É possível conhecer melhor os seus filhos de acordo com o lugar que eles ocupam na sequência de nascimentos
Foto: Dreamstime
São muitas as influências que constroem nossa personalidade. Fatores internos, como a genética e a essência de cada um, são determinantes. Mas o ambiente em que vivemos, a família, a escola e os amigos também têm papel fundamental na formação de nossos valores. Nessa rede, a influência mais forte é a família. Desde que o recém-nascido chega em casa, ele passa a fazer parte de uma estrutura de relações na qual tem um lugar específico e um papel a desempenhar, mesmo sendo um bebê. “O que estabelece isso é a constelação familiar, um método psicoterapêutico baseado na posição da criança na sequência dos nascimentos – ou seja, se estamos falando de filho único, primeiro, segundo, terceiro ou temporão”, explica a psicanalista Olenka Franco, de São Paulo. O inconsciente registra nossos modos de relacionamento desde a mais remota infância. “E nós tendemos a mantê-los ao longo da vida porque nos são familiares”, diz a psicanalista Cecília Faria. A posição ocupada pelo filho imprime em sua personalidade traços que influem em suas relações adultas. “Por exemplo, o mais velho tende a ter espírito de liderança, gosta de cuidar dos mais novos e lida melhor com frustrações. O caçula tem facilidade para obedecer”, ilustra Cecília. “Na escola, o caçula exige mais atenção do professor e, de um modo geral, o mais velho cumpre as tarefas com maior rigor. Isso é natural”, orienta.
Como lidar com cada filho
Quando as crianças ainda são pequenas, a compreensão dos pais e dos profissionais da escola em relação aos seus pontos fortes e fracos é fundamental na formação de um bom caráter e no desenvolvimento dos valores de cada um. O segredo é elogiar os êxitos e encorajar a criança para superar as fragilidades – nessa ordem mesmo, pois é mais fácil aprender quando se está com a autoestima preservada. “Nunca aponte os defeitos de um irmão em oposição às qualidades do outro, dizendo: ‘você não tem paciência; veja seu irmão como se comporta direitinho’. Essa atitude não tem boas consequências para a educação e a formação das crianças”, pondera a psicóloga Lidia Aratangy, de São Paulo, autora do livro Novos Desafios da Convivência, Desatando os Nós da Trama Familiar (Editora Rideel). Todo pai e toda mãe responsáveis evidenciam os talentos e amenizam os pontos fracos dos filhos. “O mesmo deve acontecer com a escola”, alerta Cecília.
Desentendimentos são saudáveis
Já que cada filho é de um jeito, as diferenças às vezes provocam desavenças e esses momentos são motivo de tensão para os pais, que querem entender as razões de cada um para tomar a atitude certa. Porém, segundo os especialistas, é melhor não interferir no desentendimento dos irmãos. “Só intervenha se a briga for violenta. Daí, ambos precisam saber que quem recorre à violência perde a razão”, ressalta Lidia. De acordo com ela, é preciso lembrar que as brigas são uma fonte de aprendizado para futuros relacionamentos: nenhum outro vínculo ensina, por exemplo, que a raiva pode coexistir com o amor. É por isso que, na prática, minutos após uma briga, os irmãos brincam em harmonia. “Ter esse tipo de vivência é importante para compreender que as emoções intensas de raiva, e algumas vezes de ódio, que surgem no relacionamento amoroso, não matam o amor”, esclarece Lidia Aratangy.
Lembre-se: você nunca deve apontar os defeitos de um irmão em oposição às qualidades do outro
Foto: Getty Images
Raio X da família
Conheça melhor os seus filhos de acordo com o lugar que eles ocupam na sequência de nascimentos, segundo a análise da psicanalista Cecília Faria
Filho único: a missão dele é ensinar os pais a serem pais. Como tudo é novo, o casal ainda não sabe muita coisa e fica tentando acertar na prática. Crianças sem irmãos geralmente atraem toda a atenção (e os mimos) para si. Ao longo da vida, isso pode virar um problema, pois o mundo não dará tanta atenção assim a elas. Resultado: podem ser adultos carentes e inseguros.
Mais velho: tem capacidade de liderança e enfrenta frustrações facilmente, pois quando nasce o segundo filho ele aprende a dividir a atenção. Também há a cobrança de ele ter de dar o exemplo para os mais novos. O primogênito tende a proteger e a ajudar os outros na escola. O mais velho geralmente não apresenta problemas disciplinares, assume responsabilidades mais cedo e acaba sentindo-se responsável pelos pais quando ficam idosos.
Do meio: é autêntico, pois admite que “fica perdido” entre o mais velho e o caçula. Outra qualidade: é mais solto, já que não lhe cabe a tarefa de ensinar os pais. O do meio aprende a se defender das exigências do mais velho e não é mimado como o caçula. Às vezes, custa a perceber a sorte que tem na constelação familiar e se confunde, dizendo que “foi esquecido” – o que nem sempre é verdade.
Caçula e temporão: ser o último implica, quase sempre, uma prolongada meninice. A socialização do caçula é mais fácil e ele aproveita as portas abertas pelos mais velhos: vai a festas mais cedo, aprende a dirigir precocemente… Com ele há um clima de complacência. Ser o caçula, assim como o temporão, favorece o prolongamento da condição de adolescente e retarda o ingresso na vida adulta. Os pais estão mais velhos e, muitos deles, interessados em retardar ou até impedir a síndrome do ninho vazio – quando a casa fica desocupada porque os filhos vão morar fora. Geralmente para o caçula a saída do lar paterno é retardada.