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Home office: cada vez mais mães optam por trabalhar em casa

Opção para mães que querem apostar na carreira sem se afastar dos filhos, o home office começa a crescer no Brasil

Por Larissa Purvinni (colaboradora)
Atualizado em 31 out 2016, 11h31 - Publicado em 6 jul 2015, 09h43
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  • Voltar da licença-maternidade é um momento duro. Depois de passar meses grudada com o filho, é difícil ficar oito horas longe do bebê todos os dias, sem contar o tempo perdido no trânsito, em média 47 minutos de carro e 57 de transporte público, em uma grande metrópole como São Paulo.

    Se você não se vê abrindo mão do seu emprego, o home office aparece como alternativa lógica: você economiza o tempo de deslocamento, continua amamentando, não precisa faltar se a criança adoecer e, melhor, não fica com o corpo no trabalho e a cabeça na criança.

    Pena que essa opção ainda não seja tão evidente do ponto de vista das empresas. Apesar de estar crescendo no Brasil, esse regime de trabalho ainda é adotado apenas por 15% das companhias, contra 65% no Reino Unido, 60% na Holanda e 58% na Alemanha, segundo estudo de 2014 da Top Employers Institute, empresa holandesa que certifica práticas de RH.

    Outra possibilidade que agrada às mães é o trabalho com tempo flexível, aceito por 45% das empresas brasileiras contra uma média mundial bem mais alta: 77%. Não à toa, nosso país tem uma das menores taxas de retorno ao trabalho após a licença-maternidade: pressionadas a escolher entre filhos e carreira, muitas ficam com a primeira opção. Segundo pesquisa da consultoria Robert Half, feita em 2013, 85% das empresas nacionais responderam que menos da metade das funcionárias reassume seus postos após ser mãe, contra a média global de 52%.

    Optar entre a paixão pelo trabalho e o amor aos filhos não deveria ser uma escolha. Queremos ambos. E, aos poucos, as empresas começam a entender que, afinal, yes, we can. O quadro já foi pior: em 2013, apenas 6% das companhias brasileiras tinham programas de trabalho em casa. Ou seja, de um ano para o outro o aumento foi de 150%.

    A entrada das novas gerações no mercado de trabalho provocou um questionamento em torno do que realmente importa. Enquanto a geração X (nascida entre os anos 1960 e 1980) estava em busca de um crescimento profissional a todo o custo, a Y (nascida entre os anos 1980 e início do século 21) valoriza o tempo livre e a qualidade de vida. “Não faz mais sentido enfrentar horas de engarrafamento para estar no escritório, quando o seu trabalho pode ir até você com a ajuda da tecnologia”, diz Marina Sell Brik, da GoHome, empresa especializada em home office, com vários livros sobre o tema, entre eles Trabalho Portátil (AB), e Home Office & Filhos (e-book).

    Pesquisa da rede social LinkedIn com mulheres de 13 países, incluindo o Brasil, mostrou que 63% das mulheres definem o sucesso profissional como equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Além do aspecto geracional, a influência a favor da solução caseira vem de fora. “É mais comum as empresas estrangeiras trazerem a cultura do trabalho flex e implementarem nas sedes aqui no Brasil”, explica Marina.

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    Na Volvo do Brasil, multinacional com sede na Suécia, após a licença-maternidade, a funcionária pode optar por ficar meio período trabalhando em casa até o bebê completar 1 ano. Geralmente, são os cargos mais executivos que conseguem ter uma jornada flexível, pois não precisam “bater cartão”. Raquel Bossle, mãe de Isabela e Victor, foi a primeira mãe a participar do projeto-piloto da empresa no Brasil. A chefe do Departamento de Recursos Humanos na época, Sonia Gurgel, teve a iniciativa de implementar o home office para que mulheres voltassem gradativamente da licença. “Eu era muito focada no trabalho, mas, depois da maternidade, tudo mudou. Queria ficar mais tempo junto à minha filha”, conta Raquel.

    Sem day off

    Para que o acordo funcione, trabalhar em casa não pode ser considerado como um dia de folga. “A empresa deve estabelecer regras e expectativas claras”, diz Alessio Tanganelli, diretor regional para Itália, Espanha e Brasil do Top Employers Institute.

    Além do desafio de conseguir se concentrar no trabalho sabendo que os filhos estão ali ao lado, é preciso manter-se perto do coração da chefia, mesmo estando longe dos olhos. Segundo estudo realizado durante mais de uma década pelos pesquisadores Kimberly Elsbach e Daniel Cable, da Universidade da Califórnia e da London Business School, respectivamente, quem trabalha de casa tem menos chances de ser promovido. Manter contato constante com os colegas, e respeitar prazos e metas, é fundamental. “Lembro de que havia um certo pudor dos colegas em entrar em contato. Eu sempre reforçava: ‘Podem me ligar, estou trabalhando!'”, ri Raquel, para quem é preciso ter confiança nos funcionários, como ela confia na equipe. “O que realmente importa? Que o trabalho seja entregue”, resume.

    Questões culturais e legislação trabalhista rígida são apontados como os principais obstáculos para o home office no Brasil. Enquanto alguns países incentivam a prática, como os Estados Unidos, que oferecem desconto considerável no IPTU para os adeptos, por aqui ainda não há nada parecido, embora, em 2011, os direitos do trabalhador em home office tenham sido equalizados aos do trabalhador que fica na empresa.

    A adoção do esquema de trabalho remoto pressupõe a substituição de uma relação de controle por outra baseada na confiança. “A empresa ganha em produtividade, entrega e concentração e o colaborador ganha em qualidade de vida, equilíbrio e proximidade com filhos e família”, afirma Paula Pessoa, gerente de Recursos Humanos da Robert Bosch América Latina, que implementou o programa Jornadas Flexíveis entre 2013 e 2014.

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    O home office é uma ótima maneira de reter talentos femininos. Na Pfizer, entre 2008 e 2014, o número de mulheres em cargos executivos aumentou de 23% para 50%. A empresa oferece opção de home office uma vez por semana e horário de trabalho flexível. Às sextas-feiras e nas vésperas de feriados prolongados, as mães podem sair duas horas mais cedo, diz Ana Claudia Konichi, coautora, com Patricia Travassos, do livro Minha Mãe É um Negócio (Saraiva).

    Segundo ela, os gestores perceberam que, após a maternidade, as mulheres desenvolvem uma série de habilidades que podem ser muito importantes no mundo corporativo: capacidade de liderança, de reconhecer talentos, motivação e resiliência.

    Na IBM, por exemplo, as políticas de flexibilidade incluem, além do home office, com possibilidade de trabalhar pelo menos 80% do tempo de casa;a jornada de trabalho individual, que proporciona ao funcionário a oportunidade de escolher o seu horário de entrada/almoço e saída no trabalho; e a semana de trabalho comprimida, em que é possível aumentar o número de horas de trabalho em alguns dias para se ausentar meio período ou período integral em outros.

    A reivindicação de estar mais perto dos filhos não é uma exclusividade feminina. A IBM também tem um programa de pós-natal, que permite que os homens trabalhem três dias da semana de casa nos primeiros meses do bebê.

    Empreendedorismo materno

    A maternidade foi o que levou 67% das mães que atualmente são empresárias a empreender, segundo pesquisa realizada para o livro Minha Mãe É um Negócio. O levantamento aponta que 36% das mães disseram que ganham menos do que antes, mas 75% delas afirmaram que estão mais realizadas profissionalmente.

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    Para as mães empreendedoras, o conceito de sucesso tem outro significado: ele não está relacionado apenas ao retorno financeiro, mas ao equilíbrio entre o desempenho do negócio e sua satisfação como mãe. Na pesquisa, as mulheres revelaram que com o empreendedorismo maternoa culpa diminuiu – 45% – ou acabou – 24%.

    Mas empreender não é para as fracas: a mulher precisa lidar muito bem com a instabilidade, já que o salário não cairá na conta todos os meses eo empreendimento provavelmente não será lucrativo logo no início. “Também é preciso saber que não estará 100% disponível para os filhos e que irá trabalhar mais do que antes”, diz Ana Claudia Konichi.

    O dia a dia pode ser bem puxado: “Como sou empresária, nem tive licença: no dia de ir para a maternidade, ainda estava terminando alguns trabalhos. Logo que voltei pra casa, já estava no computador de novo. Avantagem é que, mesmo trabalhando, minha filha fica sempre ao meu lado – a não ser quando tenho compromissos fora”, conta Adriane Werner.

    Depois que se tornou mãe, Christiane Ferreira trocou o trabalho como professora de educação física em uma academia pelo de personal trainer, mais flexível. Atualmente, ela complementa os ganhos vendendo produtos por telefone. “Até minha filha completar 5 anos, precisava da ajuda da minha mãe. Hoje só necessito que meu marido a busque duas vezes por semana na escola. A dificuldade é que a tarde passa voando, por isso tenho de ser ágil”, diz ela, que se sente um pouco culpada por não conseguir cuidar tanto da casa, já que não tem empregada ou diarista. Como na época em que você estava no escritório, é preciso se conscientizar de suas limitações de tempo e de energia. Você não vai conseguir ser uma excelente mãe e uma profissional exemplar em tempo integral. Respire. Você está em casa. Seus filhos estão perto. Isso é o que importa.

    Meio casa, meio escritório

    Para quem quer ficar perto dos filhos, mas sente falta do ambiente de troca de ideias da empresa, começa a surgir um novo conceito, o co-working familiar, compartilhamento de espaço de trabalho com outras famílias. Na Casa de Viver (casadeviver.com.br), em São Paulo, mães pagam uma taxa que varia de 650 a 950 reais por mês para usar o local para trabalhar e contam com o apoio de cuidadores, que ficam com as crianças enquanto elas estão ocupadas. “Em 2013, eu já trabalhava em um escritório de advocacia, como tradutora. Embora minha jornada fosse de seis horas por dia, meus horários não batiam com os do período escolar da minha filha de 5 anos”, diz Carina Lucindo, uma das fundadoras da Casa de Viver. Durante um processo de mentoria, surgiu a ideia de um espaço onde mães (e pais) pudessem trabalhar com os filhos por perto.

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    Como fazer o home office funcionar

    Separe as coisas

    Estabeleça um ambiente à parte para seu escritório: pode ser um quarto ou garagem.

    Encaixe os filhos na agenda

    Separe um tempinho para participar da rotina deles, por exemplo levá-los ao treino de futebol. Aproveite sem culpa mais esse privilégio que o home office pode oferecer.

    Equipe-se

    Computador com os programas que você precisa instalados, conexão coma internet, linha própria. Cheque se a empresa fornece.

    Sem interrupções

    Deixe claro que só estará disponível para os filhos durante algumas horas do dia. E, mesmo nesse período, pode ter de resolver alguma urgência.

    Emergência

    Se estiver ao telefone, avise que só pode ser chamada em caso de emergência. Defina emergência com exemplos concretos: “não encontro meu caderno”, não; “machuquei a mão”, sim, por exemplo.

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    Monte uma rede de apoio

    O melhor é ter uma babá. Se for impossível, escolinha meio período e ajuda de parentes e vizinhos no contraturno.

    Envolva seus filhos

    De vez em quando, deixe que seus filhos entrem em seu escritório e mostrem algum projeto que estão desenvolvendo.

    Comemore

    É com o dinheiro ganho no seu trabalho que você pode prover bem-estar aos filhos e, ao trabalhar de casa, os presenteia com um tempo que eles não teriam se você trabalhasse em um escritório tradicional.

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