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Encontro-me em um dilema pelo qual muitas de nós já passaram ou ainda podem passar: ter ou não o segundo filho. Essa parece ser uma decisão mais difícil do que ter o primeiro, que acontece meio que instintivamente. Namoramos, casamos, engravidamos. Pronto, nossa missão parece cumprida. O problema é que, após o primogênito, a ficha cai e sabemos a jornada que nos espera. Acabamos nos sentindo mais responsáveis por essa escolha, mesmo que aconteça “sem querer”.
Começar tudo de novo: noites sem dormir, enjoos e cólicas, será? Ao mesmo tempo, olho para bebês na rua e tenho uma saudade doce do que vivi, da amamentação e das descobertas entre mãe e bebê. Então, ouço a voz da consciência (e mais milhares de pessoas) me dizendo que filho único pode ficar mimado e que é bom ter logo para não deixar uma grande diferença de idade. Mas penso que seria egoísmo ter um filho sem tempo de criá-lo como eu desejo e que, talvez, seja incapaz de me dividir entre duas crianças. Agora, confesso, o que me pergunto de verdade é se conseguiria sentir o mesmo amor incondicional duas vezes.
De repente, a vida me apresenta uma telespectadora, Edileuza, mineira de 47 anos, mãe de 26 filhos. Ela e o marido (pai de todos) são casados há 33 anos e vivem com uma renda de 1,2 mil reais por mês. Os filhos nunca tiveram brinquedos e dormem no chão batido. O arroz que sobra no prato de um vai para o do outro. O caçula, de 1 ano, tem síndrome de Down e, como os irmãos, é apaixonado por essa mãe. Nenhum filho abandonou a escola ou entrou para a criminalidade. Todos obedecem às ordens dela com respeito e não querem sair de perto.
Ao conhecer essa mulher, de sorriso sereno, que passou 15 anos de sua vida grávida, percebo que qualquer questão pode virar uma desculpa e só resta uma a ser respondida: eu quero? Planejar é importante, até pela qualidade de vida que se quer dar ao filho. Edileuza não se orgulha de ver sua prole com frio e fome. Mas ela prova que, apesar da falta de instrução sobre planejamento familiar e conhecimento sobre psicologia infantil, ter amor é fundamental. E é possível ser incondicional 26 vezes.
Fica a dica
· Uma gestação pode ser totalmente diferente da outra. Recomece do zero, até na escolha do obstetra.
· Defina e faça antes da gravidez alguma mudança de imóvel ou reforma para receber o bebê.
· Mesmo sendo a segunda gravidez, não deixe de fazer diário, álbum ou chá de bebê. Os dois filhos merecem.
· Não tenha medo de reutilizar roupas e acessórios do primeiro filho. Poucos se lembram do que um bebê vestiu há pelo menos um ano.
· Por menor que seja o primogênito, ele deve ser avisado sobre a chegada do irmão. Melhor após três meses de gestação.
· Aproveite o planejamento e verifique sua saúde antes de engravidar.
Chris Flores é jornalista, autora do livro Um Bebê Em Casa e apresentadora do programa Hoje em Dia, da Record. |