Francine Christophe tinha 8 anos quando foi presa pelo regime nazista da Alemanha. Filha de prisioneiros da guerra, ela foi levada para um campo de concentração com sua mãe.
A francesa conta que, por serem filhos de estrangeiros, poderiam levar um ou dois itens de casa. Alguns levavam açúcar, outros arroz… A mãe de Francine levou dois pedaços de chocolate. A justificativa? Quando estivessem em colapso absoluto, o doce seria um conforto.
Mas nenhuma das duas provou a guloseima. No mesmo alojamento, havia uma mulher grávida muito debilitada. Quando entrou em trabalho de parto, a mãe de Francine perguntou à filha se ela estava bem e, após a resposta positiva, disse: “Eu gostaria de dar o chocolate a essa mulher, nossa amiga Hélène. Dar à luz aqui é difícil. Ela talvez não resista. Se eu der o chocolate, talvez a ajude”. A mulher sobreviveu e seu bebê também. Seis meses depois, foram libertados do campo.
Há alguns anos, em uma palestra organizada por Francine, veio a surpresa: uma das palestrantes carregava um pedaço de chocolate, que entregou à senhora antes mesmo de começar sua fala. Ela justificou dizendo: “Eu era o bebê”.
Leia o depoimento de Francine na íntegra e assista ao vídeo:
“Meu nome é Francine Christophe. Eu nasci em 18 de agosto de 1933. 1933 foi o ano que [Adolph] Hitler entrou no poder”.
Olha, essa é a minha estrela. Eu tinha que usá-la no peito. É grande, não é? Especialmente para uma criança que tinha 8 anos de idade”.
“Quando eu estava no campo de Bergen-Belsen, algo incrível aconteceu. Permita-me recordar. Como filhos de prisioneiros de guerra, nós éramos privilegiados. Era permitido que trouxéssemos ao da França. Um pequena bolsa, com dois ou três itens. Uma mulher trouxe chocolate, a outra açúcar, outra um punhado de arroz. Minha mãe embalou dois pequenos pedaços de chocolate. Ela me diss: ‘Nós vamos guardar isso para um dia em que nós tivermos entrado completamente em colapso e realmente precisarmos de ajuda. Eu te darei esse chocolate e você se sentirá melhor’.
Uma das mulheres presas com a gente estava grávida. Você não imagina… Ela estava muito magra… Mas o dia chegou e ela entrou em trabalho de parto Ela foi ao hos´pital do campo com a minha mãe, chefe de parte do alojamento.Antes de deixarem o local, minha mãe disse:
– Lembra-se do chocolate que eu estava guardando para você? Como você se sente?
– Bem, mamãe.
– Bem, se está tudo certo com você, eu gostaria de dar o chocolate a essa mulher, nossa amiga Hélène. Dar à luz aqui é difícil. Ela talvez não resista. Se eu der o chocolate, talvez a ajude.
– Sim, mamãe, vá em frente.
Hélène deu à luz. Um bebê tão pequeno. Ela comeu o chocolate. Ela não morreu e voltou ao acampamento. O bebê nunca chorou. Seis meses depois o campo foi liberado. Elas desembrulharam a criança e ela gritou. Foi quando nasceu. Nós o trouxémos de volta para a França.
Alguns anos atrás, minha filha me disse: ‘Se vocês tivessem tido apoio de psicólogos ou psiquiatras quando voltaram, talvez seria mais fácil para você’. Eu respondi: ‘Sem dúvidas, mas não tivemos. Ninguém pensa em doenças mentais. Mas você me deu uma boa ideia, vamos organizar uma leitura sobre isso’.
Eu organizei a leitura com o tema “Se os sobreviventes tivessem tido aconselhamento em 1945, o que aconteceria?”. Atraiu uma multidão. Sobreviventes, historiadores, psicanalistas, psiquiatras, psicoterapeutas. Muito interessante. Então, uma mulher subiu no púlpito e disse: “Eu moro em Marseille, onde sou psicanalista. Antes de começar a minha fala, eu tenho algo para Francine Christophe’. Ela alcançou o bolso e tirou um pedaço de chocolate. Entregou-me e disse: ‘Eu sou o bebê’.”