Na nossa sociedade patriarcal, nós mulheres fomos criadas pra termos um par. Pra arranjar um marido, ter filhos, formar uma família e sermos felizes para sempre.
Claro que quando falamos de gente preta essa ideologia muda bastante. Porque a mulher preta no Brasil foi criada pra ser destemida, guerreira, cuidar da família, ajudar a criar os irmãos, ser o braço direito da mãe solo, e muitas vezes se tornar mãe solo também. Nós mulheres pretas já nascemos com aquele DNA da batalha diária, da jornada dupla ou tripla, dos peitos de aço que resolvem os problemas de dentro de casa e de mais um monte de gente em volta.
Mas nessa velha perspectiva da família tradicional brasileira, eu sonhava mesmo em arrumar um cara bacana e poder ter minhas crias. A imagem que desde a adolescência fiz na cabeça era de um cara preto retinto, que tivesse gosto pelos estudos, que militasse pela negritude e, se possível, que tivesse uma família minimamente com consciência de classe e de raça como a minha.
Mas a cada tentativa de manter um relacionamento com algum cara por quem eu me interessasse, eu criava uma bela desculpa pro final não ter sido feliz.
O primeiro era de uma família bastante amiga da minha. Mas ele só me procurava quando ele estava namorando (sempre mulheres brancas, diga-se de passagem). Me queria como um lanchinho delivery. Ao perceber que ele jamais me assumiria, resolvi acreditar que era porque ele estava batalhando pela própria carreira e não tinha tempo pra estar comigo.
O segundo até que manteve um rolo meio longo comigo, mas resolveu não me assumir porque voltou com uma namorada da adolescência (branca por acaso). Eu entendi que realmente ele não insistiu porque morávamos em cidades diferentes.
O da vez segue me cercando e fingindo que tá solteiro, mas como as redes sociais estão aí pra expor a vida alheia, eu estou ciente de que ele não larga a namorada branca por nada.
O fato é que a mulher preta teoricamente se acostuma a estar sozinha. Ou se contenta em ser a opção da madrugada só pra se sentir amada de alguma forma.
E todos esses episódios se resumem ao que dentro da militância chamamos de “solidão da mulher negra”. Nesse momento muitas mulheres dirão: “eu não sou negra e tenho dificuldade de manter um relacionamento“. E o que eu posso explicar é que, por mais que você ainda não tenha um par, o que te impediu de ter um, fatalmente, não foi a cor da sua pele. Sou uma mulher preta, atriz, vivo da minha arte, tenho 31 anos, estudei a vida inteira em escola particular e nunca tive um relacionamento.
Ouvi de um amigo preto uma vez que ele não namorava mulher preta porque a gente dá muito trabalho. Eu tenho que concordar um pouco com ele, porque a gente dá todo tipo de trabalho e o principal é conseguir colocar nossos homens no mercado de trabalho, porque não conseguimos crescer sozinhas. Fazemos questão de levar os nossos no mesmo barco.
Tive que correr pra terapia pra aprender a lidar com essa tal solidão e isso tem me ajudado muito. Mas tem duas coisas que as paredes do consultório não conseguirão me dar: o afeto e a pele.
Enquanto o tal relacionamento não chega, eu vou cuidando de mim mesma, porque tô aprendendo a me amar acima de tudo.
Feliz Dia dos Namorados pra quem namora. E pras minhas manas pretas vai o meu recado: pratiquem autocuidado! Nossa saúde mental agradece.
VOTE e ajude a escolher as vencedoras do Prêmio CLAUDIA
Leia também: Casal se reencontra em asilo e volta a namorar 65 anos depois de terminar noivado
+ Veja as notícias que mais bombaram nas redes sociais