Em abril, o Ministério do Trabalho divulgou uma análise sobre aquilo que todas já sabemos: a participação dos homens em casa é pífia. Eles gastam 10,9 horas, menos que a metade das 25,3 horas despendidas pela mulher. O resultado é o stress para fazer caber em uma só pessoa a eficiência profissional e o suprassumo da competência no cuidado com os filhos. Stress esse que costuma vir abraçadinho à onipresente culpa. A psicóloga Maria José Tonelli, professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, diz que a tentativa de viver a performance de super-heroína nos dois terrenos é o que gera esse sentimento. “Há um grande descompasso entre o papel idealizado e aquele que, na prática, conseguimos desempenhar. Nossos limites precisam ser considerados”, afirma. A jornalista Joyce Moysés, coautora do livro Mulheres Modernas, Dilemas Modernos – E Como os Homens Podem Participar (de Verdade)” (Primavera Editorial), ressalta a cisão enfrentada. Quando está em casa com os filhos, a mãe continua conectada ao trabalho pelo WhatsApp e computador. No escritório, se sente em débito porque está longe das crianças e sem concentração. Muitas vezes, não produz nem interage como deveria em reuniões e atividades com colegas. O antídoto, para Joyce, é permanecer 100% no presente, colocando a atenção e o coração nos pequenos ao estar com eles e se dedicando ao ambiente corporativo na jornada que passa lá. Há muitas formas de equilibrar maternidade e profissão sem se colocar no fim da fila. Confira:
1. Construa uma rede de apoio
Divida as tarefas domésticas com o parceiro e observe o próprio comportamento. Muitas mães fazem tudo sozinha sob falsas justificativas, como: “Ele não impõe limites às crianças”; “Suja tudo na cozinha”; “Se não sou eu, a casa não anda”. A filósofa carioca Tania Zagury sugere dar pequenas funções também aos filhos, pedir ajuda a familiares e amigos e trocar experiências com outras mães.
2. Exercite o não
Em O Ponto de Equilíbrio (Sextante), lançado em março, a americana Christine Carter, socióloga da Universidade da Califórnia, propõe organizar a vida aprendendo a dizer “não”. Crie um filtro e submeta a ele, por exemplo, decisões de fazer um mestrado, inscrever o filho na natação e até aceitar convites para festas. Ela defende que nos neguemos a tudo que se distancie dos principais valores e prioridades.
3. Eleja a qualidade
“Valorize os momentos com os filhos e faça algo prazeroso com eles pelo menos uma vez por semana”, diz Rosaura Soligo, coordenadora do Instituto Abaporu, que forma educadores. Isso renova os laços e deixa a mãe tranquila. “O programa deve ser divertido, em parques, longe de tablets.” Em casa, também dá para praticar algo que marcará a família para sempre: “Ler para as crianças e com elas”.
4. Pare e reflita
“A grande questão da nossa era é a falta de tempo”, constata Rosaura. “Para conseguir leveza na vida contemporânea é fundamental refletir sobre como está lidando com a maternidade e a carreira para, assim, fazer ajustes que vão melhorar a dupla experiência.” Em seu livro, Joyce Moysés lembra que o labor é tão importante quanto criar os filhos. E ser autora de uma boa trajetória profissional é uma forma de cuidar deles. Um estudo divulgado pela Harvard Business School em 2015 mostrou que crianças de mães com uma carreira se tornam adultos independentes e com mais chances de conseguir os melhores empregos.
5. Organize a rotina
“Fuja dos improvisos e pense em uma logística levando em conta seu ritmo de trabalho, o bem-estar da criança e a dinâmica da cidade onde você mora”, aconselha Marcos Vono, coach e especialista em recursos humanos. Em grandes centros, compute o tempo gasto para deslocar-se e escolha estabelecimentos de ensino mais próximos de casa. Vono recomenda à mãe que viaja a trabalho deixar anotado com a pessoa que cuidará do filho informações de saúde, com quem ele pode sair e onde ir.
6. Flexibilize o tempo
Algumas empresas oferecem horários flexíveis, home office e creche. Se essa não é a sua realidade, avalie a sensibilidade da chefia e proponha o trabalho remoto em um dia da semana. Outra opção é empreender – 51% dos negócios no Brasil são abertos por mulheres. “Ao criar uma empresa, a mãe não trabalhará menos, mas será dona do tempo”, afirma Maria José Tonelli. “Entretanto, é preciso fazer cursos, estudar o mercado e traçar um plano de negócio factível”, diz. Preveja também pausas para você. Reúna-se com amigos, vá sozinha ao cinema e, em uma quebra de rotina, faça sexo com seu parceiro fora de casa. Enfim, busque prazer e recarregue as baterias.