“A mulher precisa acreditar no próprio potencial”
Abaixo, você confere o nosso bate-papo com Andrea Alvares, Vice-Presidente de Marketing da Natura
O foco em cumprir muito bem suas funções no trabalho, qualquer que fosse sua posição, sempre foi o que impulsionou Andrea Alvares, 44 anos, ao longo dos seus vinte anos de carreira. “Eu queria fazer o melhor onde quer que estivesse, o que foi gerando convites para assumir posições mais desafiadoras”, acredita.
Começou sua trajetória profissional no conglomerado americano Procter & Gamble. Ali, assumiu seu primeiro cargo de liderança como gerente de marca após verbalizar para seu chefe que queria seguir carreira executiva. “Não esperei que fosse natural, deixei claro que era uma intenção minha”, comenta Andrea.
Na sequência, trabalhou por 15 anos na PepsiCo, multinacional americana de produtos alimentícios e bebidas, onde passou por diversas áreas como gerente geral. Há seis meses, se tornou Vice-Presidente de Marketing da Natura e demonstra enorme satisfação em trabalhar em uma empresa com pautas voltadas para a diversidade e o empoderamento feminino. “Fico encantada pelo que a Natura faz”, comemora.
Você sentiu alguma resistência do mercado pelo fato de ser mulher?
Não costumava achar que o fato de eu ser mulher fosse relevante, mas sim ser competente. Agora, olhando para trás, depois de ter estudado sobre empoderamento feminino, percebo que o estereótipo do que mulher pode ou não pode assumir acabou me afetando um pouco. Mas eu não me deixava incomodar, ia lá e deixava claro o que eu queria naquele momento.
Você falava isso dentro da empresa?
Chegou um momento da minha carreira em que eu notei que queria sair do marketing e assumir uma posição executiva verbalizei isso com todas as letras pro meu chefe. Não esperei que fosse natural, deixei claro que era uma intenção que eu tinha.
Ao longo da sua trajetória, teve algum conselho que te marcou?
Quando me tornei presidente de bebidas da Pepsico no Brasil, passávamos por um ano bem difícil e desafiador. Depois do primeiro semestre, estava exausta. Falei para meu chefe, Vasco Luce, que precisava tirar uma semana de folga, porque estava sentindo meu nível de energia lá embaixo. Então ele me disse: “Que bom que você veio falar comigo, se não eu que ia te pedir para tirar essa folga. Você é pequenininha, mas quando fala na frente de várias pessoas, parece enorme, uma gigante. Porém, realmente você parece estar com o nível de energia baixo, porque você está parecendo pequena, e, na posição que você ocupa, você não pode ficar pequena.” Aquilo me marcou muito, porque, de fato, para que a gente lidere direito, a gente precisa estar bem. Outra vez, um amigo que era meu mentor viu que eu cheguei esbaforida em uma reunião e me disse que eu podia correr até a porta do escritório, mas precisava diminuir o ritmo e assumir uma postura a partir dali, porque, como líder, preciso mostrar que estou no controle. Além disso, por estar em uma posição elevada na empresa, ele me lembrou que está todo mundo prestando atenção em cada detalhe do que eu faço e, por isso, eu precisava assumir a liturgia do cargo.
Que conselho você daria para outras mulheres?
Essa é uma regra a se dar valor: acreditar no próprio potencial. Uma mentora uma vez me disse, após consultá-la sobre uma proposta de trabalho que eu havia recebido: “um homem na sua posição já teria pedido o dobro do salário. Se dê o valor, você é muito boa, pode exigir mais.” Também foi importante ter ouvido isso cedo. Sugiro também investir em duas habilidades ou qualidades que podem ser desenvolvidas e são fundamentais para se ter sucesso no mundo de amanhã: a curiosidade e a empatia. Ser curiosa leva a conhecer coisas além do nosso dia a dia. Não sabemos quando usaremos esse repertório, mas em algum momento será útil. E ser capaz de se colocar no lugar do outro é fundamental para um mundo cada vez mais conectado. Pena que as pessoas não têm usado essa ferramenta.
Hoje, qual uma grande barreira para a mulher no mercado de trabalho?
O desafio de querer ser uma boa mãe muitas vezes faz com que elas desistam da profissão. Algumas encaram a gravidez como uma barreira, mas eu tenho três filhos e eles nunca foram limitantes. Pelo contrário, fui promovida na Procter & Gamble logo após voltar da minha segunda gravidez. Acho que o fato de trabalhar em empresas que tinham essa agenda de diversidade me ajudou. Aqui na Natura, tentamos apoiar as nossas colaboradoras oferecendo licença-maternidade estendida, auxílio-creche e creche dentro da empresa. Pensamos na mulher que está retornando para que ela se sinta acolhida e tenha espaço para ampliar seu potencial.
Existe mais alguma ação dentro da Natura para dar apoio para as funcionárias?
Assinamos a carta da ONU Mulheres pelo empoderamento feminino. Temos o compromisso de equiparar a remuneração entre homens e mulheres. Também queremos atingir a meta de ter 50% de mulheres em níveis executivos mais altos. Atualmente, estamos em 31%. Outro ponto importante é ver a questão do entorno, como a relação dos funcionários com a paternidade, para ajudar a ampliar o empoderamento feminino sem que a família fique de lado, reforçando os novos papéis de homens e mulheres na sociedade.