culpa do anonimato, as pessoas têm muito menos empatia, são muito mais agressivas e falam coisas muito piores do que falariam pessoalmente”. Esse conceito é muito refletido no Brasil, já que quase todas as discussões nacionais são levadas para o mundo da internet.

    “Devemos tentar entender a perspectiva das outras pessoas. O que eles temem? Quem eles são perante a sociedade? É com mais empatia que a nossa sociedade vai ser mais tolerante”, explica Roman. “O propósito da empatia é quebrar barreiras, descobrir uma humanidade em comum. Ser parte de um grupo não quer dizer odiar os outros grupos. Se eu jogar tênis, não quer dizer que devo odiar jogadores de futebol. Mas é isso que acontece com a política e com a religião”, finaliza o filósofo.

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