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Após questionamentos, Halle Berry abre mão de interpretar homem trans

Decisão da atriz abriu espaço para o debate sobre a falta de oportunidade e estereótipos em relação às pessoas trans no audiovisual

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 jul 2020, 16h28 - Publicado em 8 jul 2020, 16h16
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  • Em uma entrevista transmitida pelo Instagram, na última sexta-feira (4), a atriz Halle Berry acabou contando alguns dos seus projetos pós-pandemia. Para a hair stylist Christin Brown, Berry revelou que planejava participar de um filme, que ainda não tem nome, em que interpretaria um homem trans. “[É] um personagem em que a mulher é uma personagem trans, então ela é uma mulher que fez a transição para um homem. Ela é uma personagem de um projeto que eu amo… Quem era essa mulher é tão interessante para mim, e esse provavelmente será o meu próximo projeto”, comentou na conversa.

    A fala da atriz e a descrição do personagem geraram questionamentos nas redes sociais, principalmente de ativistas do movimento trans, já que Halle define um homem trans como “mulher” e “ela”. Além disso, os internautas também apontaram a escolha da atriz para o papel como um apagamento de profissionais trans, que poderiam interpretar o personagem com propriedade.

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    Wow, wow, WOW!!! Screaming “WE LOVE YOU” to one of the greatest people I will ever know! Check out my exclusive chat with @halleberry about hair on & off set, the culture, and going down memory lane with fave hairstyles! • • • #curlfactor #curls #curly #curlyhair #halleberry #texturetalktuesday

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    Nesta segunda-feira (6), em sua conta oficial no Twitter, Berry se posicionou após as considerações feitas por conta da entrevista. “No fim de semana, tive a oportunidade de discutir minha consideração sobre um próximo papel como homem trans, e gostaria de me desculpar por essas observações. Como mulher cisgênero, agora entendo que não deveria ter considerado esse papel e que a comunidade de transgêneros deveria ter inegavelmente a oportunidade de contar suas próprias histórias”, disse a atriz. “Sou grata pela orientação e conversa crítica dos últimos dias e continuarei a escutar, educar e aprender com esse erro. Juro ser uma aliada no uso da minha voz para promover uma melhor representação na tela, tanto na frente quanto atrás da câmera”, concluiu. 

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    Também no Twitter, o grupo ativista LGBTQ+ GLAAD acolheu a fala da atriz. “Estamos satisfeitos que a @halleberry tenha ouvido as preocupações das pessoas trans e aprendido com elas. Outras pessoas poderosas deveriam fazer o mesmo. Um bom lugar para começar é assistindo @Disclosure_Doc para aprender sobre representação trans na mídia”, aconselhou o perfil do coletivo. Lançado em janeiro deste ano, o documentário Disclosure (em português, Revelação) é uma produção original da plataforma de streaming Netflix, que traz nomes influentes da arte e do pensamento transgêneros discutindo o impacto da produção hollywoodiana na comunidade trans.

    Para o fotógrafo João Henrique Machado, que é um homem trans, o passo para trás dado por Berry é de extrema importância. “A verdade é que, sim, estamos progredindo aos poucos, principalmente com esses questionarmos sobre o nosso lugar de fala, vivências e privilégios. Hoje ainda não temos tantos atores e atrizes trans em evidência, nem protagonizando cenas na TV e muito menos atrás das telas. Por isso, o cenário do audiovisual precisa se esforçar para valorizar o nosso talento e arte em vida e não depois dela”, considera.

    Sobre as narrativas em que personagens trans são inseridos quando aparecem nas produções, João alerta para um reforço de condições sempre dramáticas em vez de humanização. “As pessoas trans são muito inteligentes e tão capazes quanto qualquer outra pessoa. Nos dias de hoje também sabemos o quão importante é nos vermos representados em todos lugares e quão empoderador e transformador é para nossos iguais nos ver protagonizando momentos de alegria, em histórias de vitória, de amor, assim como qualquer outra pessoa. Espero que nos próximos anos possamos continuar repensando e pensando sobre como caminharmos juntos para construir algo melhor”, afirma.

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