Mitos e verdades sobre os 1000 primeiros dias do bebê
O período que contabiliza os 270 dias da gestação e os 730 dias dos dois primeiros anos de vida da criança são o período-chave para o futuro do seu filho
Os primeiros 1 000 dias de vida do bebê traduzem um período-chave que pode influenciar o futuro da criança. É o que contam as pediatras Roseli Sarni e Fabíola Suano no novo livro de SAÚDE De 0 a 1000 – Os Dias Decisivos do Bebê (Abril, R$ 29,90), disponível em bancas, livrarias e e-commerces de todo o Brasil.
Esse período, que contabiliza os 270 dias da gestação e os 730 dias iniciais da vida do bebê, é crucial para o desenvolvimento da criança porque seu organismo está mais suscetível às influências do ambiente nessa fase da vida.
Por isso, é importante seguir algumas recomendações que trazem benefícios a longo prazo aos filhos, como as relacionadas a uma boa nutrição – indicadas, inclusive, pelo programa 1000 Days, da Organização das Nações Unidas (ONU), criado em 2010, que visa a promoção da saúde das gestantes e o estímulo ao aleitamento materno, entre outras ações contra a desnutrição.
Mas o que de fato podemos ou não fazer nesse período em relação aos cuidados com nossos filhos? O que é mito e o que é verdade? Para sanar as dúvidas, listamos recomendações das duas médicas sobre as melhores condutas nos primeiros 1 000 dias de vida do bebê.
É preciso mudar o antigo estilo de vida com a chegada do bebê
Verdade. De acordo com as médicas, é preciso ter consciência de que tudo vai mudar quando for tomada a decisão de ter filhos. Elas aconselham a encarar esse momento como uma boa oportunidade para começar a adotar hábitos mais saudáveis, como diminuir o açúcar, o sódio e a gordura das refeições preparadas em casa e dar preferência a hortaliças e frutas.
A alimentação saudável, além de balancear os níveis de nutrientes no organismo, ajuda na redução de gordura – que também pode ser estimulada com exercícios físicos regulares.
As autoras também alertam as futuras mamães sobre a ingestão de bebidas alcoólicas no dia a dia. Embora o álcool não seja inimigo incondicional do organismo, pode acarretar problemas à gestação em momentos-chave – como na fase do desenvolvimento do sistema nervoso do feto.
Gestantes podem praticar exercícios físicos
Verdade. A grávida ativa gasta calorias na medida certa e fica cheia de disposição para as tarefas do dia a dia e pronta para o retorno à rotina pós-parto, apontam as pediatras.
Além disso, as atividades são benéficas para o bebê, que tende a nascer com peso e tamanho adequados.
Os hábitos da mãe influenciam na configuração do DNA do bebê
Mito. Embora condições como stress, tabagismo e alcoolismo tenham o poder de regular e ativar os genes, as maiores evidências científicas apontadas pelas especialistas mostram que certos nutrientes e substâncias vindos dos alimentos são os que, de fato, são capazes de mexer com a leitura do DNA do embrião.
O homem deve cuidar da saúde com a chegada do bebê
Verdade. O pai é um dos protagonistas nos primeiros 1 000 dias da criança e seu estilo de vida influencia na saúde do bebê, apontam Roseli e Fabíola.
Por isso, é importante que o homem mantenha atividades físicas regulares, não fume e tenha uma alimentação regrada.
Um estudo da Universidade de São Paulo em parceria com o Georgetown Lombardi Comprehensive Cancer Center, nos Estados Unidos, observou que a alimentação paterna pode influenciar no desenvolvimento de câncer de mama nas filhas.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas ofereceram uma dieta rica em banha de porco a um grupo de roedores, a outro uma ração feita de óleos vegetais e a um terceiro uma dieta-padrão.
Os estudiosos observaram que a maior incidência de tumores ocorreu nos filhotes fêmeas de roedores que se alimentaram de banha, em comparação com as demais.
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Engordamos porque comemos por dois
Mito. Os guias mais modernos de alimentação preconizam uma alimentação balanceada como um todo, sem enaltecer nem depreciar ingredientes ou alimentos específicos para a dieta da gestante. Mas é importante lembrar que a grávida não pode comer por duas pessoas. Afinal, naturalmente a mulher já ganha peso devido à alteração hormonal do organismo.
Os quilos extras, além de prejudicar a mãe, contribuem para alterações no metabolismo do feto. A obesidade, portanto, chama a atenção quando ocorre.
Gelo ajuda a atenuar os enjoos
Verdade. Recorrer a gelo ou a alimentos gelados pode amenizar as náuseas provocadas pelo aumento dos níveis de progesterona, estrogênio e hCG, muito comum nos primeiros três meses de gravidez.
Outra dica é fracionar a alimentação ao longo do dia: fazer refeições pequenas e frequentes e evitar o jejum.
Bebês ouvem o que falamos
Verdade. A orelhas se formam no primeiro trimestre de gravidez e, após o quarto mês de gestação, o bebê já tem a audição desenvolvida.
A partir daí, é possível conversar com ele, o que contribui com o desenvolvimento de sua linguagem.
A criança pode comer alimentos sólidos aos 5 meses de vida
Mito. Os alimentos sólidos são permitidos somente a partir do sexto mês porque é nessa etapa que a criança se torna apta a amassá-los com a língua – mesmo não tendo dentição – e seu sistema digestivo se encontra mais maduro.
Além disso, nessa fase o leite materno já não supre as necessidades nutricionais do bebê, que precisa de reforços externos para complementar a dieta.
A gravidez altera nossas emoções
Verdade. A enxurrada de hormônios a que a mulher é submetida durante a gravidez (como estrogênio, progesterona e lactogênio placentário) e após o parto (prolactina) interfere no aspecto emocional.
O corpo pode enviar sinais falsos da hora do parto
Verdade. O corpo costuma dar sinais do tão aguardado desfecho da gravidez. A barriga tende a baixar, por exemplo, porque o bebê se encaixa e fica na posição para nascer.
Outro sinal que o organismo envia são as contrações uterinas. É importante, porém, diferenciar as contrações reais das falsas, conhecidas como contrações de Braxton-Hicks.
Para que você saiba identificá-las, a dica é atentar para a frequência e a dor que elas provocam. As contrações legítimas são ritmadas e ficam intensas com o passar do tempo. As falsas são fracas e curtas (há mulheres que nem as percebem).
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O pós-parto interfere no estado emocional da mãe
Verdade. Conhecido como puerpério, o pós-parto provoca modificações no organismo da mulher. O útero, aos poucos, volta ao tamanho normal e os demais órgãos se reacomodam. Os níveis hormonais também se alteram, provocando certa melancolia na mãe.
A criança não deve ser matriculada na escola antes do primeiro ano de vida
Mito. As crianças de hoje vão à escola bem antes do primeiro aniversário – diferentemente das de antigamente, que costumavam ingressar nas unidades de ensino aos 4 ou 5 anos.
A angústia dos pais nesse momento é normal, comentam as médicas no livro. O cuidado é para que isso não repercuta no filho e desperte nele o sentimento de que está sendo abandonado ou deixado sozinho no local.
O ideal é que os pais se mantenham tranquilos e passem para a criança a sensação de segurança para iniciar essa nova etapa da vida.
O leite materno é importante para o bebê
Verdade. O aleitamento é essencial para a alimentação das crianças e deve ser feito de modo exclusivo até os 6 meses e complementado com outros alimentos até 2 anos ou mais.
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Podemos estimular o cérebro do bebê nos primeiros 1 000 dias de vida
Verdade. Até o segundo ano de vida, o cérebro apresenta uma plasticidade incrível que favorece o aprendizado. Os neurônios estão a todo vapor para realizar sinapses e moldar o sistema nervoso.
Estimular emoções e reações do bebê com o meio em que vive é importante, mas não se deve atropelar etapas. Leve em consideração a faixa etária da criança para não confundir seu desenvolvimento motor e suas capacidades cognitivas.
Longos períodos de sono são fundamentais para o bebê
Verdade. Dormir é essencial nos primeiros 1 000 dias do bebê. É durante o sono que acontecem as sinapses entre os neurônios do cérebro. Ele também traz ganhos na atenção, na memória, na aprendizagem, no controle emocional e nas habilidades motoras.
Avós podem interferir na criação dos netos
Mito e verdade. A troca de experiências e a transmissão de conhecimentos são muito bem-vindas com a chegada do novo integrante da família. E é por isso que a presença dos avós costuma ser muito agradável nesse momento.
Contudo, às vezes eles agem de maneira equivocada – sem intenção – e acabam desautorizando os pais diante dos netos.
As autoras recomendam, nesse caso, chamá-los para conversas com delicadeza, em que se esclareça o que não é de agrado dos pais para que sejam dosados o SIM e o NÃO, por exemplo, em caso de avós permissivos demais.
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