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O amor hoje: por que não desistir de buscar a felicidade a dois?

Novas tecnologias, mais exigências, muito trabalho. São muitos os desafios para os casais que se aventuram nos tempos modernos. À convite de CLAUDIA, especialistas discutem o que influencia os relacionamentos de hoje e por que não desistimos de amar.

Por Luara Calvi Anic
Atualizado em 28 out 2016, 02h22 - Publicado em 8 jun 2014, 22h00
Luara Calvi Anic - Edição: MdeMulher
Luara Calvi Anic - Edição: MdeMulher (/)
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Diante tantas mudanças nos tempos modernos, por que não desistir de buscar a felicidade a dois?
Foto: Thinkstock

“Estamos mal-educados nos relacionamentos”

Xico Sá é escritor, autor de Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (Record)

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“As pessoas se mostram menos dispostas à afetividade, a construir uma narrativa amorosa a dois. Estamos hoje um pouco mal-educados em geral, e mais ainda nos relacionamentos. Existe uma linguagem amorosa que a gente vem se esquecendo de usar – até coisas que podem ser aparentemente banais, como um carinho no restaurante ou em um lugar público qualquer. A paciência, aquela tolerância que era gigante na época da minha mãe ou até nas mulheres da minha geração, diminuiu. Está curta demais (risos)! Essa impaciência aparece logo no primeiro momento.

A mulher sabota, destrói uma história diante de qualquer sinalzinho de incompetência do macho. Algumas nem alertam o parceiro, saem fora na segunda mancada sem nem dizer o que foi. E, como o homem é lesado, normalmente não se dá conta do que rolou mesmo. Aí começa a rever os passos dele: as besteiras que fez, o dia em que chegou mais tarde, o dia em que não dividiu as tarefas, a sujeira que deixou no banheiro. Nesse varejo do lar, nós, homens, acabamos nem percebendo o que aconteceu e dizemos: ‘Pô, mas que mulher maluca, me abandonou!’ Mas sempre há um motivo. Acho que prestamos pouca atenção nos sinais que estão sendo dados. Mas também, quando começamos a prestar atenção, já era! Em duas semanas você já perde o seu amor. Não tem nem acordo.”

“As mulheres hoje têm liberdade amorosa”

Carmita Abdo é psiquiatra e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex), da Universidade de São Paulo

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“Se a gente for pensar no que mudou nos relacionamentos, não temos como não falar da mulher que se casa, tem filhos, separa, resolve viver outra história e leva junto a família. Porque os homens nunca precisaram carregar as crianças nas costas, nunca tiveram que ser canguru na vida. As mulheres, sim. Felizmente, porém, elas ganharam uma situação econômica que permite escolher sair de uma relação. Quando dependiam economicamente do marido, não se davam ao luxo de fazer o que bem entendessem. Hoje elas têm liberdade amorosa. Resultado: estão mais exigentes em todos os aspectos da relação.

E o funcionamento feminino é assim: para continuar interessada sexualmente, ela precisa apreciar o homem como um todo. Ele deve ser um profissional respeitado, um bom pai e um companheiro atraente, ótima companhia para sair. Não foram exclusivamente as mulheres que mudaram os relacionamentos, mas a aquisição por elas do direito de decidir ficar num casamento insatisfatório ou partir foi chave nessa história. No passado, talvez muitas quisessem se separar, mas nem cogitavam. Se voltássemos 20, 30, 40 anos atrás e levantássemos o número de mulheres que, se pudessem, poriam um ponto final no casamento, provavelmente seria um volume semelhante às separações de hoje.”

“A duração do enamoramento tornou-se menor”

Rosa Farah é psicóloga, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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“Não acho que as pessoas estejam mais ciumentas com a internet, mas aquelas que já são de ter ciúme adquiriram mais uma ferramenta para aguçar e expressar esse sentimento. A internet não produz seres humanos novos, ela é apenas um novo ambiente onde as pessoas expressam o que trazem dentro de si. E na rede tudo fica mais evidente, mais perceptível. Uma fase de todo relacionamento, tão mencionada na literatura, é a do encantamento. No começo, tanto você idealiza o outro como procura mostrar só a sua melhor parte. Com o tempo, essas imagens formadas no início são, aos poucos, testadas no cotidiano e ambos vão descobrindo quem é o outro de fato. Se antes vivíamos essa fase dentro de um certo período, esse processo parece ter sido acelerado com a internet e as redes sociais.

Com um giro de informações sobre o outro muito mais intenso, aquele encantamento inicial talvez se desfaça um pouco mais rapidamente. Portanto, minha impressão é de que a duração do enamoramento tornou-se menor. Ao mesmo tempo, a internet traz vantagens para começar novos romances. É um bom canal para as pessoas vencerem as barreiras de timidez, superarem as dificuldades de chegar perto do outro e até viverem a primeira fase do relacionamento. Pode funcionar como um treino para exercitar uma habilidade que, no contato presencial, é mais difícil ter. Com o contato virtual, os tímidos encontram a possibilidade de ir ganhando mais segurança.”

“O casamento faz parte do projeto de ser feliz”

Luiz Alberto Aanns é psicólogo, psicanalista e autor de A Equação do Casamento (Cia. das Letras)

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“Antigamente, havia usos e costumes no casamento, e, em geral, a parte mais dura cabia à mulher, que tinha de ser submissa e abdicar de seus desejos. Hoje, homens e mulheres têm os mesmos direitos e ambos têm de negociar tudo: a escola dos filhos, a cor do sofá e o programa do fim de semana. Além disso, a meta dos dois é buscar a felicidade pessoal, e o casamento faz parte desse projeto de ser feliz de cada um. Assim, se a relação está insatisfatória, muitos apenas se separam. Para dificultar tudo, temos muito mais opções e comparamos nossas possibilidades o tempo todo – afinal, o casamento não é mais indissolúvel e, mesmo depois de nos casarmos, continuamos expostos a tentações.

Nesse novo cenário, todo mundo se tornou menos tolerante com frustrações e mais ambicioso. Esperamos do parceiro sexo fantástico, fidelidade, carinho, charme, que seja bem-sucedido, tenha boa aparência, gostos e interesses parecidos com os nossos, que seja bom pai ou mãe etc. Diante de divergências, nós ou brigamos ou engolimos sapos. O que sabemos é que aqueles que lidam bem com divergências encontram mais facilidade para alinhar e ajustar as dificuldades naturais que aparecem nas relações.”

“Somos uma espécie que busca vínculos”

Luiz Felipe Pondé é filósofo e colunista do jornal Folha de S.Paulo

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“Viver junto continua sendo uma vocação da espécie. A dificuldade agora é você conseguir manter isso numa vida de muito trabalho, muita competição, muita disputa. Há cerca de 200 anos, o casamento passou a ser visto como instituição romântica, mas o amor não cabe num apartamento de dois quartos pago em 20 anos; ele morre com o dia a dia. Cria-se uma ideia romântica de que não vai acontecer com você o que aconteceu com os outros. Mas não acho que o casamento seja uma instituição falida. Existe ainda uma expectativa em relação a ele. Um dos elementos que também explicam o fato de ser menos duradouro é que hoje em dia todo mundo é mais narcisista, objetivo e pragmático.

Além disso, do ponto de vista masculino, antigamente, para ter sexo com uma mulher que não fosse uma prostituta, você tinha que casar. Hoje é muito mais fácil. Às vezes, você tem até mais sexo quando se separa. Mas somos uma espécie que busca vínculos, a reprodução é feita a dois e os filhos necessitam de pai e mãe. O casamento e a família vão continuar a existir, mas as separações continuarão acontecendo. O que ocorre é que a maior parte das pessoas tem necessidade de construir alguma coisa juntas. Agora, se elas conseguem, aí já é outra história.”

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