A origem indígena e o amor pelo desenho fizeram com que Moara Brasil transformasse a espiritualidade, filosofia, rituais e cosmovisão indígena em obras de arte. Aos 36 anos, a artista e curadora independente deseja inspirar as pessoas para que elas busquem suas memórias e ancestralidades, além de valorizar a cultura indígena.
“Quero que as pessoas busquem a origem de suas famílias, porque é difícil de saber hoje em dia porque a colonização foi muito forte. Quero colocar as mulheres indígenas de volta à ativa e melhorar a autoestima delas”, declara Moara em conversa com CLAUDIA.
Moara nasceu em Belém do Pará e tem ascendência Borari ou Tapajônica (Santarém – Baixo Amazonas). Começou a estudar Direito, mas trancou o curso porque sua mãe não tinha condições de arcar com os estudos da filha.
Seu primeiro contato com a arte foi aos 20 anos, customizando roupas e fazendo estampas manualmente em um brechó que abriu com a amiga na cidade. “Desde então, eu fiquei muito envolvida com a moda”, conta.
Moara mudou-se para São Paulo há 10 anos, depois de se formar em publicidade e propaganda. Ela queria estudar ainda mais. “Fiz técnico em moda, trabalhei com isso, mas acabei não me identificando como estilista e queria começar a estudar sobre Arte. Eu queria ser artista.”
Em 2015 fez sua primeira exposição e não parou mais. Ia de São Paulo a Belém e de Belém a São Paulo para apresentar suas obras. Seu trabalho inicial foi inspirado em sua origem indígena e na primeira aldeia em que viveu.
“A partir disso senti mais vontade de tentar me reconectar com essa origem”, conta. “Desenvolvi pinturas, instalação de objetos e uma série de colagens com inspiração no sagrado feminino da cosmovisão indígena, do protagonismo das mulheres do Acre, das benzedeiras e curandeiras”, compartilha Moara.
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Hoje, ela trabalha com colagens, que produz misturando tinta acrílica, imagens de mulheres indígenas (tratadas digitalmente) e pedaços de papéis de livros doados; além de murais, desenvolvidos com látex, materiais orgânicos e spray.
Ancestralidade indígena
A maioria de suas obras retratam mulheres indígenas, com o objetivo de ressaltar sua beleza, cultura e luta, associando também a espiritualidade e cosmologia ao ambientá-las no universo. Moara também representa a força do feminino, como na obra “Reconexão”, que apresenta um útero cheio de flores, também dentro de um universo.
Sua próxima aposta é o “Museu da Silva” (“Silva” significa “selva”, o que é selvagem), que Moara pretende lançar em agosto deste ano. A exposição contará a origem de sua família.
“Os conhecimentos da minha avó, que era benzedeira, a visão política do meu avô, toda a cultura da família do meu pai, que vivia em uma comunidade em Santarém, estarão sendo representados nesta exposição”, afirma Moara.
Para o futuro, a paraense tem dois sonhos. “Levar todos os meus parentes indígenas comigo em minhas obras e ficar reconhecida como artista tão importante ou igual quanto outros artistas”, revela Moara.
O segundo sonho é lutar. Uma semana antes da entrevista com CLAUDIA, a exposição em que Moara participava em Embu das Artes, “Mbai”, foi completamente destruída em um ato de vandalismo. “Foi por puro ódio pelos indígenas. A exposição valorizava as línguas indígenas e foi totalmente destruída. Eu quero lutar contra isso”, diz firmemente.
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