Assim como tantos outros pais orgulhosos da bebê recém nascida, os gaúchos Carlise e Jorge resolveram fazer o clássico ensaio fotográfico new born com a filhota Natália. “Só quando os dois chegaram no estúdio que eu soube que eles tinham deficiência visual, e eu fiquei bem surpresa. Aí eles explicaram que estavam fazendo o ensaio pois queriam que a Natália tivesse toda a vida dela contada em fotos, desde bem pequenininha. Mesmo sem poder enxergar, eles dão valor à fotografia, pois sabem que é assim que as pessoas contam suas histórias”, relembra a fotógrafa Marcia Beal, que é de Porto Alegre.
Divulgação/Marcia Beal
Emocionada com a história dessa família, Marcia foi atrás de informações sobre fotografia em alto-relevo. Ela conta que no mesmo dia do ensaio entrou em contato com o amigo Hayaks Winter, que é designer, e mais tarde, com o artista plástico Marco Escada, para tentar encontrar uma alternativa. Mas, a princípio, os três não encontraram nenhuma referência de álbum fotográfico para cegos. “Eu sabia da possibilidade de fazer isso com impressão em 3D, pois a Carlise havia me mostrado uma ecografia em 3D da Natália. Mas eu queria proporcionar a eles uma experiência ainda mais profunda, porque no dia do ensaio a Carlise pediu para tocar todos os acessórios que seriam utilizados na sessão de fotos”, conta Marcia.
Divulgação/Marcia Beal
Aí surgiu a ideia de montar o álbum com imagens em 3D e pedaços de tecido das roupas utilizadas pela menina durante o ensaio, tudo isso somado à descrição em braile e finalizado com cheirinho de bebê. A ideia estava na cabeça, mas não foi simples colocá-la em prática! Além de buscar a tecnologia para a impressão em 3D (feita em plástico) e providenciar a descrição em braile, também foi necessário desenvolver um álbum com formato específico para comportar todo esse material.
Divulgação/Marcia Beal
Marcia, Hayaks e Marco trabalharam durante nove meses na confecção do álbum sensorial, que é um projeto pioneiro de inclusão. E, ao todo, seis fotos foram adaptadas. Antes de entregar o presente a Carlise e Jorge, eles ainda tiveram o cuidado de consultar a Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (ACERGS) para saber se aquele material realmente seria acessível a pessoas com deficiência visual. E o resultado foi um sucesso!
Divulgação/Marcia Beal
“Essa surpresa foi uma experiência maravilhosa. Primeiramente, pois a gente pensou em fazer fotos para a Natália, não para nós. Nunca imaginamos que pudéssemos receber um álbum desse tipo, e isso mostra o carinho e a preocupação dessas pessoas com a gente. É algo sublime e não tem palavras que traduzam o que a gente sente em ter o privilégio der ‘ver´ a nossa filha nessas fotos”, diz Carlise.
Divulgação/Marcia Beal
Desde que o trabalho ficou pronto, em junho, muita gente está procurando Marcia na esperança de ter um álbum parecido. Só que o custo desse processo é bastante alto. Para se ter uma ideia, cada impressão de foto em 3D – com tamanho de 10×15 centímetros – custa mais de R$ 200. Agora, uma campanha de financiamento coletivo está no ar para que outras 10 famílias possam ter acesso a um álbum assim. Para ajudar o projeto, é possível doar através desse link.