Tem sempre aquele dia em que a lista de tarefas é grande e você não consegue completar nenhuma. Há também situações mais simples em que dá tudo errado. Você vai ao supermercado, por exemplo, para comprar itens específicos e não encontra nada ou prepara uma surpresa para o parceiro e ele descobre.
O fato é que voltar para casa sem ter alcançado as expectativas gera um sentimento bastante familiar a todos nós, o de frustração. “É um estado que acontece quando nos sentimos contrariados”, define a neurocientista e psicopedagoga Adriana Fóz, que acaba de lançar um livro sobre o tema, Frustração (Benvirá).
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Vítima de um acidente vascular aos 32 anos, Adriana precisou se esforçar muito para vencer as sequelas. Aprendeu a lidar com a decepção e, de sua vivência, tirou o conceito de plasticidade emocional, o resultado do treino consciente de competências emocionais em prol da superação. Essa transformação de algo tão penoso em força motora é a lição que ela entrega em sua publicação e aqui.
1. Racionalize
Melhor do que superar a frustração é não ter que enfrentá-la. Parece difícil, mas é, sim, possível precaver-se para não sofrer depois. Essa blindagem Adriana reconhece como a habilidade em identificar situações com potencial frustrante. É necessário saber ponderar.
Diante de decisões importantes, tire um momento para analisar a conjuntura de vários ângulos com seus prováveis desdobramentos. Se as consequências parecerem pouco favoráveis, desenvolva estratégias para alterar a rota e faça mudanças. Leve em consideração experiências anteriores e tenha um plano B mesmo após fazer sua escolha.
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2. Dose as expectativas
A origem de alguns desapontamentos está em querer muito e receber pouco. De modo inconsciente, projetamos nossos desejos nos outros ou na vida em geral, mesmo que no fundo saibamos que nem tudo acontecerá do jeito que idealizamos.
Para evitar cair na armadilha de construir castelos de areia, foque no que há de concreto, realizável e está a seu alcance, ainda que isso exija muita espera, lentos avanços e até retrocessos. Se for uma pessoa impaciente, invista em atividades que exijam calma, como pilates e meditação. E saiba que de forma alguma ser comedida implica adotar uma postura pessimista. “Ser otimista não tem nada a ver com ter expectativas; então precisamos desvincular. É, na verdade, um exercício diário para manter a esperança de que tempos melhores virão, apesar de coisas ruins acontecerem”, ensina Adriana.
3. Cultive a empatia
Como criaturas sociais que somos, estamos a todo momento criando laços com aqueles que nos cercam. E, para que as conexões se desenvolvam plenamente, é fundamental que haja comunicação. Exercer essa ferramenta de modo efetivo, porém, não é tarefa simples. Não podemos adivinhar o que o outro pensa, mas devemos perguntar.
Uma vez cientes dos sentimentos e anseios de quem está ao nosso lado, ganhamos a chance de enxergar uma situação por nova ótica. Essa atitude nada mais é do que a empatia em ação. Observe, pergunte, escute e, principalmente, tente se colocar no lugar do próximo. “Ao compreender as necessidades do outro, fica mais fácil entender por que a situação não aconteceu do jeito que imaginávamos”, diz Adriana.
4. Controle a autocrítica
Adriana explica que, por questões socioculturais, tendemos a lidar com erros de maneira punitivista, sobretudo quando se trata de nossas falhas. Isso nos condiciona a uma constante autocrítica. Quando não cuidada, essa característica poda potenciais habilidades que seriam bem desenvolvidas. Diante de uma frustração, em vez de assumir o papel de próprio carrasco, procure olhar para si mesma com a compreensão que usaria com outra pessoa em igual circunstância – hora de se lembrar da empatia.
Castigar-se rigorosamente não fará o problema desaparecer e impedirá que você foque em atitudes mais importantes, como encontrar meios de superar obstáculos. Canalize a energia que gastaria se martirizando e direcione-a para momentos de autocuidado. “Contemplar-se com um olhar gentil é tão importante quanto a gentileza direcionada ao outro”, conclui a autora, na obra.
5. Reconheça seus esforços
Apesar de ser triste e frustrante não alcançar um objetivo, é preciso reconhecer a hora de parar de tentar. Evite procurar motivos ou justificativas, deixe de insistir. Há coisas que simplesmente não dão certo. Para que a decepção não tenha um efeito paralisante, volte sua atenção para o caminho percorrido até ali.
Pense em tudo que aprendeu, em quanto se desenvolveu, na força que demonstrou ao perseverar e não desistir diante da primeira adversidade. Conscientize-se de que fez tudo o que podia e valorize a jornada. Ela pode ser tão recompensadora quanto a conquista. Uma competência muito útil nesse momento é a gratidão.
Tão em voga quanto a empatia, essa palavra representa a capacidade de saber apreciar aquilo que temos, independentemente do que nos falta. Quando bem treinado, esse sentimento diminui a sensação de derrota e pode até servir para impulsionar novas tentativas. Para alcançá-la, não há mistério. Simplesmente tenha um olhar atento para diversas situações durante o dia e tire intervalos para agradecer pelo que tem ou conseguiu fazer.
6. Seja flexível
Na física, resiliência refere-se à capacidade de um corpo retornar à sua forma natural após passar por alguma deformação. Na neuropsicologia, trata-se da habilidade que uma pessoa tem de se fortalecer enquanto enfrenta uma situação adversa. É uma competência indispensável para perseguir objetivos e conviver em sociedade.
“Torna-se essencial em qualquer situação, pois implica uma reformulação de valores e estruturas”, afirma a autora. Olhar para atitudes e decisões sem julgamento e mesmo assim repensá-las é um caminho. O importante é manter-se aberta às mudanças.
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