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Mães e lésbicas: conheça a história dessas três famílias

Amor materno não tem nada a ver com orientação sexual! Conheça a história de mulheres que nos fazem refletir sobre o real sentido de família.

Por Júlia Warken
Atualizado em 11 abr 2024, 18h05 - Publicado em 29 out 2015, 17h10
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  • “Mãe é mãe”. Esse dito tão simples ainda é repetido com frequência, pois carrega consigo um grande significado: o sentimento que une mãe e filho é algo universal. É amor, entrega e dedicação profunda. É um sentimento que independe de raça, classe social ou credos. E também independe de orientação sexual! Amar outra mulher não torna uma mãe menos mãe, mas o preconceito ainda é enorme. Mães lésbicas são tão reais quanto todas as outras e fazem parte desse novo cenário das relações familiares. Conheça aqui a história de três mulheres que nos fazem rever o real sentido de família: é sobre seguir o coração, mesmo sem seguir normas impostas.

    Mirella Ferraz tem 29 anos e está à espera do seu primeiro bebê. Brasileira de Campinas/SP, ela mudou-se para a Inglaterra em 2010 e hoje vive com a britânica Fiona Tilley, sua esposa desde 2013. “A vontade de ser mãe sempre existiu pra nós duas, e quando casamos a gente sabia que estava dando mais um passo nessa direção”, conta. Para realizar o sonho, elas optaram pela fertilização artificial. O menino chega em dezembro e, como todas as grávidas, Mirella e Tilley estão ansiosas e curtindo muito essa fase. “Me sinto muito privilegiada por viver a gravidez, por sentir todas estas mudanças malucas (e às vezes caóticas) que estão acontecendo interna e externamente. Às vezes fico de saco cheio de não dormir direito, de não caber nas roupas, de não ter a mesma energia de antes, etc. Mas a real é que poder gerar um ser dentro da gente é uma loucura – e uma mágica – única! Nada se compara a isso”.

    Mirella também conta que as famílias apoiaram inteiramente a decisão do casal. “Levou um tempo para que meus pais se acostumassem com a ideia de ter uma filha casada com outra mulher. Mas quando sentiram o amor que há entre a gente, esqueceram o pequeno detalhe que é o nosso sexo. No final, o que importa é que estamos megafelizes, por isso nossas famílias dão a maior força!” O pequeno ainda não tem nome, mas já tem algo muito mais importante: uma família cheia de amor que não vê a hora de recebe-lo.

    source: imgur.com
    As mamães Mirella e Tilley: ansiosas pela chegada do primeiro bebê

    Katia Auvray, de 61 anos, também é mãe e lésbica, mas sua trajetória é completamente diferente. “Divido a minha vida em duas partes iguais: até os 30 anos, namorei muitos homens, casei-me e tive dois filhos. A partir daí, me apaixonei pela primeira mulher, o que foi decisivo para o meu pedido de divórcio. Coisas do coração!”, conta ela. O processo de aceitação junto à família foi longo, pois Katia quis preservar seus filhos pequenos no início. “Vinte anos atrás as coisas eram muito diferentes! Quando os dois já eram adolescentes, conversamos sobre o assunto e eles me disseram que já sabiam e que estava tudo bem”.

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    Katia conheceu sua atual esposa, Rose Ferrari, há 20 anos, mas a dificuldade em lidar com o relacionamento homossexual fez com que elas ficassem quatro anos afastadas. Antes da separação, elas passaram 16 anos morando juntas em quartos separados, para evitar constrangimentos. “Durante mais de uma década nos esforçamos tanto para esconder o nosso amor, que quase nos esquecemos dele. Nos sufocamos, foi mutilante. Quando nos reencontramos, tomamos a grande decisão. Avisei aos meus filhos sobre o retorno – o que os deixou muito felizes, por gostarem bastante dela – e deixei muito claro: assumiríamos nosso relacionamento para todos”.

    Em agosto passado as duas firmaram a união estável no cartório, acompanhadas de familiares. Katia tem quatro netos (com idade entre 6 e 10 anos), e conta que explicar a situação aos pequenos não foi um bicho de sete cabeças. “Meu filho mais novo esclareceu as crianças com tudo o que tinham direito (risos). O mais velho foi reticente e eu mesma respondi às questões simples que minha neta de 10 anos me fez, tais como:

    – Vovó, por que você voltou a morar com a tia Rô?
    – Porque nos casamos.
    – Tipo assim… namoradas?
    – Não. As pessoas namoram e depois se casam.
    – Depois que você se separou do vô, você não conheceu ninguém?
    – Ninguém quem? Um homem?
    – É.
    – Me apaixonei por uma mulher, e ficou assim.
    – Mas não pode casar…
    – Pode sim, querida [e expliquei rapidamente como isso acontece hoje].”

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    Ela relembra que o diálogo foi um pouco assustador no início, mas que tudo correu bem. “Foi incontestavelmente libertador. As pessoas têm o direito de serem quem são, inteiras”. Se uma mulher não se torna menos mãe (nem menos avó) ao divorciar-se a construir uma nova história com outro homem, por que haveria de ser diferente quando ela resolve seguir a vida ao lado de outra mulher?

    source: imgur.com
    Katia e Rose oficializando a união de 20 anos. “Todo mundo tem o direito de viver a vida em plenitude”

    Para Marisol Pacheco, de 48 anos, a história aconteceu da forma inversa: ela primeiro encontrou seu grande amor e depois decidiu que era hora de ser mãe. Junto com a esposa Amanaide Xavier, ela é mãe da Laura e do Francisco, que têm 11 e 5 anos. A história dessa família começou na Casa de Passagem Anjo da Guarda, um lar em Novo Hamburgo/RS que abriga crianças de 0 a 12 anos. Ambas trabalhavam na instituição (Marisol como educadora social e Amanaide como voluntária) e lá vieram a conhecer seus filhos. “O contato com os bebês e as crianças da Casa de Passagem despertou o nosso lado maternal”, relembra Marisol.

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    Laura foi adotada aos quatro anos de idade, após esperar um ano em meio a todo o processo legal. “De início, a adoção foi indeferida pelo promotor da vara da infância, por entender que um casal homoafetivo não tem condição de adotar. O juiz, por sua vez, bateu o martelo e autorizou”. Marisol conta que o critério definitivo para a decisão favorável foi o fato de que Laura possui um doença crônica que inspira cuidados. Depois disso, o processo do Francisco foi muito mais rápido e ele pôde ser adotado com apenas cinco meses de idade. Ela conta que explicar para as crianças sobre a configuração familiar foi algo muito natural e 100% às claras. “A Laura acompanhou todo o processo da sua adoção. A levávamos sempre [ao fórum] conosco e ela própria escolheu como ficaria seu sobrenome. Ela e o irmão têm os nossos dois sobrenomes: Xavier e Pacheco”.

    Aos três anos Francisco foi diagnosticado com autismo e, por conta disso, fica confuso e sempre pergunta sobre seu nascimento. Mesmo assim, nunca faltou paciência e dedicação para explicar sobre como tudo aconteceu. “A nosso história daria um livro lindo”, emociona-se Marisol.

    source: imgur.com
    Marisol (ao centro) com a esposa e os filhos. “O amor está no espírito e não no corpo”.

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