“Deixa eu te contar! Você acredita? Menina!”. Essas três expressões mais parecem no início de uma fofoca, das mais leves a um grande bafo. Quando as escuto, vou logo dando mais atenção, seja pela curiosidade ou pela expectativa de escuta que depositaram em mim.
Até alguns anos atrás, esse vínculo se consolidava, normalmente, em torno de uma roda de amigas, em encontros presenciais. Depois, ele foi transportado para fóruns online, grupos de WhatsApp e canais de Instagram. Muitos se tornaram comunidades engajadas.
Agora, olha que curioso! A afinidade que reúne mulheres virtualmente está fomentando eventos para tratar de assuntos comuns, e o dinheiro é um deles. Na sala de casa, em um auditório ou até mesmo em retiros em pousadas bucólicas, elas estão tratando de temas como organização pessoal, planejamento financeiro e previdenciário, investimentos, mercado de ações, criptomoedas e outros.
Podemos dizer que, nos últimos anos, surgiu um movimento forte de inclusão e empoderamento financeiro das mulheres. Temos como exemplos, entre tantos, o Women Invest, As Investidoras, Sócia do Meu Dinheiro, Mulheres do Mercado, Clube das Rycas e Finanças Femininas. As iniciativas oferecem conteúdos, cursos, workshops e apoio mútuo para que as mulheres se sintam mais seguras ao lidar com o universo financeiro.
O número de CPFs cadastrados na Bolsa de Valores brasileira (B3) cresce ano após ano. Desde 2014, o número total de investidores saiu de 564 mil para cerca de 6 milhões em 2024.
A última década, contudo, trouxe poucas mudanças em relação à participação feminina: mulheres continuam sendo apenas 24% do todo, ainda que o número de investidoras tenha saltado de 137 mil para 1,4 milhão nesse período.
Portanto, vale atualizar o estereótipo de diálogos femininos nessas rodas (contém ironia, é preciso dizer). “Deixa eu te contar, fiquei sabendo que o Banco Central está preocupado com a onda mundial de corte de juros!”.
“Você acredita que a declaração machista daquele CEO fez cair as ações da empresa? Por outro lado, aquele lá que anunciou aposentadoria fez as ações subirem?”. “Menina! Você viu o desempenho dos Fundos Imobiliários no último mês? Tem que ficar de olho.”
“E o gato do Murilo Benício fazendo propaganda para outra corretora? E a Giovanna Antonelli que estava na B3 outro dia! Ela é uma inspiração como empresária, né?!” “Infidelidade financeira Nem todo homem, mas sempre um homem, aff.”
Sim, há pesquisas que apontam os benefícios de estudar ou viver em comunidade. A troca de informações e diversidade de perspectivas facilita uma compreensão mais profunda dos temas e ajuda a desenvolver o pensamento crítico.
A evolução pessoal, impulsionada pela interação, gera uma sensação de pertencimento, o que pode levar a mais segurança na execução das ações. Outro dia me deparei com o conceito “Neo-Tribal”, que indica que o mundo estaria recuperando uma dimensão tribal de fazer as coisas em conjunto, de dividir o cuidado. Curti. E os algoritmos me flagraram.
Nos últimos tempos, diariamente, chegam a mim conteúdos sobre moradia compartilhada na terceira idade, repúblicas na vida adulta, vilas no interior, cohousing no mato e na praia.
Bom, melhor pensar junto sobre tudo isso!
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