Duani Rodrigues: “A ajuda que minha família recebe vai muito além da vaga na creche.”
Conheça a história de Duani Rodrigues Nogueira, uma dona de casa de 23 anos, que recebe a assistência do programa "Mão Amiga", encabeçado pela advogada Lisandra Mazutti Foresti, vencedora do Prêmio CLAUDIA, no ano passado, na categoria Consultora Natura Inspiradora.
“Engravidei aos 14 anos de um rapaz com quem eu saía havia mais ou menos três meses. Resolvemos ficar juntos e fomos morar na casa do pai dele, que era separado. Meu cunhado e meu sogro eram legais comigo, me ajudavam com dinheiro às vezes e, se necessário, me levavam ao médico. Mas tive de aprender tudo sozinha e muito cedo. Nem minha mãe nem qualquer outro parente do meu lado da família me apoiaram.
Precisei me virar para cuidar da minha filha e foi uma fase muito dura. Ao mesmo tempo que me esforçava para ser mãe, aprendi a cuidar da casa, cozinhar, lavar, passar. Logo fiquei grávida de novo. Com dois filhos, nossa vida ficou muito apertada. Quando meu caçula fez 8 meses, resolvi trabalhar. Para sair, deixava as crianças com uma vizinha, a quem eu pagava cerca de 300 reais por mês.
Foi então que os problemas mais sérios começaram. Meu marido já tinha batido em mim durante briguinhas bobas, mas piorou depois que arrumei um emprego na cozinha de um restaurante. Embora ele mesmo não gostasse de trabalhar e por isso faltasse dinheiro até para a comida das crianças, não admitia que eu saísse de casa. E me batia. Fui ficando com o corpo muito marcado. Quando me trocava no vestiário do trabalho, todo mundo via as manchas roxas, o que me deixava com muita vergonha. Minha única saída era abandonar minha casa. Saí quase fugida.
Nessa fase, meu pai me ajudou e deu dinheiro para pagar um caminhão de mudanças, mas não sobrou muita coisa: meu marido quebrou quase tudo que eu tinha antes de o caminhão chegar. Depois, ainda me perseguiu e me ameaçou de morte. Por pouco não perdi o emprego por causa dele, que aparecia no restaurante para me buscar. Meus patrões resolveram me dar uns dias de férias até a situação acalmar. O drama só acabou mesmo depois que denunciei meu parceiro e ele foi preso.
Separada, meus gastos aumentaram. Além de pagar para alguém ficar com meus filhos, então com 1 e 2 anos, eu tinha que custear o aluguel, o supermercado, as fraldas… Tudo sozinha! E, naquela época, ganhava apenas cerca de 700 reais por mês. O jeito era pedir adiantamento aos meus chefes. Foram tantos que, certa vez, quando chegou o dia do pagamento, eu já não tinha mais nada para receber.
Tentei colocar meus filhos em uma creche municipal. O problema é que Caxias do Sul (RS), onde vivo, carece de vagas públicas. Já fazia um ano que eu havia feito a inscrição deles e não tinha conseguido nada. Quando fui novamente cobrar a matrícula, descobri o Mão Amiga, projeto social que custeia mensalidades em escolas particulares para crianças até 6 anos desatendidas pela prefeitura. Em poucos dias, meus meninos estavam frequentando a escolinha Pimpolho sem custo nenhum.
Hoje, não estou mais sozinha. Casei novamente e tive um terceiro bebê – que também recebeu o benefício. Meus filhos estão com 3, 6 e 7 anos. O do meio ainda frequenta uma escola do projeto. Também moram conosco meus dois enteados, um casal de 9 e 10 anos. A ajuda que minha família recebe vai muito além dessa vaga. Para cuidar das cinco crianças e da casa, tive que deixar meu emprego. Por isso, vira e mexe ainda falta dinheiro para o supermercado, o material das crianças e para roupas. Mas o Mão Amiga é meu porto seguro!
Sempre que preciso de algo, peço a eles. Já ganhei cesta básica, roupas, sapatos e fraldas. Duas vezes por semana, recebemos a visita de psicólogas, que nos orientam na organização familiar e até me ajudam a lidar melhor com meu atual marido. Foi por conselho delas também que meus filhos mais velhos começaram a visitar o pai, que saiu da cadeia. Com esse apoio, aos poucos nossa vida vai ficando mais tranquila.”
A advogada gaúcha Lisandra Mazutti Foresti ajudou a criar o Projeto Mão Amiga, que subsidia mensalidades em creches particulares para crianças até 6 anos que não conseguem uma vaga na rede pública de Caxias do Sul (RS). No ano passado, ela foi vencedora da categoria Consultora Natura Inspiradora.
Conheça as vencedoras do Prêmio CLAUDIA 2016.