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Como lidar quando os filhos se tornam “pais” dos próprios pais?

Especialmente na terceira idade, eles podem precisar de ajuda para manter a qualidade de vida; especialistas dão dicas para a dinâmica ser mais fácil

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 17 jan 2020, 12h32 - Publicado em 17 nov 2017, 19h37
 (Renata Kameda/MdeMulher)
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Em uma visita normal à casa da mãe, Alessandra Carvalho percebeu que algo estava errado na medicação que sua mãe tomava. Na caixa de remédios para controle do mal de Parkinson aberta há uma semana, faltavam 11 comprimidos. “Como ela deveria tomar um por dia, a conta não fechava. Perguntei e ela falou que eu estava enganada”, lembra a professora.

Algo disse para Alessandra não deixar isso pra lá. No dia seguinte, resolveu olhar a caixa novamente. Faltavam 14 comprimidos. “Perguntei se ela estava tomando remédios demais e ela insistiu que não, que tomava o que o médico mandava. Resolvi levar a conversa numa boa e ela acabou confessando que às vezes esquecia se tinha tomado o remédio ou não. Então, por via das dúvidas, tomava de novo. Quase tive um treco.”

Com medo que a mãe se intoxicasse, a professora decidiu fazer uma planilha – por escrito mesmo, em um caderno – para a mãe marcar com um “X” sempre que tomasse o remédio. Assim, se ficasse na dúvida, era só consultar.

“Daquele dia em diante, ela nunca mais tomou remédios em excesso e agora sempre a acompanho nas consultas médicas. Foi diagnosticado um começo de mal de Alzheimer, a saúde dela está mais debilitada. Fico feliz por ter percebido no início que minha mãe não estava mais conseguindo se cuidar sozinha, porque algo mais grave poderia ter acontecido. Agora sou meio a mãe da minha mãe”, afirma Alessandra, que tem uma filha de 8 anos.

Sinais de que os pais precisam de ajuda

Helping Grandmother Walk
(lisafx/ThinkStock)

O esquecimento fora do normal é um sintoma clássico de que as pessoas de mais idade começam a precisar de ajuda para gerir sua rotina. Mas existem outros sinais a que os filhos devem estar atentos. A geriatra Maristela Soubihe, do Hospital Santa Paula, diz quais são:

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– Quedas frequentes – são um indicativo de que o status de independência começa a mudar, de que a autonomia física está diminuindo;

– Má gestão do abastecimento da casa – produtos guardados nos armários já muito fora da validade, excesso ou falta de alimentos e de produtos de limpeza e de higiene mostram que a atenção aos próprios cuidados e aos detalhes está deficiente;

– Confusão com informações – diferente do esquecimento, trata-se de misturar detalhes de outros eventos ao contar sobre uma conversa que teve com alguém, confundir informações e orientações que o médico passou em uma consulta, por exemplo.

Geriatra do Hospital Santa Catarina, Márcia Kimura Oka destaca que não existe um marcador de idade para que os pais comecem a precisar de ajuda, ou seja, isso pode acontecer aos 60 ou aos 90 anos de idade. “É uma questão de percepção da família sobre os padrões comportamentais e o aparecimento de dificuldades onde elas não existiam”, diz.

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Como ajudar os pais idosos na prática

As geriatras ensinam que a primeira atitude prática a ser tomada é passar a fazer mais companhia, estar junto em atividades como ir ao médico, ao banco, ao supermercado. “Mas precisa ser gradual. Não é bem-vindo que o filho queira dominar a vida do idoso e tirar sua autoridade. Neste início, é legal observar como ele se sai diante de coisas simples, se mexe em um cartão de banco com facilidade”, orienta Maristela.

Se isso for feito com delicadeza e respeito, dificilmente haverá resistência por parte da mãe ou do pai a essa “supervisão”. É o que garante Márcia: “Os idosos não enxergam como intromissão, mas como cuidado. Muitos gostam que os filhos acompanhem nas consultas, porque têm noção de que não estão mais dando conta de lembrar de tudo”.

Mas e quando houver essa resistência? “Normalmente o próprio médico que acompanha a saúde deste idoso perceberá e pedirá que ele traga a filha, o filho ou alguém próximo à consulta seguinte. Se ainda assim não houver colaboração, pode-se entrar em contato direto com essas pessoas e pedir que apareçam”, conta a a geriatra do Hospital Santa Catarina.

Atenção também ao comportamento dos pais idosos

A psicóloga Katia Horpaczky, especialista em terapia de família, alerta para o aspecto emocional dos idosos, além do físico. “Ao notar o mínimo sinal de depressão ou de isolamento, tem que intervir. Conversar muito, porque a depressão dos idosos costuma vir acompanhada de alguma impossibilidade física que não notamos tão facilmente”, explica. “Não pode deixar isso aumentar. Incentive a mãe ou o pai a passear, fazer exercícios, ocupar a mente.”

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Positive senior mother and her daughter embracing
(yacobchuk/ThinkStock)

Outra boa ideia é procurar ajuda na terapia. Sabemos que muitos idosos da geração dos nossos pais têm um pouco de aversão à ideia de ir ao psicólogo, por acharem que “é coisa para gente louca”. Para estes casos, Katia dá uma dica: “Tire o foco do idoso, dê ênfase à dinâmica familiar. Diga que quer que ele vá para ajudar, para falar sobre os filhos, para contribuir. Ele não pode achar que ele próprio é um problema, até porque não é.”

A terapia também pode ajudar muito os filhos individualmente, porque lidar com a inversão de papeis que é se tornar responsável pelos pais não é fácil. Se você sentir que está está ficando pesado, procure ajuda, sim. Sua saúde mental também é importante.

O que NÃO fazer ao lidar com pais idosos que precisam de auxílio

O que Katia falou é um ponto importante do que não se deve fazer ao intervir mais de perto na vida dos pais idosos: dar a entender que eles são um problema.

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A geriatra Maristela concorda: “O idoso não pode ter a impressão de que está incomodando ou de que não pode confiar nos filhos. Isso costuma vir de uma relação sem respeito e gera o pior cenário de todos, que é aquele em que o idoso esconde suas coisas e informações. Os filhos ficam sem saber como agir, pois não há diálogo, e os pais estarão mais propensos a errar.”

Marcia complementa dizendo que “banalizar as dificuldades ou infantilizar o idoso também são atitudes muito negativas por parte dos filhos e devem ser evitadas”, ao que Maristela finaliza: “É preciso ter respeito à biografia e à autonomia, ainda que mínima, deste ser humano que é seu pai ou sua mãe. Não se pode menosprezar quem é dono de sua própria história”.

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