Ao longo da semana, uma personagem voltou a ser o centro das atenções das conversas em grupos de WhatsApp entre pais preocupados com a segurança dos filhos. A boneca Momo, criada pelo escultor japonês Keisuke Aiso, de 46 anos, foi alvo de boatos que se espalharam junto com o medo e a desinformação.
A corrente de pânico gerada pelas confusas notícias espalhadas pela internet, inclusive por pais, levantou questionamentos sobre a veracidade do tal ‘desafio Momo’. Até o momento, diversas autoridades de países como EUA, Brasil e Canadá não confirmaram casos de suicídio ou tentativa de mutilação corporal de crianças relacionados ao personagem, que supostamente apareceria escondido dentro dos vídeos da plataforma YouTube Kids.
No último fim de semana, circulou na imprensa e nas redes a notícia de que uma mãe mostrou a foto da boneca para a filha e que, segundo ela, a criança teria reconhecido a personagem e chorado com medo. O pânico ficou instaurado e muitos outros pais relataram que também mostraram a imagem de Momo para os seu filhos, causando crises de choro e apreensão.
Com a imagem prejudicada após os recentes casos, o Google, empresa que administra o YouTube, informou na última segunda-feira (18) que não conseguiu confirmar os indícios de que a Momo estaria presente em vídeos dentro da plataforma infantil da companhia.
Para analisar as causas e consequências do medo gerado pelo caso da boneca Momo, e como isso pode trazer mudanças comportamentais em pais e crianças, conversamos com a psicóloga Talita Lopes. Ela nos ajudou a traçar caminhos para conversar com os pequenos sobre situações vividas nas redes.
Sempre aposte nos diálogos
Segundo a psicóloga, o ideal é minimizar traumas. Ver a imagem da boneca não necessariamente vai deixar sequelas emocionais significativas, mas é fundamental entender que a exposição à algo que remeta ao medo, como a imagem da Momo, pode gerar sensações de pânico e insegurança para a criança.
O diálogo é fundamental! Deixe o pequeno conversar com mais naturalidade em um ambiente confortável, sem que ele se sinta confrontado ou que pense que fez algo de errado. “Não precisa de exposição à violência. Elas vão conduzir e demostrar os sentimentos de uma maneira melhor ao sentirem segurança no ambiente e na voz dos pais”, explicou Talita.
Durante a conversa, é importante alertar que se ele viu alguma coisa que lhe causou medo ou desconforto, ele deve conversar com os pais. É possível falar sobre o assunto sem deixá-los assustados ou impressionados, sempre usando o diálogo.
Não retire aparelhos eletrônicos, mas monitore com atenção
Na teoria, o YouTube Kids é um espaço seguro para ela – em que os pais podem excluir conteúdos inadeuqados-, onde a criança assiste aos seus vídeos e interage com os desenhos animados preferidos. Quebrar essa ideia abruptamente, ao retirar aparelhos eletrônicos do convívio dos pequenos, pode deixar muitas dúvidas sobre o uso do espaço virtual pelos menores.
Talita lembra que a criança pode ter acesso à outros dispositivos móveis na escola ou na casa de amiguinhos, o que não eliminaria todo e qualquer risco apenas retirando os aparelhos dentro de casa. “É preciso restringir o acesso delas a conteúdos infantis, apenas. Não deixe as crianças sozinhas com tablets e celulares, principalmente com fones de ouvido, sem a supervisão de um adulto”.
Em um mundo conectado e com acesso à internet de diversas maneiras, tirar o acesso delas às redes não é saudável. A criança está em uma fase em que ela está crescendo e aprendendo sobre o mundo, e a internet auxilia na educação. Mas é preciso de um horário exclusivo de acesso que seja restrito e delimitado.
Verifique informações, não espalhe fake news e procure ajuda, se for preciso!
Repassar informações duvidosas e que não tenham sido bem apuradas tem a tendência de deixar as coisas fora do controle e ser prejudicial para muita gente. Os pais fazem viralizar o medo nas crianças e entre outros responsáveis com apenas uma postagem. A ideia é não repassar as informações com o intuito de alarde e sempre verificar outras fontes para entender mais sobre o assunto.
Se você e a criança se sentem inseguros, procurar ajuda de um especialista pode ser importante para retomarem a confiança e ser mais fácil lidar com as situações vividas. “Uma psicóloga infantil ou psicóloga da família pode trabalhar com esse assunto. A ideia é o núcleo familiar descobrir isso em conjunto, fica mais fácil para todos”, disse Talita.