Você já deve ter lido sobre o quanto o feminismo é importante e conferido algumas das conquistas que as mulheres alcançaram graças a ele. A fim de espalhar ainda mais essa ideia e com o objetivo de lutar contra o machismo que nos cerca diariamente, a administradora Karina Aguiar, de 30 anos, criou as tirinhas da Guta Garatuja – e elas são incríveis!
De acordo com a autora do projeto, a personagem “nasceu” em outubro de 2015 e a ideia surgiu depois de uma discussão com um colega que costuma ter um discurso bastante machista. “Fiquei pensando nas coisas que eu gostaria de ter falado, mas não falei, por sentir que seria inútil, uma vez que ele não estava disposto a me ouvir”, lembra Kaká. “Decidi criar, então, uma tirinha que retratasse aquela situação, de forma descontraída, e que eu pudesse postar na minha rede social sem dar muito na cara que era sobre aquela pessoa. Enquanto eu criava a primeira tirinha, já tive várias ideias para outras. Quando vi, eu já tinha criado sete tirinhas na sequência e a raiva que senti durante a discussão tinha passado. Eu me diverti com a Guta desde o primeiro momento. Quando eu acabava uma tirinha, eu pensava: ‘Cara, essa Guta é demais! Não leva desaforo pra casa’“, conta.
Para a missão de dar vida a Guta, as tirinhas foram as escolhidas, graças ao caráter didático e descontraído com o qual o formato pode passar uma mensagem, ainda que seja sobre um tema tão pesado e que nos machuca tanto como o machismo. No que diz respeito ao processo produtivo, a ideia, o texto e as ilustrações são todas tarefas de Kaká, que trabalha no horário comercial e se dedica a Guta em seu tempo livre. “Em temas como o feminismo, o conteúdo é mais relevante que a estética. Depois que as tirinhas começaram a fazer sucesso, fui me informar mais sobre programas de ilustração e coisas do tipo e, em breve, a Guta terá uma resolução melhor, pois essa é uma solicitação constante dos meus seguidores”, comenta.
“No começo, eu postava apenas na minha página pessoal, a página da Guta não existia, então, somente meus amigos recebiam. A reação foi imediata. Recebi várias mensagens de amigas que se identificavam com a situação, falando ‘Nossa, que bom que você me entende’, ou ‘Eu achava que era só comigo que isso acontecia’. Vi um propósito aí: mostrar para essas mulheres que elas não estão sozinhas, que essa opressão que elas sofrem, sofremos juntas. Esse senso de união nos torna mais fortes e corajosas“, relembra a autora. “Adoro ver a reação do público. Muitas mulheres marcam seus companheiros nos posts para dar uma (in)direta e isso acaba levantando discussões construtivas. Em outros casos, as seguidoras marcam suas amigas e enchem a página da Guta de sororidade. Essa é a parte que eu mais gosto!”, comemora.
Embora muitas tirinhas sejam completamente autobiográficas, outras são baseadas em situações que aconteceram com amigas de Kaká ou mesmo com leitoras, mas, mesmo assim, a autora sempre coloca o seu ponto de vista em cada uma das criações. “Toda situação machista é uma potencial tirinha. Desde que comecei a publicar, recebo inúmeros contatos de amigas com ideias. Virou até uma rotina: quando uma amiga presencia o machismo, ela vem me contar como uma ideia de tirinha. Nesse processo, conecto-me com mulheres que nem tinha muita intimidade e tenho a oportunidade não só de criar uma tirinha sobre o tema, mas também de ajudá-las quando necessitam“, pontua. Além disso, Kaká se inspira em diversos cartunistas renomados. “A principal é a Sarah Andersen, ela é genial. Mas tenho influência de vários(as) outros(as), como Laerte, Tom Fonder e Franziska Becker, entre outros”, exemplifica.
Com quase 40 mil seguidores no Facebook, sendo 98% mulheres e 87% delas na faixa entre 13 e 25 anos, Karina afirma que o único objetivo do projeto, no momento, é atingir o maior número de pessoas e problematizar as atitudes machistas cotidianas. “Quero que mulheres se identifiquem com a situação e se sintam empoderadas a combater o machismo do dia a dia. Quero que a graça das tirinhas evidencie como são absurdas algumas situações e traga um senso de urgência em combatê-las. Já os homens também podem identificar opressões que eles mesmos cometem ou presenciam e, entendendo o porquê disso ser um problema, podem nos ajudar a lutar contra essa questão”, explica.
No entanto, apesar do sucesso da personagem, Karina conta que não tem a intenção de se tornar uma figura pública por diversos motivos. “Primeiramente, por ser uma mulher abordando um tema que gera bastante polêmica nas redes sociais, eu prefiro manter minha identidade preservada para evitar qualquer agressão. Segundo, eu não gosto de personificar a Guta. Ela não sou eu. Nem mesmo leva meu nome. A Guta somos todas nós e, por isso, gosto de deixá-la falar. Ela me representa“, finaliza.