Era um sábado de inverno na Alemanha quando os soldados do Exército Vermelho cruzaram os portões de Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945. Lá dentro, descobriram um horror que, escondido do mundo, dizimou mais de um milhão de vidas no curto período de quatro anos. Ou, ao menos, o que restara dele.
Desde 1944, sentindo-se ameaçados pelo avanço soviético, os alemães haviam começado a desmantelar o complexo, implodindo as câmaras de gás, transferindo prisioneiros e deixando para trás aqueles que eram fracos demais para marchar para outros campos. Foram justamente estes abandonados que os soldados vermelhos encontraram. Além dos sete mil sobreviventes, as tropas se depararam também com pilhas de roupas e toneladas de cabelo humano. Naquele momento, o que já era um dos conflitos mais sangrentos da história da humanidade ganhou uma nova face, ainda mais terrível.
Localizada no sul da Polônia, Auschwitz era uma instalação militar que foi apropriada pelos alemães durante a invasão às terras polonesas em 1939. No ano seguinte, se tornou uma prisão para presos políticos, detendo quaisquer opositores do regime nazista. Prisioneiros de outras regiões também eram enviados para morrer no campo, por meio de diferentes métodos de execução: fuzilamento, enforcamento, inanição e o envenenamento por gás.
Mas foi apenas a partir de 1942 que ela passou a receber um número cada vez maior de judeus, em um plano de extermínio conhecido como a “Solução final”. Transportados em trens que partiam de diversos países ocupados pelo exército nazista, os prisioneiros de origem judaica que chegavam ao campo de concentração eram, em sua maioria, enviados diretamente para as câmaras de gás, onde morriam ao inalar o tóxico Zyklon B e eram, posteriormente, incinerados em crematórios. Aqueles que escapavam da morte imediata, eram forçados a trabalhar na expansão do campo, iniciada ainda em 1941.
Com 40 campos e sub-campos, o complexo podia ser dividido em três ramificações: Auschwitz I, a construção principal onde ficava localizada a área administrativa; Auschwitz II-Birkenau, construído a mando de Heinrich Himmler – líder da Schutzstaffel e braço direito de Hitler –, o maior dos campos foi também o local onde morreram 90% das vítimas do extermínio; e Auschwitz III-Monowitz, criado com investimentos da indústria químico-farmacêutica IG Farben, e no qual os prisioneiros serviam de mão-de-obra na produção de borracha sintética.
Além de judeus, gays, ciganos, testemunhas de jeová e diferentes grupos étnicos também foram aprisionados nos campos. Mas o extermínio atingiu os primeiros em maior escala: dos estimados 1,1 milhão de mortos, quase 1 milhão eram judeus.
Após a liberação, comissões soviéticas e polonesas trataram de preservar as evidências dos crimes cometidos nos campos. Dois anos depois, parte dessas evidências foram usadas pelo Supremo Tribunal da Polônia nos julgamentos de Rudolf Höss, comandante de Auschwitz, e outros quarenta membros das tropas nazistas. Duas décadas depois, em 1963, mais vinte e dois ex-funcionários do campo foram julgados como cúmplices ou por participação ativa nos homicídios.
75 anos se passaram desde então, mas a luta para manter viva a memória do Holocausto segue em toda sua força. Em tempos em que o discurso fascista retorna aos palanques políticos e que campos de detenção voltam a separar famílias, não esquecer Auschwitz é mais que necessário.