Você já gastou demais à noite? Pode ser “procrastinação noturna de vingança”
Para se vingar de um dia cheio de obrigações, mulheres cometem gastos virtuais, comprometem as finanças pessoais e sofrem com o arrependimento

Quando cai a noite e a casa finalmente silencia, o corredor vira um lugar seguro para andar descalça sem tropeçar em brinquedos. É tarde, um território meio bruxo, onde mães cansadas redescobrem que ainda têm vontades — mesmo que sejam um tanto questionáveis.
O que é a “procrastinação noturna de vingança”?
É nesse espaço que habita o tal do revenge bedtime procrastination (em tradução livre, procrastinação noturna de vingança). Um nome complicado para um fenômeno tão simples: gente que adia o sono como forma de se vingar contra o próprio dia extenuante.
Uma atitude contra o excesso de tarefas e cuidados, a falta de pausas, o sumiço da individualidade. Para muitas mulheres, o único tempo que sobra é justamente aquele em que o corpo implora para dormir. Ele pede cama, mas a mente pede liberdade.
O celular como cúmplice da “vingança noturna”
Esse termo se popularizou especialmente entre usuários de redes sociais, quando eles compartilham seus hábitos de procrastinação. A expressão começou a ser associada à prática de assistir a séries, rolar o feed sem objetivo, jogar e até fazer compras online no período noturno.
Na brecha entre o cansaço e o silêncio, é comum abrir o celular “só pra dar uma olhadinha”. Já sabe onde isso vai parar, né? Algoritmos nos tratam como amigas íntimas: sabem que ontem estávamos apaixonadas por decoração do Vale do Jequitinhonha e hoje estamos obcecadas por pijamas de flanela. Eles nos conhecem melhor do que nós mesmas — ou pior, conhecem nossas versões insones, mais impulsivas, mais vulneráveis.
O custo das compras impulsivas na madrugada
Foi nessas noites que comprei, duas vezes “sem querer”, capas para almofadas. Isso mesmo: dois pedidos em dias diferentes, o segundo sem me lembrar do primeiro. Uma com estampa romântica floral, outra apenas azul petróleo. Eram para as mesmas almofadas da sala, as que resistiram.
As duas opções pareciam perfeitas — até que chegaram. E então percebi que não cabiam em lugar nenhum. Nem no sofá, nem no estilo da casa, nem na minha paciência para lidar com uma devolução que exige nota fiscal impressa e fila no correio. Fiquei com oito capas inúteis, o cartão de crédito ferido e uma sensação conhecida: a do arrependimento do dia seguinte, uma ressaca de consumo.
Comecei a conversar com outras mulheres e percebi que eu não estava sozinha. Algumas compraram lingeries caríssimas que nunca usaram. Outras, kits de autocuidado que ficaram esquecidos no armário, junto com a promessa de que “na semana que vem, me cuido melhor”. Não é só sobre comprar errado, é sobre tentar preencher algum vazio.
À noite, quando tudo dorme, é quando a falta aparece com mais nitidez. Falta de tempo, de espaço próprio, de decisões que sejam só nossas. E o clique no botão de “comprar agora” na palma da mão parece uma forma de afirmar essa autonomia. Uma forma de dizer: eu ainda tenho o poder de decidir alguma coisa.
Madrugada: o último reduto da mulher inteira
Essa liberdade, entretanto, tem custo. Além do dinheiro (que já dói), custa horas de sono, energia no dia seguinte, foco e humor. E é cruel porque, no fundo, estávamos apenas tentando existir fora dos papéis — da mãe, da profissional, da parceira, da filha.
A madrugada virou o último reduto da mulher inteira. Sem demonizar os caprichos noturnos, talvez seja hora de reivindicar desejos de outra forma. Reencontrar tempo de dia, transformar o impulso em pausa, organizar e seguir o orçamento e os planos. Mexer na vida, enfim.
Hoje, as capas estão guardadas na gaveta, são um lembrete: às vezes, o que a gente realmente quer comprar é só um pouco de si mesma de volta. E isso não está à venda em nenhum site. Acreditem, eu procurei.
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