A regra é clara: cabelos longos, unhas pintadas, maquiagem em dia e depilação feita. Assim, você alcança o imaginário sobre o que é ser mulher. Não esqueça das roupas que “valorizam” o corpo e da personalidade doce. Quem não se encaixa nesse modelo, entretanto, pode sofrer e ver seu relacionamento prejudicado. Paralelamente, o estereótipo “loira e burra” aparece para quem investe nos elementos ditos femininos.
A feminilidade é uma construção social para determinar o que caracteriza a mulher, segundo a psicóloga Ana Paula Torres. “Exatamente por isso, diferentes culturas apresentam diferentes ideias sobre gênero e suas funções.” Na visão da especialista, o problema aparece por ser uma imposição: “elas sentem a obrigação de seguir esse padrão, inclusive para serem validadas socialmente”.
Mas de onde vem esta dinâmica? Em Segundo Sexo, Simone Beauvoir explica que a feminilidade foi criada para homens ocuparem posições de poder. De acordo com a pensadora, a humanidade não vive apenas pela sobrevivência da espécie, mas também pelo desejo de transformar o mundo. Quando há uma separação das tarefas, com as mais respeitadas sendo encarregadas aos homens, como inventar ferramentas, caçar e criar estratégias de sobrevivência, a chance deles receberem êxito é maior.
“Foram os homens, desejosos de manter as prerrogativas masculinas, que inventaram essa divisão”, diz ela. Anos mais tarde, diversos fatores levaram essa situação adiante, entre eles a moda: flores, tons de rosa e vestidos são coisas de menina; azul, calça e camisa são para os homens.
A binaridade no mundo fashion como conhecemos hoje tem seu início marcado no século 18. O homem se estabelece como responsável pelo trabalho nos espaços urbanos e precisa de um visual mais sóbrio para transmitir uma vida pautada na lógica, antes disso usava roupas ornamentadas, inclusive vestidos, para demonstrar sua riqueza. Na época, as mulheres passaram a se arrumar mais, como símbolo de status dos homens.
No cinema, a representação feminina também perpassa por estereótipos, principalmente quando falamos de mulheres ultra femininas. Geralmente, as personagens ficam divididas nestes modelos: demoníaca decidida a arruinar a vida dos homens, como em Garota Infernal (2009); a garota má e egoísta que só pensa em si mesmo, como Regina George; e a desprovida de qualquer inteligência, como os papéis de Marilyn Monroe na maioria de seus filmes.
Longe das telas, hoje é possível ver centenas de vídeos nas redes sociais influenciando que as mulheres tenham comportamentos femininos para receber destaque dos homens e serem mais felizes, tudo baseado na lógica de energias feminina e masculina. Porém, impactos na autoestima e nas relações são observados por mulheres que não conseguem se encontrar em meio a todo esse contexto confuso sobre o que é ser mulher, de acordo com a psicóloga. “A mulher não precisa ser nada além do que ela quer.“
O impacto da hiperfeminilidade para as mulheres
“A ideia de existir um padrão certo para o comportamento das mulheres pode gerar sofrimento”, afirma a psicóloga de mulheres Juliana Ros, que completa: “As relações heterossexuais são baseadas na escolha dos homens, enquanto as mulheres são escolhidas. É nessa lógica que elas passam a se moldar por inteiras, numa busca exaustiva dos padrões, que evitam a sensação indesejada de rejeição.” O resultado costuma ser o adoecimento psíquico.
Impactos no relacionamento
Os relacionamentos ainda exercem uma função muito grande na autoestima das mulheres, mas a verdade é que eles não devem minar a confiança de ninguém. A solução para se afastar dessa realidade, segundo Juliana, é buscar segurança e confiança em si mesmo, assim você garante mais saúde à você e ao casal do qual faz parte.
Outro ponto é refletir sobre a sociedade: “Tanto mulheres quanto homens devem discutir o que nos foi ensinado sobre relacionamentos ao longo de nossas vidas, o que estamos procurando e se essa busca tem sido saudável, para os dois lados”, finaliza.