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O padrasto que continua criando filho mesmo após separação

O empreendedor Leandro Crespo assumiu a responsabilidade afetiva pelo filho da ex-companheira. Hoje, a família continua forte

Por Liliane Prata Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 nov 2017, 09h00 - Publicado em 3 nov 2017, 09h00
padrasto cuida enteado
 (Filipe Redondo/CLAUDIA)
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O casamento acabou; o amor pelo enteado, não. Leandro Crespo, empreendedor, 33 anos, “compartilha” a guarda com os pais biológicos e participa ativamente da educação da criança. Conheça essa história:

“Há seis anos, comecei a namorar a Mariana, que tinha um filho da união anterior. Desde o início, me senti muito aberto ao Vinicius, na época com 3 anos. Não fazia sentido me relacionar com uma mulher que era mãe sem considerar a criança dela. Um ano depois, eu e Mari resolvemos morar juntos. Passei a ter um enteado, com quem convivia diariamente, e isso era uma novidade para mim. Eu me dava bem com o Vini, nos adaptamos rapidamente. Nunca competi com Rodrigo, o pai. O garoto o via duas vezes por mês. É claro que a vida sob o mesmo teto foi nos tornando cada vez mais próximos e com maior interação.

Eu me lembro bem do dia em que a relação se estreitou. Tínhamos saído de São Paulo, onde moramos, para passear em Bertioga (SP). Estava nublado e, num clube à beira da piscina, escutei um menino gritando: “Pai!”. Nem dei atenção porque, afinal, não era para mim. Eu nunca tive filhos. A criança continuou chamando e, então, comecei a procurar pela piscina, com medo de que estivesse perdida. Dei de cara com a Mariana e o Vini acenando para mim. Fiquei emocionado, mas rolou um choque. À noite, conversamos sobre o assunto. Ela disse: ‘É uma responsabilidade grande, a minha, permitir que Vini chame outra pessoa de pai, mas deixei. Queria saber se você ficou à vontade’. Não menti. Eu havia sentido um peso enorme sobre a minha cabeça. Ao mesmo tempo, tinha adorado! A gente não tem que achar uma criança para uma família; precisa encontrar uma família para uma criança. Aquele episódio não fora planejado. Pelo contrário, ninguém havia pedido ao Vinicius para me chamar de pai. Aconteceu.

Fui me vendo íntimo dele; mais pai, impossível. Em uma fase, Vini teve dificuldade para pegar no sono. Às vezes, acordava de madrugada com medo. Preocupado, eu sentava diante do computador e ficava horas pesquisando sobre o tema. Aparecia um monte de sites, mas todos os conteúdos eram voltados para a mulher. Aquilo me incomodou. Da mesma forma que é necessário ter um lugar para a mãe, deve haver espaço para o pai. E para o padrasto. Onde vamos nos informar?

O tempo passou. Vinicius continuou me tratando como pai, embora em algumas situações pronunciasse o meu nome, Leandro, sem deixar de se referir ao Rodrigo como pai. E tudo bem para todos nós. As crianças sabem lidar melhor com as mudanças – somos nós, adultos, que nos atrapalhamos.

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Eu transmiti para a Mari a segurança de que queria assumir afetivamente o Vinicius. Ela permitiu, desempenhando um papel importante nisso. Tenho amigos que são padrastos e desejam dividir os cuidados com os pequenos, mas a mãe não aceita. Acredito que seja plenamente possível assumir essa função sem retirar o poder da mãe e do pai biológico. Depois de uma certa idade, a criança é criada não por dois, mas pela aldeia.

Em novembro de 2016, eu e Mariana começamos a conversar sobre separação, o que acabou ocorrendo no início deste ano. Em janeiro, o diálogo foi estendido ao Vini. “Você não gosta mais da mamãe?”, ele perguntou. “Gosto, mas agora estaremos juntos de forma diferente”, respondi. E não era papo furado. Ela e eu temos uma ótima relação de amizade. Mantemos o convívio e dou muito suporte, inclusive financeiro. Mari leva o Vini à escola; eu busco duas vezes por semana. Um dia desses, conforme o combinado, Rodrigo o deixou na minha casa, depois de passarem o dia juntos. Eu e o Vini, que hoje tem 9 anos, vamos bastante ao cinema e curtimos passear na (avenida) Paulista. Sou meio nerd e ele também. Temos muita coisa em comum. E meus pais continuam sendo seus avós. Já aconteceu de, na casa da Mari, Vini ligar para minha mãe – às vezes, fala mais tempo com ela que comigo. Meu pai já foi pegá-lo no colégio e ele adorou ficar na casa do vovô e da vovó.

Estou solteiro, mas, quando namorar, vou querer alguém que abrace o conjunto, as relações que fazem parte da minha vida. Sinto preguiça só de pensar em uma namorada que tenha ciúme dessa dinâmica, pois nutrir algo negativo sobre as minhas escolhas não faz sentido algum para mim. A paternidade mexe cada vez mais comigo. Quando assumi a administração da ótica da minha família, um amigo que foi fazer óculos comigo também estava no esquema de ser ativo no papel de pai. Em janeiro, criamos um site, o 4 Daddy, voltado para os homens. Por enquanto, é hobby, uma espécie de empreendedorismo social. Eu me realizo ajudando outros pais, biológicos ou não, a ‘sair do armário’. Falar no tema é essencial, sensibiliza a sociedade para a importância da paternidade na vida da criança.”

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