Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Super Black Friday: Assine a partir de 3,99

PL 1904 ameaça crianças e mulheres vítimas de estupro. Entenda

Conversamos com Izabella Borges e Debora Diniz sobre o possível impacto do projeto ao aborto legal no Brasil

Por Lorraine Moreira
Atualizado em 16 jun 2024, 12h00 - Publicado em 14 jun 2024, 18h36
PL 1940 afeta mulheres e crianças vítimas de estupro
Manifestantes vão às ruas contra PL que equipara aborto com crime de homicídio (Paulo Pinto/Agência Brasil)
Continua após publicidade

Maria tem 18 anos, foi estuprada e interrompeu a gravidez resultante da violência após a 22ª semana. Ela foi condenada a 20 anos de prisão, enquanto seu agressor ficou entre 6 e 10 anos preso. Essa história não é real, mas pode acontecer caso o PL 1904, que tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados, seja aprovado.

O projeto de lei 1904, do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), equipara o aborto após 22 semanas ao crime de homicídio simples, do artigo 121 do Código Penal, com pena de 6 a 20 anos. 

Por outro lado, a pena prevista para estupro no Brasil é de 6 a 10 anos caso a vítima seja adulta. Apenas se o crime for praticado contra vulnerável, quando a pessoa tem menos de 14 anos ou é incapaz de oferecer resistência, e resultar em lesão corporal grave, que a prisão pode chegar a 20 anos.

Especialistas em direito das mulheres afirmam que o projeto seria inconstitucional, pois afeta a dignidade da pessoa humana e os direitos e garantias individuais.

“A criminalização do aborto decorrente de estupro viola a autonomia da mulher e, portanto, a sua dignidade humana, o seu direito à integridade física e psíquica, seus direitos sexuais e reprodutivos, além da igualdade de gênero”, diz a advogada Izabella Borges, especializada em violência doméstica e CEO do Instituto Survivor.

Projeto de Lei 1904 afeta principalmente as crianças e pessoas em situação de vulnerabilidade

O número estimado de casos de estupro no país por ano é de 822 mil, o equivalente a dois por minuto, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em 2023, e as principais vítimas são as crianças.

Continua após a publicidade

Cerca de 61,4% das pessoas que sofrem o estupro no Brasil têm de 0 a 13 anos, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Entre seus agressores, 86,1% são conhecidos e 64,4%, familiares.

A proposição impactaria principalmente esse grupo, pois a descoberta da gravidez em crianças geralmente acontece em estágios intermediários da gestação, segundo a antropóloga Debora Diniz, uma das principais pesquisadoras sobre aborto no Brasil.

“Essas vítimas são mais afetadas, porque é apenas quando o corpo começa a se transformar que normalmente descobrem a gravidez.”

Ainda podem ser impactados outros casos em que o aborto é autorizado, como risco à vida da mãe e a anencefalia fetal. “A mulher pode ser obrigada a morrer ou a ser penalizada por realizar o procedimento no segundo semestre”, pontua Deborah.

Continua após a publicidade

Outro ponto é que a proposta também ignora a vulnerabilidade social de pessoas que, por falta de instrução, muitas vezes não conseguem descobrir a gravidez antes das 22 semanas ou acessar instrumentos que possibilitem que seus direitos sejam assegurados nesse tempo, de acordo com Izabella.

Meninas e mulheres negras, pobres, com baixa escolaridade, que não têm condições financeiras, são atingidas de forma mais incisiva. Elas possuem mais dificuldade ao acesso à informação e enfrentam a morosidade na concessão do direito ao procedimento, acabando por interromper a gestação em fases já mais avançadas. Agora, podem ser alvo do sistema punitivo e apenadas como se homicidas fossem. É um Projeto que, acima de tudo, revitimiza meninas e mulheres.”

PL 1904 serviria como arma política e seria a materialização jurídica contra mulheres, segundo Debora Diniz

A política brasileira faz ciclos de uso político da questão do aborto para movimentar pautas, forças políticas, resitências e oposição”, defende Debora.

Nesse momento, seria uma manobra do congresso nacional para testar a lealdade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à bancada evangélica, diz a especialista. 

Continua após a publicidade

Sóstenes Cavalcante, autor do projeto, afirmou ao blog da Andréia Sadi que pretende “testar” o presidente Lula e seu comprometimento com os evangélicos com o PL 1904.

“O presidente mandou uma carta aos evangélicos na campanha dizendo ser contra o aborto. Queremos ver se ele vai vetar [o projeto]. Vamos testar Lula”, afirmou.

Também seria uma reação contra a decisão de Alexandre de Moraes de suspender a medida do Conselho Federal de Medicina (CFM), que dificultava o acesso ao aborto legal por pessoas vítimas de estupro, acrescenta Deborah.

“Não é a questão da moral da sociedade brasileira em relação ao aborto que está sendo colocada, mas sim o seu uso como um instrumento político que movimenta hoje a extrema direita. É a materialização jurídica do ódio, como diz o ministro Silvio Almeida”, finaliza Deborah.

Continua após a publicidade

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$47,88, equivalente a R$3,99/mês.