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“Não dá para ser perfeita em tudo. A peteca cai alguma hora”

Abaixo, você confere o nosso bate-papo com Sylvia Coutinho, presidente do Banco UBS no Brasil

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 Maio 2017, 18h33 - Publicado em 7 jun 2016, 17h44
GERMANO LUDERS
GERMANO LUDERS (/)
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Na casa de Sylvia Coutinho, todas as mulheres trabalhavam. Sua avó tinha um ateliê de alta costura, a mãe também foi par ao mercado de trabalho bem cedo. Então parecia natural que ela seguisse o mesmo caminho. Sylvia adorava matemática, engenharia e sempre soube que a realização profissional era essencial para sua felicidade e satisfação pessoal.

Depois de cursar engenharia agrônoma, a praticante de motocross se especializou em economia e conseguiu um emprego no Citibank. “É um ambiente com muitas mulheres na primeira camada, mas, à medida que você vai subindo, vai ficando solitária”, conta, orgulhosa de ter um conselho formado por 50% de mulheres.

Depois de 10 anos morando no exterior, voltou ao Brasil para ser a primeira mulher em comitê executivo do HSBC no país. “Eu não tinha me atentado ao que isso significava, mas a repercussão foi tão grande que percebi que precisava tratar dessa questão da diversidade”, explica.

Em 2013, ela se tornou a primeira mulher presidente de banco privado do país ao assumir o suíço UBS. Mãe de dois, Sylvia garante que o sucesso não teria vindo tão fácil sem o apoio do marido: “Logo no início das nossas carreiras, vi que ele toparia me acompanhar onde eu fosse. Não tinha competição.”

CLAUDIA: Como foi a composição de um comitê igual em gênero?
Sylvia Coutinho: Na verdade, nunca pensei nisso. Nunca fiz escolhas com esse objetivo. Mas também não tinha barreiras e preconceitos na minha cabeça, então permiti que mulheres se destacassem. A diversidade têm trazido muitos benefícios, é estimulante.”

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Muitas mulheres ainda acham impossível chegar ao topo de uma carreira e conseguir ter uma família. O que você diria?
“A cada gravidez, você anda com o peão um passo para trás. São trocas que não podemos evitar. Só que acho que nós mulheres precisamos ter mais tranquilidade com isso. Na minha primeira gravidez, estava trabalhando em um projeto e me colocaram de escanteio quando descobri que esperava um bebê. Foi a primeira vez que senti que ser mulher era complicado. Mas é como uma esteira, as pessoas estão sobre a esteira em movimento, você pula fora para ter o bebê e depois precisa entrar de novo. No final, se você trabalha bem, acrescenta valor e confia, leva de um jeito mais leve. Mas é importante pensar como você está lidando com isso. Na primeira gravidez nem enxoval fiz porque estava envolvida no trabalho. Então hoje já enxergo: sai, curte seu filho e depois volta. Também acho que as empresas precisam tornar esse processo mais fácil. A mulher precisa de ajuda para se recolocar, para voltar. Talvez seja legal oferecer uns cursos de atualização. Outra coisa que precisa mudar são as leis trabalhistas. E se a mulher quiser voltar meio-período no começo, por exemplo? Essa flexibilização faz bem para todo mundo.”

Mas existe um equilíbrio perfeito entre trabalho e família?
“As pessoas precisam parar de achar que é impossível, de sustentar alguns mitos. Eu trabalho para burro, às vezes mais de 12 horas. Deixei de participar de aniversário dos meus filhos, de viajar, tirar férias. Mas não me arrependo, porque não me imagino feliz sem a minha carreira. Não dá para ser perfeita em tudo. Você vai deixar a peteca cair alguma hora, mas é essencial entender quais são suas bolas de borracha e de cristal. A carreira cai no chão, bate e quica de volta, ela não quebra, ou seja, dá para consertar. A família, os relacionamentos, são a bola de cristal. Se cair no chão, quebra. Tenho dois filhos bem criados, que gostam de mim. Hoje trocamos muitas experiências profissionais e sei que consigo ajuda-los mais do que se não tivesse seguido carreira. Sou casada há mais de 30 anos e feliz. Sim, você abre mão de muita coisa e só consegue fazer isso se realmente gostar do que faz.”

Você disse que perdeu algumas situações com seus filhos. Sente culpa ou arrependimento?
“No momento em que estava lá trabalhando, não tinha culpa. Era tão focada no trabalho que esquecia do mundo. Mas claro que depois vinha aquela culpinha. Não acredito em quem fala que não sente culpa. Mas hoje vejo que meus filhos têm orgulho de mim. Claro que eu só posso dizer isso hoje porque tenho um companheiro incrível. Sabia que meus filhos estavam bem assistidos em casa. Normalmente, é a mulher que abre mão da carreira pelo marido. Com a gente, foi o contrário. E para um chegar ao topo, o outro precisa ser flexível.”

De quando você começou na área até hoje, quais são as maiores mudanças?
“A mulher costuma ter uma característica mais comunal, ela se preocupa com o todo, ela é uma líder que olha para o outro. O homem é o que chamamos de agente, ele é prático, faz. Mas vejo um desvio de comportamento na nova geração. Hoje, é mais comum uma mistura dessas características independentemente do gênero. Costumávamos associar a liderança ao agente, mas no mundo de hoje, o comunal faz mais sentido.”

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