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Afinal, o que é a carne que consumimos?

Produção de carne mata mais de 15 mil animais por dia no Brasil. Tá na hora de pensar os efeitos econômicos, sociais e ambientais de se comer carne

Por Stefanie Silveira (colunista)
Atualizado em 21 jan 2020, 19h19 - Publicado em 1 set 2015, 10h00
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  • Sou vegetariana há 5 anos. Diferentemente do que possa parecer, minha convivência com os carnistas é profundamente tranquila. Se eu gostaria que o mundo inteiro fosse vegetariano? Sim. Se eu acredito que isso um dia vai acontecer? Não. Há quem não se importe (“Eles foram feitos para isso, não sabem que vão morrer, nem sentem dor”). Há quem tenha faltado à aula de Biologia sobre reinos (“Pensa na alface, ela também morreu”). Há quem não esteja disposto a abandonar o prazer do paladar (“Queria muito ser vegetariano, mas gosto demais de bife”).

    Como diria Paul McCartney, “se os abatedouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos”. Só que as associações mentais não são explícitas. Lembrar que o presunto, aquele produto rosado, bem embalado e acessível foi um dia um animal vivo e sensciente é difícil. A menos que um caminhão da matéria-prima do presunto, porcos, vire no meio da estrada, trazendo sangue e urros de dor ao noticiário. Este texto é sobre ‘porcos, diamantes e dois canos fumegantes’.

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    Porcos

    Um estudo publicado pelo Journal of Comparative Psychology (https://escholarship.org/uc/item/8sx4s79c) indicou que os porcos têm um nível de inteligência semelhante ao de chimpanzés. Eles possuem memória de longo prazo e têm capacidade de compreensão de linguagem simbólica simples. Além disso, brincam entre eles, como os cães, e também conseguem usar brinquedos. Os porcos são dóceis e podem ser animais domésticos, recebendo os devidos cuidados, claro.

    Normalmente, na indústria, as fêmeas vivem em jaulas onde não podem se mover e ficam permanentemente deitadas amamentando os filhotes. Elas recebem medicação para que possam ser inseminadas mais rapidamente e aumentem a produtividade de leitões. Quando a fertilidade se reduz, elas são abatidas para consumo de carne. 

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    Inúmeras pesquisas científicas comprovam que os animais são capazes de sentir dor, medo e frio, por exemplo. Uma prova disso são os estudos voltados para o “abate humanitário”, onde frigoríficos tentam minimizar o sofrimentos dos bichos, pois isso produziria uma carne melhor e consequentemente possível de ser vendida por um preço mais alto. 

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    Diamantes

    Somando bovinos, suínos e frangos, no primeiro trimestre de 2015, foram abatidos 1.397.002 de animais no Brasil, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso significa que a cada hora morrem cerca de 647 animais em estabelecimentos inspecionados pela fiscalização, ou seja, abatedouros clandestinos não estão nesta conta. Por dia, são cerca de 15.522 animais mortos.

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    Segundo dados da Abiec (AssociaçãoBrasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), só a exportação de carne bovina brasileira foi responsável por um faturamento de US$ 505 milhões em julho deste ano. Foram enviadas para o exterior, mais de 113 mil toneladas de carne. De janeiro a julho, as exportações de carne bovina faturaram US$ 3,2 bilhões. Ainda segundo a entidade, o Brasil será o maior produtor de carne bovina do mundo nos próximos cinco anos.

    Dois canos fumegantes

    Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a pecuária é responsável por 75% do desmatamento da Amazônia brasileira e metade das emissões de gases-estufa do país. Além disso, entre 2003 e 2008, quase 57% do cerrado brasileiro foi desmatado para implantação de novas pastagens.

    Um estudo publicado pela revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos indica que a produção de carne bovina emite 11 vezes mais gases-estufa do que a produção de arroz ou trigo. Quando estas produções são comparadas, a de carne demanda 160 vezes mais terra e 8 vezes mais água.

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    Outro estudo publicado na revista Climatic Change, indicou que uma dieta humana sem nenhum tipo de alimento de origem animal é duas vezes menos poluente do que aquela que contém carne e derivados. A pesquisa conclui que a redução no consumo de carne seria fundamental para a queda nas emissões de gases poluentes.

    Comer é um ato político e ético. Você é livre para ser o que bem entender em sua vida, mas antes de fazer uma escolha, tente responder a si mesmo o que é a carne? De onde vem? Como é produzida? Quais são os efeitos econômicos, sociais e ambientais de se comer animais? A resposta pode te surpreender.

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