Como investir o seu dinheiro sendo iniciante nas finanças
Sua meta de ano novo é poupar mais? Anote as dicas e, em vez de só juntar, aprenda a fazer seu dinheiro se multiplicar
Antes mesmo da abertura da primeira Bolsa de Valores de São Paulo, no final do século 19, a jovem Eufrásia Teixeira Leite começou a investir mundo afora, multiplicando a fortuna herdada de seus pais, negociantes do café. Ela foi pioneira nas mesas de ações quando as mulheres nem eram autorizadas a abrir conta em banco sem aval masculino – o que só aconteceu em 1962. Cuidar do próprio dinheiro e, principalmente, fazê-lo crescer foi uma atividade reservada aos homens e a rebeldes como Eufrásia por tempo demais. Ainda hoje somos minoria; o número de investidoras em bolsa não chega a 30% no Brasil. Pois está na hora de virar esse jogo, ganhar mais independência e garantir tranquilidade para o futuro.
Todo mundo pode
Olhando para nossas contas, parece impossível reservar uma fatia para investir. Tudo muda de figura quando você coloca essa verba como fixa, do tipo boleto. Para definir esse montante, levante todos os gastos mensais e também os esporádicos. Veja de onde consegue tirar uma parte. Não precisa ser uma quantia enorme. Mesmo pequena, já vai fazer efeito. Aos poucos, você ajusta seu orçamento e amplia a parcela a ser investida. Determine como meta final ao menos 20% do que entra no mês – como indicam especialistas –, mas não perca de vista sua realidade.
Dê o primeiro passo
Antes de tudo, recomenda-se formar com o montante mensal uma reserva de emergência, o equivalente a de três a seis meses de gastos indispensáveis (aluguel, comida, transporte, escola das crianças). Assim, se surgirem imprevistos, você evita recorrer ao empréstimo ou crédito bancário – o cheque especial tem juros de até 8% ao mês, valor altíssimo! Mas nem isso deve ficar parado numa conta. Coloque o dinheiro em um produto financeiro de liquidez diária (que pode ser resgatado assim que necessário). O que é isso? Títulos de renda fixa, como papéis do Tesouro Nacional vinculados à taxa de juros Selic. Essas opções não costumam variar muito; portanto, são seguras. Use o mesmo recurso para juntar dinheiro para realizar um sonho, como fazer uma festa de casamento ou viajar. “Um dos critérios para escolher produtos financeiros é o tempo que você terá para juntar a quantia”, explica Mayra Lima, assessora de investimentos da Guide.
As mulheres são tomadoras de decisão dentro e fora de casa, mas não investem como poderiam. Inclusive, como ganham menos, não conseguem se arriscar tanto quanto os homens
Como se manter segura
Não coloque tudo que você poupou no mesmo investimento. Distribua entre opções com níveis de riscos variados. Entenda que há dois principais tipos de produto financeiro, os de renda fixa e os de renda variável (além dos híbridos). Os primeiros trazem retornos presumíveis, enquanto os ganhos são incertos no segundo grupo. Na prática, quanto menos previsível, maior o risco. Outra coisa a se levar em conta: investimentos mais sujeitos a altas e baixas (como as ações) às vezes não compensam ser retirados repentinamente. “Para evitar perdas, é interessante que, após obter bons resultados, os recursos sejam realocados para ativos de menor risco, balanceando a carteira”, explica Amerson Magalhães, diretor de operações da Easynvest. Ele recomenda que somente 15% da carteira seja composta de ativos de maior risco. Pense ainda no perfil da meta. Se a ideia for uma festa de casamento, investimentos ligados à inflação são melhores, pois você não perde o que investiu. Caso seja a viagem dos sonhos, prefira um fundo cambial, que vai valorizar junto com o dólar – às vezes é menos rentável que outros fundos, mas é seguro.
À gosto da freguesa
Existe um fundo de investimento para cada perfil. Os multimercado mesclam alocações em papéis privados e públicos, apresentando riscos menores, mas têm retornos geralmente mais baixos; já os fundos de índice (ETFs) investem em ações seguindo o desempenho de índices como o Ibovespa, que reúne as ações mais negociadas da B3. Ambos são boas opções para quem está começando. Além
do histórico de rendimento, convém verificar os custos, que podem corroer os ganhos, como a taxa de administração das gestoras. Populares, os fundos de investimento imobiliário (FIIs) merecem atenção. Embora ofereçam vantagens como isenção de imposto de renda e depósitos mensais de retorno, é importante observar, por exemplo, como a vacância de imóveis pode impactar o investimento.
Juros baixos, e agora?
Sabe quando os jornais falam que caiu a taxa Selic? Isso quer dizer que o governo está tentando aquecer a economia incentivando o setor privado. Agora, a Selic registra sua mínima histórica, de 4,5%. Então, investir em títulos públicos deixou de ser tão vantajoso quanto em anos anteriores, levando todo mundo a se arriscar em outros tipos de investimento. Quem ainda não se aventura nesse mundo pode procurar fundos de investimento, que funcionam como grandes administradoras de uma carteira de ativos. Os profissionais que trabalham ali buscam bons investimentos, e você compra uma cota.
“A primeira preocupação ao escolher entre as centenas de opções é ler a ‘lâmina do fundo’, documento com indicativos do histórico e da gestora que o administra”, explica Mariana Ribeiro, analista CNPI da plataforma modalmais e cofundadora do grupo Financial Feminism Brasil, que incentiva mulheres a aprender sobre finanças. Segundo ela, também é básico checar as credenciais dos fundos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia que regula o mercado de capitais, e na Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Mar de dados
Calma! Não se desespere. Se você acompanhou até aqui, já tem uma ótima bagagem para investir. Só há um último item para desmistificar. Embora estejam proclamando que a renda variável será a realidade dos investidores a partir de agora, existe uma série de alternativas para explorar dentro da renda fixa. Os CDBs funcionam mais ou menos como títulos do Tesouro (só que, em vez de você emprestar dinheiro para a União, faz isso para um banco). Se for escolher, procure por instituições financeiras confiáveis e rentabilidade de no minímo 100% da taxa CDI.
Além das ações, que são uma forma de as companhias ampliarem capital, empresas emitem papéis de dívida, como as debêntures. Nesse caso, você está emprestando para uma empresa, que pagará os rendimentos apenas no vencimento (se você retirar antes, não ganha nada a mais). Com retornos interessantes, funcionam para quem pode esperar para resgatar (em média dois anos) – os de infraestrutura têm a vantagem de ser isentos de imposto de renda. “Tomar decisões financeiras exige estudo, buscar conteúdo de qualidade, conferindo se quem está opinando é realmente certificado”, afirma Mariana. A boa notícia é que existe material educativo das próprias B3 e CVM e investir está mais simples – é possível até pela tela do celular.
Como se livrar das dívidas e multiplicar seu dinheiro: