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É correto deixar o bebê chorando no berço?

Deixar o bebê chorando provoca traumas ou pode melhorar o sono do bebê? Dois especialistas debatem o assunto polêmico. Confira!

Por Patrícia Gattone (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 22h58 - Publicado em 18 dez 2012, 22h00
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  • Normalmente, o bebê dorme de quatro a cinco horas e costuma acordar quando está com frio, fome ou incomodado com algo
    Foto: Getty Images

    Você já deu de mamar, trocou a fralda e verificou a temperatura do seu filho, mas a choradeira não para. E agora?  Deixar as crianças chorarem durante a noite: provoca traumas ou pode melhorar o sono do bebê? Diminui sintomas de depressão entre as mães? Dois feras debatem o assunto

    Não

    O choro é a única forma de comunicação que os bebês têm. Por isso, quando choram, estão expressando alguma necessidade, seja física, seja emocional. A evolução se deu de tal forma que os pais querem atender ao choro, já que eles não estão imunes a esse som. Fisiologicamente, um bebê chorará quando precise de algo, a menos que ele tenha sido treinado para não fazê-lo.

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    Há pesquisas que mostram que, ao atender às necessidades do bebê prontamente, ocorre uma redução no choro a longo prazo, de forma saudável. As americanas Mary Ainsworth e Silvia Bell, psicólogas especializadas em desenvolvimento, analisaram como as mães respondiam ao choro do bebê e descobriram que, quanto mais rápido tocavam nos filhos, menos eles choravam mais tarde.

    Atualmente, a razão mais provável para uma criança parar de chorar durante o processo de treinamento de sono é que ela desistiu ou aprendeu que não será atendida. Se os pais veem um bebê chorando como uma criatura manipuladora, acharão positivo esse resultado da desistência do choro. Mas isso é algo que, na psicobiologia, é chamado de extinção de comportamento, que acontece quando há omissão. É possível ensinar o filho a não chorar, mas isso tem uma consequência muito séria, o desamparo aprendido.

    Há pessoas que dizem que deixar chorar é bom, que a criança aprende a adormecer sozinha e a ter autonomia. Entretanto, autonomia e independência vêm com a maturidade. Não acredito que o ideal seja ensinar o bebê a adormecer sozinho, já que ele ainda não tem maturidade neurológica para tal. Quando a criança cresce, o sistema de angústia da separação do seu cérebro inferior se debilita de forma natural. A angústia da separação alcança o seu auge por volta de 6, 8 meses, idade comum em que os treinamentos de sono são aplicados. Algumas crianças que não receberam uma resposta emocional válida entram em estado de falsa independência. Elas não chamam a mãe, não porque não precisam dela, mas sim porque aprenderam que não terão resposta. Assim, o vínculo entre os pais e os filhos treinados pode ser alterado. Pesquisas mostram que o contato físico regular gera confiança, e responder prontamente à criança na infância resulta em adultos seguros que são capazes de formar relacionamentos funcionais.

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    Muitas famílias aplicam esses métodos que abordei anteriormente por estarem exaustas, após procurarem outras alternativas sem ver nenhum progresso no padrão de sono, porém outras (talvez a maioria) os aplicam por acreditarem que os bebês devem ser treinados para dormir à noite sozinhos e sem interrupções desde cedo. Tudo isso ignora sua biologia. Bebês são designados para acordar durante a noite. É parte de como evoluímos, em termos de amamentação, tamanho do estômago e de como o leite materno é produzido.

    · Andréia Cristina Karklin Mortensen é neurocientista, doutora em Bioquímica pela Faculdade de Medicina da USP e professora assistente de Pesquisa no Departamento de Farmacologia e Fisiologia na Universidade Drexel, na Filadélfia, EUA.

    Sim

    É muito importante que o pai ou a mãe tenham atitudes, no momento do choro, que deixem claro para o bebê que eles não estão indo até o berço só por causa disso. Sempre oriento os pais a deixarem a criança chorando por um período de um a quatro minutos, antes de tomar a iniciativa de ir até o quarto para vê-la no berço. Além disso, também é importante alternar esse espaçamento de tempo para atendê-la, entre um choro e outro, a fim de que não se acostume com uma duração previsível. Caso essa rotina não seja aplicada, cria-se um círculo vicioso e a criança passa a utilizar o choro como forma de manipulação.

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    Digo aos pais que, nunca, em hipótese nenhuma, tirem o bebê do berço. Depois de alguns minutos de choro, devem apenas se aproximar e deixar que ele perceba que estão presentes e sinta segurança para voltar a dormir. Insistiu no choro e não pegou no sono? O mais indicado é fazer carícias na cabeça, ler algo para o filho ou colocar uma música. Digamos que adormeça, mas logo acorde: nesse caso, uma orientação importante é evitar acender a luz, chacoalhá-lo ou pegá-lo no colo.

    Um hábito que muitos pais têm, e que considero errado, é o de condicionar o sono do bebê a determinadas condições, como deixar a TV ligada ou ainda colocá-lo no carro para passear. É fundamental que ele se acostume a pegar no sono de maneira natural, em seu quarto. Daí, se durante a madrugada acordar e chorar, vale usar os procedimentos que expliquei no parágrafo anterior.

    Também oriento a não alterar situações antes e depois de o bebê pegar no sono, como deixá-lo usar a chupeta e depois tirar ou permitir que adormeça na cama dos pais para levá-lo ao berço. Isso não deve ser feito porque a criança estranha. Em outras palavras, para que seu filho acorde e se sinta seguro, é preciso que tenha pegado no sono no mesmo ambiente, o que facilitará identificá-lo depois.

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    Se os pais aplicarem corretamente essas orientações, o choro vai acontecer nas dez primeiras noites e depois deverá passar. Até porque, normalmente, o bebê dorme de quatro a cinco horas e costuma acordar quando está com frio, fome ou incomodado com algo. E as mães não precisam se sentir culpadas. Não há motivos para traumas ou preocupações em aplicar tais técnicas, já que é fácil identificar um choro de manha. Se você chegar perto da criança e ela parar de chorar… é manha.

    · Dr. Marcelo Reibscheid é pediatra e neonatologista do Hospital São Luiz, em São Paulo.
     

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