“Uma maneira de puxar assunto sem parecer acusatória é comentar reportagens”, sugere a psicóloga Mônica Chaperman
Foto: Getty Images
Minha filha, de 14 anos, tem voltado de festinhas cheirando a cigarro e bebida. Se toco no assunto, ela desconversa. Como abordo a questão das drogas? Essa experimentação é necessária?
Precisar passar por essa experiência, sua filha não precisa. Mas é comum que jovens na idade dela, curiosos em relação às drogas sociais, queiram prová-las. Em uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dois terços dos adolescentes entre 13 e 15 anos entrevistados revelaram já ter tomado bebidas alcoólicas. E fizeram isso justamente nas festinhas com amigos da mesma idade. O estudo também mostrou que o cigarro não possui igual apelo entre os jovens de hoje: 22% dos entrevistados assumiram ter dado umas tragadas.
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Ainda que o interesse seja precoce, o fato de um adolescente experimentar drogas sociais não significa que vá se transformar em um dependente, tampouco que terá curiosidade pelas ilícitas. “Nem todo mundo que prova álcool ou cigarro se vicia e, mesmo entre consumidores frequentes, a maioria não chega a experimentar drogas mais pesadas”, enfatiza Zila van der Meer Sanchez, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo (Cebrid/Unifesp). Dequalquer forma, é importante acompanhar de olhos bem abertos essa fase da sua filha e orientá-la. Maior do que o risco de se tornar usuária, é o de ela se colocar em situações problemáticas. Embriagada, ela pode, por exemplo, fazer sexo sem camisinha ou ter relações indesejadas.
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Antes de chamá-la para uma conversa, porém, um conselho é analisar a influência da sua conduta e a dos familiares sobre a menina. “Filhos de pais que fumam e bebem tendem a reproduzir esse comportamento e, portanto, têm maior probabilidade de fumar e beber”, afirma Zila. Uma vez consciente dos próprios hábitos, dispa-se de hipocrisia e mantenha um tom amigável ao abordar o tema. “Uma maneira de puxar assunto sem parecer acusatória é comentar reportagens”, sugere a psicóloga Mônica Chaperman, de Brasília.
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Nas conversas, abra espaço para sua filha tirar dúvidas. Deixe claro que as pessoas podem perder o controle do uso dessas substâncias – cujo fornecimento, aliás, é proibido para menores de 18. Converse, então, sobre os efeitos específicos de cada uma delas. Dê informações: quanto antes a pessoa experimenta o álcool, maior é o risco de se tornar dependente. Bebidas antes dos 19 anos também atrapalham o desenvolvimento cognitivo. Para ter mais apelo, diga que, além dos malefícios para a saúde, o cigarro ataca a beleza, pois dá rugas e escurece os dentes. Só aborde as drogas ilícitas em um segundo momento. “Falar de maconha de repente pode assustar a jovem”, diz Zila, da Unifesp. “E, se ela sentir que a mãe está desconfiando dela, pode se afastar.” Fuja do tom de reprimenda. O enfoque deve ser sempre o da orientação, do alerta e do conhecimento.