Começamos o ano de 2017 com uma notícia terrível e assustadora: Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, assassinou a ex-mulher, o filho e mais 10 pessoas em uma festa de Réveillon em Campinas. Antes de cometer o ato, escreveu e enviou cartas que tentam explicar as motivações do crime. E é evidente que a chacina foi cometida por ódio às mulheres.
Em poucas linhas, a palavra “vadia” é usada 12 vezes, como sinônimo de mulher. Ele tenta justificar a barbárie dizendo que Isamara Filier, a ex-mulher, não permitia que ele visitasse o filho. A chacina só mostra que Isamara tinha todos os motivos possíveis para manter o filho bem longe do pai. Um homem que vê no assassinato de pessoas inocentes um jeito válido de resolver seus problemas definitivamente não é um homem equilibrado ou de “bom coração”.
Nos comentários dos sites que noticiaram a chacina e, depois, a carta escrita pelo pai, comentaristas da internet querem relativizar o crime, dizendo que Isamara teria levado Sidnei à loucura, o privando do convívio com o menino. Não caiam nessa conversa: Isamara e o filho foram vítimas de um homem que odeia as mulheres. Não tem “mas” possível nessa narrativa. Um homem capaz de cometer uma chacina não pode ser transformado na vítima da história.
Não importa se Isamara o privou do convívio com o filho. Não importa o que ela tenha feito. Ele planejou o crime com frieza, escolheu a arma e a situação para assassinar o maior número de pessoas possível. A reação de Sidnei é desproporcional e é um reflexo da sociedade machista e misógina em que vivemos. O Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de feminicídios, em uma lista de 83 países.
Na carta, Sidnei diz que morre por justiça, dignidade, honra e o direito de ser pai. Que tipo de justiça é esse que se pretende defender assassinando pessoas inocentes? Critica bandidos e criminosos como se ele mesmo não estivesse planejando tornar-se um. O único culpado desse crime bárbaro é ele mesmo.