Desde a última madrugada não se fala em outra coisa nas redes sociais: os nudes do ator Stênio Garcia, 83, com a esposa Marilene Saade, 47. O casal ficou sabendo do vazamento das fotos na manhã de hoje (30), e suas reações foram bem diferentes uma da outra.
Em entrevista à revista “Quem”, Stênio declarou: “Estava com a minha mulher[…] Que problema tem isso? Não tenho motivo para ter vergonha” e emendou “Por mim eu nem iria [à delegacia prestar queixa], não tenho nada a esconder[…], mas a minha mulher quer entrar na justiça e saber quem vazou essas fotos”. E é o que Marilene está fazendo, abaladíssima com a situação. Em entrevista, ela chegou a dizer que não tem mais vontade de sair de casa e declarou: “Fomos surpreendidos por isso. Eu vou acabar com essa internet e com tudo isso. Vou mover céus e terra contra quem houver, quero criar uma lei”.
Não é de se espantar que as reações sejam tão distintas, pois dizem muito a respeito da forma como a sociedade lida com a nudez e a sexualidade de homens e mulheres. Stênio foi sim zombado pelos internautas, que se escandalizaram ao ver as partes íntimas de um senhor com mais de 80 anos. Mas não passou disso, e muitos inclusive elogiaram sua jovialidade. Só que ninguém o chamou de “piranho” ou “piriguéto” por estar naquela situação. Ninguém proferiu que aquele homem ali ~não se valoriza~. E a gente se depara com esse tipo de julgamento seletivo o tempo todo.
Para além do julgamento, esse tipo de exposição muitas vezes tem consequências graves na vida das mulheres. A jornalista Rose Leonel teve fotos íntimas expostas por um ex-namorado, e, por causa disso, perdeu o emprego. Além disso, o filho dela, depois de mudar de colégio três vezes devido aos comentários maldosos, decidiu mudar de país e ir morar com o pai. Histórias como esta são relativamente comuns na vida das mulheres – mas você lembra de algum homem que tenha tido a vida destruida por causa de fotos nu?
Dois pesos e duas medidas é o jeito padrão de tratar a exposição do corpo de homens e mulheres. Recentemente Justin Bieber postou no Instagram uma foto sua com a bunda exposta. A imagem gerou um mega alvoroço e, é claro, dividiu opiniões. Como é de praxe, os haters aproveitaram para destilar seu ódio, mas a comoção das fãs foi muito maior.
Houve quem se incomodasse com a foto e Bieber acabou deletando-a por ter “constrangido a filha de alguém próximo a ele”. Mesmo sendo considerada ofensiva pelos mais pudicos, as reações negativas foram de “gente, não sou obrigado a ver isso na minha timeline”, mas não de “gente, esse rapaz não se dá o respeito, hein”. Bem diferente foram as reações causadas por Demi Lovato que, sem nudez alguma, exibia o novo visual naquela mesma época (como dá pra ver na imagem acima, feita pela página Empodere Duas Mulheres). Outra coisa: curiosamente, o Instagram nada fez a respeito da publicação e Bieber não recebeu qualquer tipo de penalidade por postar nudez na rede social. O mesmo não pode ser dito de Rihanna, que teve a conta bloqueada em 2014 ao postar uma foto com… a bunda aparecendo.
Segundo o jornal britânico “Mirror”, na época o Instagram teria enviado a Rihanna a seguinte mensagem: “Se você não mostraria essa foto que está pensando em publicar para uma criança, ou para seu chefe, ou para seus pais, você provavelmente não deveria publicá-la”. Pois é, não são apenas os nossos mamilos que recebem censura diferenciada.
Nas redes sociais e na vida, o jeito como a sociedade julga os nossos corpos é totalmente seletiva. Perceba as situações do dia a dia, por exemplo. Um homem de regata e bermuda em uma reunião de negócios é apenas um homem mal vestido. Uma mulher com um decote e uma saia curta em uma reunião de negócios é uma mulher mal vestida + vulgar + “gente, ela realmente precisa disso para se destacar?”. E a reprodução dessa diferenciação taxativa é absolutamente nociva para todas nós. É isso o que nos desvaloriza, é o que nos faz ter horror a uma foto vazada na web. É o que faz com que Marilene Saade esteja vivendo um grande pesadelo nesse momento.
Em vez de incorrer no julgamento fácil de “foi ela que tirou essas fotos”, por que a gente não decide parar HOJE com a reprodução desse conceito de que mulher tem que se dar o valor? No final, é essa definição sexista do tal ~valor da mulher decente~ que acaba por DESVALORIZAR A TODAS NÓS. Vestir a carapuça do falso moralismo pode parecer muito mais simples, mas acredite, esse é um desserviço que você está fazendo a si mesma.