De acordo com o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL), o número de ministros e ministras está equilibrado pela primeira vez na história deste país, já que Damares Alves (Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura) seriam equivalentes a 10 homens cada uma.
“Temos 22 ministérios. São 20 homens e 2 mulheres. Somente um pequeno detalhe: cada uma dessas mulheres que está aqui equivale por 10 homens. A garra dessas duas transmite energia para os demais”, disse ele em tom condescendente, nesta sexta-feira (08), em cerimônia em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, no Palácio do Planalto.
Ao lado da esposa Michelle, ele foi além e, no breve discurso (cerca de cinco minutos), ainda disse que nenhum homem seria capaz de fazer política séria caso não tenha ao lado dele uma “mulher com os mesmos princípios”.
“Está na bíblia que a mulher sábia edifica o lar. Nós vivemos um momento de inflexão no Brasil. A própria eleição minha diz isso. O que vejo de mais sagrado numa pátria é a unicidade familiar. Uma família unida, responsável, com princípios e valores edifica uma nação. Em grande parte, as famílias do nosso país são dessa natureza. E boa parte disso é graças à garra, à vontade, à determinação, à dedicação e à fé das mulheres. Vocês são quem conduzem o destino de uma nação”, afirmou. Sério?
Neste dia 8 de março, um dia de muita luta, as mulheres não querem chocolates, flores, palavras vazias ou cremes hidratantes ( esse foi o ~mimo~ oferecido às presentes no evento), elas querem o fim do machismo, da cultura do estupro, desejam liberdade sexual. Não, ELAS NÃO QUEREM MAIS SER MORTAS e esperam políticas públicas de igualdade salarial e de direitos entre os gêneros, preocupação que claramente não existe nesse governo, a começar pelo número de mulheres em cargos ministeriais, independente de qual matemática criativa ele utilize.
Aula básica de matemática
Porque, assim, o homem que afirmou ter uma filha fruto de uma fraquejada pode não ser lá muito amigo dos números, mas a gente vai dar uma ajudinha: duas mulheres não equivalem a 20 homens.
E é particularmente irresponsável tal declaração se analisarmos alguns outros dados. Em primeiro lugar, no Brasil, mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana devido à dupla jornada, como informou o Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
E elas continuam com uma remuneração menor! Em pesquisa, realizada em 2018 pelo site de empregos Catho, os dados mostram que mulheres ganham menos que os colegas do sexo oposto em todos os cargos, áreas de atuação e níveis de escolaridade pesquisados e a diferença salarial chega a quase 53%. Se a mulher for negra a situação ainda é pior! No ano passado, o Brasil caiu cinco colocações e recuou para a 95ª posição no Relatório Anual de Desigualdade Global de Gênero e manteve a disparidade de gênero no maior nível desde 2011 – são computados os resultados de 149 países.
E sabe o que não dá para entender? Bolsonaro sequer está alinhado com a opinião pública: 75% dos brasileiros consideram de grande ou extrema importância que gestores e legisladores desenvolvam políticas de promoção da igualdade entre mulheres e homens, como afirmou pesquisa do Ibope e da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres, publicada em 2017.
Então, Bolsonaro, quando o seu governo tiver 11 homens e 11 mulheres nos cargos ministeriais, aí, sim, você vai poder dizer que o número está equilibrado pela primeira vez nesse país. Combinado?